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cultura e coNhecimeNto
JoSé PereirA
19510211
o califado Abássida com a capital em Bagdad
om o agravamento da situação em Damasco, o Ca- Foi Mansur (754-775), o segundo Califa Abássida e,
Clifa Omíada foi derrotado no ano de 750 e os Abás- em muitos sentidos, o fundador do novo regime, quem
sidas tomaram o poder, sendo proclamado califa, com o estabeleceu a base permanente da capital abássida numa
título de Saffâh, Abul-Abbas, que sucedera a seu irmão cidade nova, na margem ocidental do rio Tibre, próxima
Ibrahim na chefia do partido. das ruínas da antiga capital sassânida de Ctesifonde, cujas
A substituição dos Omíadas pelos Abássidas na chefia pedras foram utilizadas na edificação da nova cidade. A
da comunidade islâmica, segundo Bernard Lewis, consti- sua designação oficial era Madinat as-Salâm, a cidade da
tuiu algo mais do que uma simples mudança de dinastia. paz, mas é normalmente mais conhecida pelo nome da
Foi uma revolução na história do Islão, e foi sangrenta. aldeia persa anteriormente aí existente: Bagdad.
Uma das primeiras medidas tomadas pelos Abássidas Os efeitos desta mudança foram consideráveis. O
vitoriosos foi o aniquilamento da ala extremista do mo- centro de gravidade deslocara-se da província mediterrâ-
vimento que os tinha levado ao poder. Abu Muslim, nica da Síria para a Mesopotâmia, um vale irrigado e rico,
principal arquitecto da revolução, e muitos dos seus que estava na intersecção de muitas rotas comerciais.
companheiros, foram executados e foi esmagado um Simboliza também a passagem de um estado de influên-
amotinamento dos seus partidários. cia Bizantina para um Império do Médio Oriente.
Mas qual a natureza desta revolução? Alguns orienta- A mudança de dinastia permitiu concluir um proces-
listas europeus do século XIX, iludidos pelas teorias raciais so de desenvolvimento na organização do Estado que
de Gobineau e outros, explicavam o conflito entre Omía- havia sido iniciado já na época dos Omíadas. Do Sheikh
das e Abássidas, assim como todo o cisma religioso do tribal que governava com o acordo relutante da casta
Islão em termos de um conflito racial entre o semitismo árabe dominante, passava-se ao Califa autocrata procla-
da Arábia e o arianismo da Pérsia. Consideravam a vitória mando a origem divina da sua autoridade.
dos Abássidas como uma vitória dos Persas sobre os Árabes. A nova dignidade do Califa traduziu-se em novos
Investigações recentes vieram demonstrar que, muito títulos. Já não era o representante do Profeta de Deus,
embora os antagonismos raciais tenham desempenhado mas muito simplesmente o representante de Deus, de
o seu papel na agitação que levou ao desmembramento quem recebia directamente a sua autoridade.
dos Omíadas, não constituíram as principais forças mo- Apresento a seguir um breve resumo de acontecimen-
trizes da revolução, e os vencedores, conquanto incluíssem tos importantes dos séculos seguintes:
um grande número de Persas, não alcançaram a sua vitó-
ria como Persas, nem subjugaram os seus inimigos como
Árabes. As forças revolucionárias contavam com nume-
rosos Árabes, particularmente das tribos do Sul, mesmo
integrados na aristocracia dos conquistadores.
É na insatisfação socioeconómica da população urba-
na menos favorecida, designadamente dos mercadores e
artesãos mawali que proliferavam nas praças-fortes fun-
dadas pelos Árabes, que a força impulsionadora da revo-
lução deve ser procurada. O fim das guerras de conquis-
ta, única actividade produtora da aristocracia árabe,
classe dominante do reino Omíada, veio tornar esta clas-
se historicamente redundante.
O primeiro Califa Abássida, Saffah (750-754), esta-
beleceu a sua capital na pequena cidade de Hashimiya,
que edificou na margem leste do rio Eufrates, próximo
de Kufa. Depois transferiu-a para Anbar.
Boletim da associação dos PuPilos do exército 23