Page 18 - Boletim APE_223
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evocações
JoSé mATeUS mANiéS LoUreNÇo
19640252
Todos, nós! Amizade”. Ao folheá-lo numa das páginas pude ler: “Quan-
do nos encontramos com o Amigo, mesmo após muito
tempo de ausência física, é como se o tempo não tivesse
passado…e dá-se continuidade ao encontro anterior, reto-
mando o diálogo interrompido…como se o tempo tivesse
uma quinta-feira de um dia qualquer, passei pela APE parado”. No fundo, este pensamento acabava de ter sido
Npara uma reunião sobre as perspectivas que se colo- demonstrado neste nosso encontro! Continuei a folhear:
cam ao Instituto no curto/médio prazo. Logo no corredor “A amizade valoriza, dá-nos valor. Um valor que talvez
da entrada para a sala, deparei com uma série de fotogra- ninguém nos tenha dado…. Dá-nos momentos de partilha
fias de jovens pilões adolescentes. Tomei mais atenção e de intimidade que nos faz sentir bem e ficar bem”. Na
reparei numa foto do algarvio, o José Duarte Pinheiro, o verdade, “a vida só é vida, se for vivida e envolvida na vida
139 do meu ano, depois, outra do Caracol, outra do Pi- de outra vida”, afirmou alguém e com razão!
nheirinho, outra do Faustino, do José Manuel Pereira dos A todos nós, “pilões”, ligam-nos traços de amizade, nem
Santos, e tantas outras…até que acabei por encontrar a sempre explícitos, mas não menos verdadeiros. Noutros
minha! Confesso que foi uma surpresa emocionante, ple- casos, revelados inesperadamente quando encontramos
na de recordações de acontecimentos da nossa juventude alguém que também viveu o “Pilão”, ainda que não tenha
de pilões, com mais de 40 anos. Esqueci por momentos sido ao mesmo tempo que nós próprios. Trata-se de laços
onde estava. O meu pensamento percorreu rapidamente afectivos muito fortes que ligam todos os que passam pelo
e em profundidade uma serie de recordações da minha Instituto. A propósito, num intervalo de uma aula do pe-
adolescência de “pilão”. ríodo nocturno, uma aluna abordou-me e perguntou se me
Veio-me então à memória a viagem de estudo em 1968 podia fazer uma pergunta pessoal. Ao dizer-lhe que sim,
ao Algarve. Uma noite jantámos no Hotel S. Cristóvão em perguntou-me então se eu tinha estado nos Pupilos. Tinha
Lagos. Os meus tios paternos foram buscar-me ao Hotel reparado na barretina na lapela do meu casaco. Disse-me
depois do jantar. Levaram com eles a Ana Paula, uma ra- que tem um filho no “Pilão”, que tinha concorrido antes
pariguinha com menos um ano que eu, teria na altura 13 ao Colégio Militar, mas que não tinha gostado e optou
anos. Só nos vimos nessa noite e escrevemo-nos durante pelos Pupilos. Falámos durante alguns minutos sobre o
anos. Com o passar do tempo acabámos por perder o “Pilão”, com o entusiasmo de quem descobre uma ligação
contacto. Reencontrámo-nos 40 anos depois, em Agosto forte, até então desconhecida. Senti-me orgulhoso e mui-
passado no Algarve. Abraçámo-nos emocionados e manti- to feliz com o facto do filho da minha aluna adorar o
vemos conversa durante algumas horas num café próximo. “Pilão”, não apenas como ex-aluno, mas também como
Como ela frisou no fim do nosso encontro, parecia que antigo professor do IPE ao longo de 28 anos. O Instituto
tínhamos estado em contacto na véspera e que o tempo revela-se efectivamente uma escola impar com gente úni-
não nos tinha separado. Fiquei a saber que a sua tese de ca englobando todos, sejam docentes, militares, civis ou
doutoramento em França tinha abordado temas tais como discentes. Deve ser portanto ponto de encontro para re-
as competências assertivas e a resiliência. Acabou por me forço de amizades longínquas e motivo de orgulho para
oferecer um dos seus livros intitulado “Mensagem de nós, todos!
(continuação da página anterior)
última vez que terá envergado a farda do Pilão – a receber Não consegui apurar se o Brigadeiro Álvaro de Olivei-
a repreensão, eventualmente lida pelo Comandante de ra teve conhecimento do teor desta repreensão pública
Corpo de Alunos… exemplar de facto, porque exemplo aplicada ao Vilas Boas. Porém, do que conheço da sua
da frontalidade de um jovem sem medo, mesmo naquela personalidade, estou ciente de que, se tal aconteceu, não
época de antes do 25 de Abril. deixou de expressar o seu veemente protesto.
Aqui fica um abraço de solidariedade tardia a um Esta já longínqua viagem a Angola e Moçambique
amigo, no Norte, “carago”. ainda não acabou e outros capítulos se seguirão.
Notas finais:
16 Boletim da associação dos PuPilos do exército