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evocações




              JoSé mATeUS mANiéS LoUreNÇo
              19640252


              Todos, nós!                                        Amizade”. Ao folheá-lo numa das páginas pude ler: “Quan-
                                                                 do  nos  encontramos  com  o Amigo,  mesmo  após  muito
                                                                 tempo de ausência física, é como se o tempo não tivesse
                                                                 passado…e dá-se continuidade ao encontro anterior, reto-
                                                                 mando o diálogo interrompido…como se o tempo tivesse
                   uma quinta-feira de um dia qualquer, passei pela APE   parado”. No fundo, este pensamento acabava de ter sido
              Npara uma reunião sobre as perspectivas que se colo-  demonstrado neste nosso encontro! Continuei a folhear:
              cam ao Instituto no curto/médio prazo. Logo no corredor   “A  amizade  valoriza,  dá-nos  valor.  Um  valor  que  talvez
              da entrada para a sala, deparei com uma série de fotogra-  ninguém nos tenha dado…. Dá-nos momentos de partilha
              fias de jovens pilões adolescentes. Tomei mais atenção e   de  intimidade  que  nos  faz  sentir  bem  e  ficar  bem”.  Na
              reparei numa foto do algarvio, o José Duarte Pinheiro, o   verdade, “a vida só é vida, se for vivida e envolvida na vida
              139 do meu ano, depois, outra do Caracol, outra do Pi-  de outra vida”, afirmou alguém e com razão!
              nheirinho, outra do Faustino, do José Manuel Pereira dos   A todos nós, “pilões”, ligam-nos traços de amizade, nem
              Santos,  e  tantas  outras…até  que  acabei  por  encontrar  a   sempre  explícitos,  mas  não  menos  verdadeiros.  Noutros
              minha! Confesso que foi uma surpresa emocionante, ple-  casos,  revelados  inesperadamente  quando  encontramos
              na de recordações de acontecimentos da nossa juventude   alguém que também viveu o “Pilão”, ainda que não tenha
              de pilões, com mais de 40 anos. Esqueci por momentos   sido ao mesmo tempo que nós próprios. Trata-se de laços
              onde estava. O meu pensamento percorreu rapidamente   afectivos muito fortes que ligam todos os que passam pelo
              e  em  profundidade  uma  serie  de  recordações  da  minha   Instituto. A propósito, num intervalo de uma aula do pe-
              adolescência de “pilão”.                           ríodo nocturno, uma aluna abordou-me e perguntou se me
                 Veio-me então à memória a viagem de estudo em 1968   podia fazer uma pergunta pessoal. Ao dizer-lhe que sim,
              ao Algarve. Uma noite jantámos no Hotel S. Cristóvão em   perguntou-me então se eu tinha estado nos Pupilos. Tinha
              Lagos. Os meus tios paternos foram buscar-me ao Hotel   reparado na barretina na lapela do meu casaco. Disse-me
              depois do jantar. Levaram com eles a Ana Paula, uma ra-  que tem um filho no “Pilão”, que tinha concorrido antes
              pariguinha com menos um ano que eu, teria na altura 13   ao  Colégio  Militar,  mas  que  não  tinha  gostado  e  optou
              anos. Só nos vimos nessa noite e escrevemo-nos durante   pelos  Pupilos.  Falámos  durante  alguns  minutos  sobre  o
              anos.  Com  o  passar  do  tempo  acabámos  por  perder  o   “Pilão”, com o entusiasmo de quem descobre uma ligação
              contacto. Reencontrámo-nos 40 anos depois, em Agosto   forte, até então desconhecida. Senti-me orgulhoso e mui-
              passado no Algarve. Abraçámo-nos emocionados e manti-  to  feliz  com  o  facto  do  filho  da  minha  aluna  adorar  o
              vemos conversa durante algumas horas num café próximo.   “Pilão”,  não  apenas  como  ex-aluno,  mas  também  como
              Como  ela  frisou  no  fim  do  nosso  encontro,  parecia  que   antigo professor do IPE ao longo de 28 anos. O Instituto
              tínhamos estado em contacto na véspera e que o tempo   revela-se efectivamente uma escola impar com gente úni-
              não nos tinha separado. Fiquei a saber que a sua tese de   ca  englobando  todos,  sejam  docentes,  militares,  civis  ou
              doutoramento em França tinha abordado temas tais como   discentes. Deve ser portanto ponto de encontro para re-
              as competências assertivas e a resiliência. Acabou por me   forço de amizades longínquas e motivo de orgulho para
              oferecer  um  dos  seus  livros  intitulado  “Mensagem  de   nós, todos!





                   (continuação da página anterior)
              última vez que terá envergado a farda do Pilão – a receber   Não consegui apurar se o Brigadeiro Álvaro de Olivei-
              a  repreensão,  eventualmente  lida  pelo  Comandante  de   ra  teve  conhecimento  do  teor  desta  repreensão  pública
              Corpo de Alunos… exemplar de facto, porque exemplo   aplicada  ao  Vilas  Boas.  Porém,  do  que  conheço  da  sua
              da frontalidade de um jovem sem medo, mesmo naquela   personalidade, estou ciente de que, se tal aconteceu, não
              época de antes do 25 de Abril.                     deixou de expressar o seu veemente protesto.
                 Aqui  fica  um  abraço  de  solidariedade  tardia  a  um   Esta  já  longínqua  viagem  a  Angola  e  Moçambique
              amigo, no Norte, “carago”.                         ainda não acabou e outros capítulos se seguirão.
                 Notas finais:



        16  Boletim da associação dos PuPilos do exército
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