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CuLTuRA E CONhECImENTO
O fim do Mundo
ALEXANDRE CORREIA
Professor Univ. Aveiro
proximou-se (mais) um final do Mundo. Desta vez combustível existente no núcleo do Sol e este vai começar
Aestava agendado para o dia 21 de Dezembro de 2012 a expandir-se. Ao aumentar de tamanho, os planetas mais
e baseava-se numa “profecia” do antigo povo Maia. Na próximos serão por si engolidos, entre eles provavelmen-
realidade parece que os Maias nada anteviram, acontece te a Terra. Mesmo que o nosso planeta não seja devorado,
apenas que no calendário deles, na data em causa, ocorre a temperatura vai subir para milhares de graus, esterili-
o final de um ciclo de 5125 anos. Há quem goste de in- zando por completo a vida.
terpretar a mudança de calendário como a entrada numa O cenário anterior é o mais conhecido e dramático,
nova era para a humanidade (que até pode ser positiva), mas não é o único capaz de pôr fim à vida no nosso pla-
há quem goste de a interpretar como cataclismos. Recor- neta. Outra possibilidade é a colisão da Terra com um dos
dam-se do ano 2000? Também correspondia apenas a um seus planetas vizinhos, Mercúrio, Vénus ou Marte. Ao
final de ciclo no nosso calendário, mas várias previsões do contrário do que geralmente se pensa, o Sistema Solar não
fim do Mundo foram igualmente agendadas é totalmente estável. Existe uma probabilidade
na época... de cerca de 1% dos planetas interiores
Como os Maias nada escreveram entrarem em colisão entre si antes de
sobre o que ocorria no final do ciclo se iniciar a expansão do Sol. Mas
de 5125 anos (provavelmente tranquilizem-se o mais nervosos,
porque eles nada esperavam que pois, além desta probabilidade
acontecesse), os profetas do ser baixa, tal só pode ocorrer
apocalipse deram largas à sua dentro de 3 mil milhões de
imaginação. Aumento da ra- anos.
diação emitida pelo o Sol, Uma possibilidade mais
inversão do eixo magnético próxima é a modificação
da Terra, modificação do eixo drástica do eixo da Terra que
de rotação da Terra, colisão só está estabilizado em cerca
com um planeta desconhecido de 23 graus graças à presença
chamado “Nibiru”, colisão com da Lua. No entanto, o nosso
um asteróide, ou alinhamento de satélite afasta-se lentamente da
todos os planetas do Sistema Solar, Terra, cerca de 4 cm por ano. Dentro
encontram-se entre os cenários favoritos. de 1,5 mil milhões de anos, a Lua estará
Para os menos informados, convém desde muito mais longe (deixará de haver eclipses
já esclarecer que todos estes cenários já ocorreram totais do Sol) e a sua gravidade deixará de conseguir
várias vezes no passado da Terra e o nosso planeta sobre- estabilizar o eixo. Nessa altura, a gravidade dos outros
viveu. De todos eles, só a colisão com outro corpo poderia planetas vai ser capaz de modificar a inclinação do eixo
pôr realmente em risco a vida na Terra, no entanto, se este da Terra entre 0 e 80 graus, em apenas alguns milhões de
cenário fosse real saber-se-ia com muita antecedência que anos, o que terá consequências dramáticas para o clima
a Terra estaria em rota de colisão. Assim, tranquilizem-se na Terra e para a vida.
as mentes mais apocalípticas, pois nos tempos mais próxi- De qualquer forma, todos estes cenários são longínquos.
mos, é mais provável que uma crise económica destrua a Convém lembrar que a espécie humana actual (homo
civilização actual do que um fenómeno astronómico! sapiens sapiens) tem menos de 200 mil anos e que a evo-
E o que pode realmente dizer a ciência actual acerca lução a partir dos nossos primos macacos menos de 10
do fim do nosso planeta? Sabemos que o Sol tem uma milhões. Esperemos por isso que até lá a humanidade
idade de cerca de 5 mil milhões de anos e que está sen- consiga entender-se, que não se autodestrua, e que consi-
sivelmente a meio da sua longa existência. No entanto, ga desenvolver novas tecnologias que lhe permita emigrar
daqui por outros 5 mil milhões de anos esgotar-se-á o para outros planetas em torno de outras estrelas!
16 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército