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cultura e coNhecimeNto

Ilustrações 3, 4 e 5 – O mutilado Cristo das Trinchei-
ras em Neuve-Chapelle e, desde 1958, protegendo
o túmulo do Soldado Desconhecido, na Sala do
Capítulo do Mosteiro da Batalha.

na de génese, espraiada em tantos domínios que não Assim quiseram a França e o Governo de Salazar home-
apenas o religioso, desmoronar-se-ia sobre ela mesma. nagear todos os militares portugueses que combateram na
Portugal era muito mais do que apenas uma jovem Repú- I Guerra Mundial.
blica. De facto, só na cabeça de alguns sábios é que era E, ainda hoje, o Cristo das Trincheiras lá está, junto a
possível apagar, por Decreto, vários séculos de tradições e esse túmulo que guarda os corpos de dois soldados desco-
de costumes enraizados num Povo. nhecidos (um proveniente da Flandres e outro da África
A imagem do Cristo das Trincheiras transmite-nos, como Portuguesa) concedendo a sua protecção não apenas a
nenhuma outra, o sentimento do Soldado Português que esses dois militares mortos em combate, mas a todos os
combatia na Flandres. O Cristo das trincheiras simboliza a bravos Soldados Portugueses que partiram deste mundo
fé que manteve os militares portugueses naquele esforço no cumprimento do dever e cuja memória nunca deverá
incomensurável, entregues aos destino incerto, praticamen- ser esquecida.
te sem licenças, escassamente abastecidos, deficientemen-
te equipados e sentindo-se completamente abandonados
por quem os mandou combater por algo que a maioria Bibliografia:
deles não entendia. Apesar de incessantemente atingida
por projéteis, mutilada, sem uma mão e sem pés, aquela FERREIRA, Ambrósio (2005). O Padre Lacerda. O Reitor
antiga imagem do Calvário continuava erguida sobre um dos Milagres. 1881-1971, Leiria, Folheto Edições &
devastado campo de ruínas que outrora havia sido uma Design
aldeia. Foi então que os Soldados Portugueses a recolheram, SAMPAIO, Guilherme (2010). “Religião, República e
protegendo-a nas suas trincheiras, aspirando a uma pro- Guerra” in AAVV. Agência Ecclesia, Edição Especial 5
tecção divina para aquele inferno bélico. Seria mais tarde, de Outubro de 2010, N.º 1258, Lisboa, Secretariado
no ano de 1957, que o Governo de Portugal pediria à Nacional das Comunicações Sociais, 2010
França que lhe fosse entregue aquela estátua mutilada, SOUSA, João Tiago (2006). O Cónego José Ferreira de
aquele Cristo das Trincheiras. E em 1958, por ocasião do Lacerda: A assistência religiosa na Flandres, Leiria, Fo-
quadragésimo aniversário da Batalha de La Lys, o Cristo lheto Edições & Design
de das Trincheiras foi transferido para Portugal, sendo
desde essa data venerado na Sala do Capítulo do Mostei- Site oficial do Mosteiro da Batalha: www.mosteirodaba-
ro da Batalha, junto ao Túmulo do Soldado desconhecido. talha.pt/pt/índex.php

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