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cróNicas

JAciNTo rego De ALmeiDA
19520049
do grupo terrorista alemão Exército Vermelho (fundado
por Ulrike Meinhof).
inverno…Verão antes se referiu à luminosidade do céu.
– Que idade tem ela? – perguntou a convidada que

– Tem mais de cinquenta e menos de sessenta, mas já
estava há alguns anos em regime de semi-liberdade – res-
pondeu o convidado que anunciara a sua libertação.
Inverno é uma boa estação para ficarmos mais em
O casa e aproveitar para ler e escrever com mais sos- E após uma pausa, discorreu sobre este ano da desgra-
sego. Mas nos dias especialmente frios e nublados lem- ça de 2011 da União Europeia em que milícias de extre-
bramos o Verão. O verão que nos transporta para uma ma-direita afectas ao partido xenófobo radical húngaro, o
atmosfera de regozijo, excitação, arrumamos a roupa de Jobbik, atacam impunemente comunidades ciganas ao
inverno, somos tentados por excessos, aumentam os as- mesmo tempo que o presidente do Conselho Europeu
saltos, este ano algumas centenas de ciclistas tentaram teve palavras de apreço em relação ao primeiro-ministro
atravessar Lisboa nus para incentivar o uso de transporte Viktor Órban.
limpo, surgem os incêndios e os bombeiros aparecem nas – Um escândalo – disse eu, fiz uma pausa e perguntei:
notícias com mais frequência, faz-se dieta e claro que as “Não querem mais vinho?”.
praias ficam cheias, “Vais a banhos, aonde?”. O nosso dia- Fui buscar uma garrafa. A caminho da mesa da sala,
-a-dia sempre com as presenças ocultas de Eça de Quei- um convidado no meio de um grupo contava uma ane-
roz e Fernando Pessoa, enriquece com cores da América dota que evocava a mentira na política nos tempos que
Latina, “fui passar uns dias a Cancun (ou em Fortaleza) correm: dois pescadores conversam e um deles diz que
”… incêndios e assaltos que aumentam nesta época do nesse dia pescara uma truta com onze quilos setecentos
ano evocam Gabriel García Márquez ou, talvez melhor, e setenta e oito gramas e o outro uma bicicleta com a luz
Vargas Llosa, claro, ao lado de Eça e Pessoa. acesa. Após cinco minutos de conversa, o da bicicleta
Recordo a casa onde estive,tem uma grande sala que pediu ao outro que tirasse cinco quilos da truta que ele
dá para um jardim, com piscina, baliza para os netos da apagaria a luz da bicicleta. Quando voltava com a garra-
minha amiga Leonor Xavier ensaiarem passes de futebol, fa de vinho percebi que dez minutos depois, ambos os
uma tarde que nunca mais acabava no coração do Riba- pescadores confessaram que não tinham ido à pesca na-
tejo: quele dia. Estavam a mentir. Todos se riram. Foi então
– Hoje é o dia mais longo do ano. anunciado que o jantar seria sopa de peixe feita por uma
– Que esplêndida luminosidade. senhora chamada Luísa. E todos disseram em coro: “Ai
Falou-se do solstício do verão, uma data importante que bom”.
na Roma antiga, escolhida pela igreja católica para vene- Às tantas, apareceu um senhor forte com mais de
ração de São João, parente de Jesus Cristo, que terá afir- setenta anos, nada na aparência o distinguia dos outros
mado, “endireitai os caminhos do Senhor”. convidados, mas senti no ar um certo “frisson”.
– Parente de Cristo? – indaguei. – Quem é? – perguntei.
– Sim, um parente afastado, creio. – O Carlos Antunes e está aí a Isabel do Carmo.
– O dia está bonito e isso é que importa – disse a – Ninguém mais sabe o nome dos ministros da mari-
mulher de um convidado e fez um gesto tão sereno em nha ou do exército ou da Agricultura dos governos de
direcção ao céu que nos congelou a todos que a ouviam. Salazar, Marcelo Caetano ou dos primeiros governos pós
E então, reparei na Isabel do Carmo sentada a conver- 25 de Abril, a não ser uma ou outra excepção, secretários
sar com outras convidadas. Só a conhecia através de en- de estado então nem pensar, só são importantes no dia
trevistas na imprensa e admiro a sua coragem, sincerida- em que tomam posse, mas o Carlos Antunes, a Isabel do
de e trajectória de vida. Depois falou-se do tempo da Carmo e o PRP toda a gente neste país com mais de
ditadura, um convidado disse alguma coisa sobre “a rela- cinquenta anos, digamos cinquenta e cinco, sabe quem
ção entre o poder político absoluto e a conquista da são e tem por eles, pelo seu passado, mais ou menos
eternidade”, creio que citava Ramsés II, mas não tenho a admiração – disse eu.
certeza, “o vinho branco está bom, está fresquinho”, disse – É verdade – confirmaram em coro os convidados à
uma senhora e a dado momento não sei porque cargas volta. E aproximei-me do Carlos Antunes para conversar,
d`água alguém disse que ia ser libertada ou já tinha sido para matar a curiosidade que subitamente se apossou de
(não me recordo bem) a Birgit Hogefeld, última detida (continua na página 30) 

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