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cultura e coNhecimeNto



          JoSé PereirA
          19510211
                                                             e Bokhara. No Norte de África foram progredindo firme-
                                                             mente para Ocidente em direcção ao Atlântico. Em 670
          o califado omíada com                              atacaram Constantinopla e chegaram a dominar a parte sul
                                                             da cidade, mas a campanha foi abandonada por morte de
          a capital em Damasco                               Muawiya.
                                                               Os seus sucessores continuaram as conquistas no Nor-
                                                             te  de  África  até  Marrocos  o  que  permitiu-lhes  atacar  a
                                                             Península Hispânica, então sob domínio dos Visigodos já
                                                             cristianizados. Tirando partido de dissenções internas nos
             etomando o ponto em que ficámos no artigo anterior,   Visigodos,  o  exército  dos  muçulmanos  (composto  por
          Rvimos que o Califa Umar fez várias conquistas entre   Árabes e Berberes), depois de uma primeira tentativa, in-
          as quais a cidade de Jerusalém. Mas, em Novembro de 644   vadiu,  sob  o  comando  de  Tariqueibn  Ziad,  a  Península
          foi assassinado por um escravo persa.              Hispânica  derrotando  o  exército  Visigodo  (e  o  seu  rei
            Compreendendo o risco de uma guerra civil que ame-  Ruderico) na batalha de Guadalete no ano de 711.
          açava o Islão, nomeou, já no leito de morte um Shura ou   O amir Muça conseguira recrutar um grande número
          colégio  eleitoral,  constituído  pelos  candidatos  com  mais   de  berberes  (nas  terras  do  Norte  de  África  que  pouco
          probabilidades na sucessão. Foi escolhido Uthmanibn Affan.  tempo antes conquistara ao Império Bizantino) para a in-
            Em Junho de 656, um grupo de amotinados do exér-  vasão da Península Hispânica, designada de terra de “infiéis”,
          cito árabe no Egipto que se haviam dirigido a Medina para   invocando  a  Guerra  Santa,  e  levando  os  muçulmanos  a
          apresentarem queixas, conseguiram penetrar nos aposentos   entrarem no espírito da Jihad.
          do Califa ferindo-o mortalmente. Este assassínio marcou   O certo é que as forças muçulmanas conquistaram a
          uma viragem na história do Islão. A morte de um Califa   maior parte da Hispânia em poucos anos, fundando o rei-
          por  rebeldes  muçulmanos  criou  um  grave  precedente  e   no do Al Andalus cuja capital seria sedeada em Córdova
          enfraqueceu seriamente o prestígio religioso e moral ine-  pelo amir Abd ar-Rahman.
          rente ao cargo, garante de unidade do Islão. A partir daí, o   Entretanto a expansão para Oriente continuava, poden-
          único elo existente entre o governo e as tribos foi político   do dizer-se que os muçulmanos em um século passaram a
          e financeiro. Ambos penosos.                       dominar extensos territórios de três continentes, desde a
            Em Medina, Ali foi eleito sucessor. Mas as dissenções   Península Ibérica até à Índia. O Mar Mediterrâneo ficou
          aumentaram e tornaram-se em autêntica guerra civil.  sob  domínio  dos  Califas  muçulmanos,  o  que  constituiu
            Em Outubro de 656, Ali abandonou Medina à cabeça   entrave de vulto à navegação de navios de reinos europeus
          do  seu  exército.  O  facto  foi  duplamente  significativo.  Em   (cristãos) com quem tiveram guerras. Foram, por exemplo,
          primeiro lugar, assinalou o fim de Medina como capital do   os casos de Charles Martel na batalha de Poitiers em 732
          Império Islâmico. Em segundo lugar, era a primeira vez que   (impedindo que conquistassem a Gália) e o sucedido com
          um Califa conduzia um exército muçulmano para uma guer-  o Imperador Carlos Magno – em finais deste século VIII e
          ra civil contra irmãos muçulmanos. Ali venceu os seus opo-   inícios do seguinte – ao enviar várias expedições militares
          sitores num recontro conhecido como «batalha do Camelo».  de apoio à reconquista cristã da Península Ibérica ou His-
            Porém, o governador da Síria, Muawiya, passou a hos-  pânica.
          tilizar Ali exigindo vingança pela morte do seu tio Uthman,   Os Califas Omíadas e muitos outros homens ricos viviam
          o  último  Califa  reconhecido  universalmente. A  situação   faustosamente nas cidades e, inclusivamente, no deserto.
          conduziu a um confronto militar que terminou indeciso.   A circunstância de a casta dominante árabe poder dis-
          Mas em Janeiro de 661 Ali foi assassinado por um Khari-  por  de  enormes  quantias  monetárias,  contribuiu  para  o
          jita (grupo descontente com Ali que dele se afastara).   aparecimento de uma nova classe: os Mawali (sing. Mawla).
                                           O novo Califa foi   Mawla  era  qualquer  muçulmano  que  não  pertencesse  a
                                        Muawiya que transfe-  uma tribo árabe por descendência. Incluía assim os Persas,
                                        riu a capital do Cali-  Arameus, Egípcios, Berberes e outros não-árabes converti-
                                        fado para Damasco, na   dos ao Islão, e ainda alguns de língua ou origem árabe, que
                                        Síria, fundando o Ca-  por  qualquer  motivo  tivessem  perdido  ou  não  tivessem
                                        lifado Omíada, dando   conseguido  a  qualidade  de  membros  efectivos  da  casta
                                        impulso  considerável   dominante.
                                        a novas conquistas.    O descontentamento dos Mawali encontrou expressão
                                           Assim,  na  Ásia   religiosa no movimento conhecido por Shia (de Shiatu Ali,
                                        Central os Árabes to-
                                        maram  Herat,  Cabul                       (continua na página seguinte)  


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