Page 17 - Boletim APE_223
P. 17

evocações




           ANTóNio riBeiro DA SiLVA
           19600093
                                  caravana da Amizade – Jul./Ago. 1968


                                        Quando a opinião sincera constitui delito de opinião





              ois é, o tempo passa depressa e 42 anos já se esfuma-  lhosamente  servidos”.  Quem  tiver  curiosidade  de  ler  o
           Pram sobre a viagem da Caravana da Amizade a terras   artigo no seu todo, irá pesquisar os seus velhos arquivos
           de Angola e Moçambique em Julho / Agosto de 1968.  ou poderá contactar-me que lho farei chegar por mail com
              Contaram-se  muitas  histórias  e  estórias,  algumas  das   prazer.
           quais neste Boletim, tendo como pano de fundo essa ines-  Como sempre acontecia e penso que ainda sucede, o
           quecível viagem, na qual tive o prazer de participar en-  Boletim  da APE  foi  enviado  para  o  Pilão,  onde  aquelas
           quanto  aluno  finalista  do  Curso  de  Contabilistas.  Mas   cabecinhas iluminadas, enfiaram o garruço até às orelhas,
           muitas outras estão ainda por contar…              vislumbrando ali um inadmissível ataque à instituição e
              Ando para retomar este tema já há algum tempo e hoje   aos seus “educadores” bem patente na “exemplar” punição
           trago aqui à memória um facto que poucos conhecem e   que foi imposta ao meu amigo Bilas, nos termos que estão
           outros já terão esquecido.                         patentes na página 350 da Ordem de Serviço nº 135 de
              Embora  contemporâneo  dos  factos,  só  tive  a  visão   11JUN1969, que passo a transcrever na íntegra:
           plena do que aqui relato há cerca de dois anos, durante           “Art.º 6º – ALUNOS
           um almoço lá para as bandas da Lourinhã / Praia da Areia   Que aprovo a proposta do Conselho de Disciplina, exa-
           Branca, onde o Nhonhocas (José Matos – 19630210) era   rada da Acta nº 47 de 03JUN1969, punindo com repreensão
           o homenageado. A minha mobilização para a Guerra Co-  pública perante formatura geral do Batalhão Escolar, o alu-
           lonial (Moçambique),em Fevereiro de 1969, fez adiar por   no 234 – António Augusto da Cruz Vilas Boas, porque se
           40 anos a meu conhecimento dos factos.             permitiu expressar num artigo inserto no Boletim nº 53 da
              Fui documentar-me e cá vai.                     Associação  dos  Pupilos  do  Exército  conceitos  que  de  certo
              O meu amigo António Vilas Boas “Bilas” (19590234),   modo  envolvem  considerações  desfavoráveis  sobre  méritos,
           porta-guião  em  1967/68,natural  da  Póvoa  do  Varzim,   virtudes e actos de superiores, ainda que de forma velada e
           agora a viver em Vila do Conde, é o protagonista involun-  indirecta.
           tário, pois foi punido nos Pupilos por delito de opinião.   O procedimento do aluno considera-se atentatório da boa
           Senão vejamos.                                     ordem e disciplina, importando dano moral para o Instituto.
              Regressado dessa viagem, o Bilas ainda teve que fazer   Teve-se em atenção:
           um ano de estágio na CP – Caminhos de Ferro de Portu-  – O encontrar-se o aluno a pouco mais de um mês da
           gal que precedeu a apresentação do correspondente Rela-  possível conclusão do seu curso.
           tório e só depois obteve o diploma do então Curso Médio   – O seu bom comportamento durante os nove anos da
           de Electrotecnia e Máquinas. Embora tenhamos sido am-  sua parte escolar.
           bos finalistas no mesmo ano, ele ainda se manteve no Pilão   – O facto de, perante as suas declarações, se depreender
           no ano seguinte, já como aluno externo.            não ter avaliado convenientemente as consequências do seu
              Escreveu então um artigo que foi publicado no Boletim   acto.
           da APE nº 53 – Jan/Fev.1969 intitulado “Ser ou não ser   Infringiu o dever 16º do art.º 6º do RD do ITMPE.”
           um CHEFE”, na rubrica ULTRAMAR – VIAGEM – JU-         Não conheço o RD – Regulamento de Disciplina que
           VENTUDE (pág. 14).                                 então vigorava no Pilão, cujo conteúdo nem naquela altu-
              Ali referiu uma peripécia da viagem e rendeu home-  ra era alvo de grande atenção da nossa parte. Quase tudo
           nagem merecida ao Brigadeiro Álvaro de Oliveira, grande   era  proibido,  e  isso  bastava-nos  enquanto  guia.  Não  me
           obreiro dessa Caravana da Amizade, que nos acompanhou   custa portanto acreditar que o enquadramento penal en-
           a Angola e Moçambique, como Chefe de Missão, enquan-  contrará ali suporte, pois viviam-se tempos de liberdade
           to oficial mais graduado e Presidente da APE.      condicional, como nos recordamos.
              Por falta de espaço, aqui transcrevo apenas a parte final   Estou a ver a cena. Todo o Batalhão Escolar reunido
           desse artigo, onde o Vilas Boas enaltece a “…figura com-  no Ginásio da 1ª Secção e o bom do António Augusto – na
           preensiva e única do nosso Brigadeiro. Ele foi um verda-
           deiro Chefe. Se houvesse outros assim estaríamos maravi-              (continua na página seguinte)   


                                                                                         Boletim da associação dos PuPilos do exército  15
   12   13   14   15   16   17   18   19   20   21   22