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Em 1974 foi para a Guiné fazer a “liquidatária”. Tinha
           chegado a sua vez, tinha de partir. E ele partiu, para servir
           o Exército. Era justo.
              Em Novembro de 1975, ficou como Major a comandar
           a Escola Prática de Administração Militar. Viviam-se tem-
           pos muito conturbados e ele continuava a ser um Oficial
           desembaraçado, ex aluno dos Pupilos... tinha que ir. E ele
           foi. Pagava mais um pouco da sua dívida ao Exército e ao
           País. Era justo.
              Em minha casa sempre gostámos de Aritmética e de
           boas contas. Uma questão de Justiça.
              Em 1977, ingressei na Academia Militar. Era um tri-
           buto que prestava ao meu pai e era uma forma de pagar
           ao Exército o que nos tinha proporcionado. Tinha e tenho
           orgulho nisso. Servir o Estado.
              A minha vida militar foi mais fácil. Em parte, atribuo à
           Dívida ao Estado estar mais reduzida. Mas ainda lá estava.
              Depois de uma carreira de 30 anos fui colocado nos
           Pupilos. Era preciso acabar com aquela dívida que vinha
           de 1944.
              Já  lá  vão  quatro  anos,  excelentes  diga-se.  É  preciso
           garantir que outros, com mérito independentemente do
           Apelido,  tenham  a  oportunidade  de  se  promoverem  ou
           de corrigirem algum percurso menos conseguido. É justo.
              Acredito que a dívida ao IPE e ao Estado está quase
           paga. Pelas minhas contas não deve faltar muito.
              As comissões do meu avô, as comissões do meu pai e
           o tempo que passei nas fileiras, incluindo estes 4 anos de
           Pupilos...  deve  ser  suficiente,  apesar  de  as  contas  que
           agora se fazem, serem diferentes.
              Da dívida e destas contas da vida, fica-me a dúvida:
           como se faz o balanço? O meu pai faz-me falta... para me
           explicar, como só ele sabia, simplificando as coisas com-
           plicadas.
              Como ele me faz falta... Gostava de lhe falar sobre o seu
           Pilão, o sucesso dos netos e sossegá-lo: a dívida está quase
           paga. Os netos também começaram a contribuir: a forma
           carinhosa como falam dos Pupilos, o respeito que têm ao
           Exército, a forma como vão cumprindo a sua cidadania, o
           amor ao seu País como o Avô lhes ensinou... Está quase.
              Mas o meu pai faz-me falta... para acabar aquela ex-
           plicação  dos  “ratios”,  que  eram  muitas  vezes  utilizados
           para fracos servirem o Poder, não necessariamente o Es-
           tado.  Para  me  voltar  a  explicar  que  para  se  multiplicar,
           primeiro tinha que se dividir, como o Capelão lhe tinha
           ensinado, no Milagre dos Peixes.
              Para me voltar a ensinar que o monolitismo estiola e
           a diversidade enriquece e multiplica.
              O meu pai faz-me falta... para me voltar a dizer que
           os balanços são mais importantes do que as análises. Que
           as Instituições não são avaliadas pelo custo de hoje mas
           pelo retorno que o País colhe ao longo de várias gerações.
              O meu pai faz-me falta... para me confirmar que a dí-
           vida está quase paga. Que não vai sobrar para os meus filhos.

                  João Miranda Soares | Filho do ex-aluno Carlos
                       Albuquerque Lourenço Soares (19440185)


                                                                             Boletim da Associação dos Pupilos do Exército  |  15
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