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cultura e coNhecimeNto
S. Tomé e Príncipe e ainda em Angola. Sobre esta viagem, há relatos
de que foi pouco apoiada. A imprensa republicana foi muito crítica (o
que não constituiu nenhuma surpresa, dado o nível pouco ético e nada
isento dos seus jornais, onde o ódio e a ofensa gratuitos à Família Real
eram materializados de forma constante e abusiva), enquanto que ou-
tros periódicos, favoráveis à dinastia dos Braganças, deram conta de to-
dos os pormenores das visitas, sublinhando a autenticidade do carácter
do Príncipe e a boa recepção de que foi alvo em todos os locais onde
se deslocou.
2 Fórmula do solene juramento que os elementos da Junta Governativa
Provisória do Reino de Portugal prestaram em 1919.
3 Destacam-se as seguintes condecorações: Cavaleiro da Ordem Mi-
litar da Torre e Espada (1890), Grande Oficia da Ordem Militar da
Torre e Espada (1891), Comendador da Ordem Militar da Torre e Es-
pada (1896), Medalha de Prata de Mérito, Filantropia e Generosidade
Ilustração n.º 27 – Os poemas da derrota (Júlio da Costa Pinto), por Joa- (1892), Medalha de Mérito Militar de Espanha (1893), Cavaleiro da
quim Leitão. Visualiza-se uma fotografia de Júlio da Costa Pinto, ainda Ordem Militar de São Bento de Avis (1895), Medalha de Ouro de Va-
como Tenente. lor Militar (1896), Medalha de Prata Rainha D. Amélia – Expedição a
Moçambique (1896), Grã-cruz da Ordem do Império Colonial (1932).
Ilustração n.º 28 – 4 No documento, lê-se (texto aferido): “Soldados! Tendes diante de vós
Junto à Rainha Dona a Bandeira Azul e Branca! Essas foram sempre as cores de Portugal –
Amélia, aquando do desde Afonso Henriques, em Ourique, na defesa da nossa terra contra
falecimento de S.M., os moiros – até D. Manuel II, mantendo contr a rebeldes africanos os
em 1951. nossos domínios em Mayul, Coolella, Cuamato, e tantos outros comba-
tes que ilustraram as armas portuguesas. Quando em 1910, Portugal
abandonou o Azul e Branco, Portugal abandonou a sua história! E os
povos que abandonam a sua história são povos que decaem e que mor-
rem. Soldados! O Exército é, acima de tudo, a mais alta e xpressão da
Pátria e, por isso mesmo, tem que sustentá-la e tem que guardá-la nas
circunstâncias mais difíceis, acudindo na hora própria contra todos os
perigos, sejam eles externos ou internos, que lhe ameacem a existência.
E abandonar a sua história, é erro que mata! Contra esse erro protesta,
portanto, o Exército, hasteando novamente a sua antiga Bandeira Azul
e Branca. Aponta-vos Ela os caminhos do valor, da lealdade e da hon-
ra, por onde os portugueses do passado conquistar am a grandeza e a
nobre fama que ainda hoje dignifica o conceito de ortugal perante as
nações do Mundo! Juremos segui-la, soldados! E ampará-la com o nos-
so corpo, mesmo à custa do próprio sangue! E com a ajuda de Deus,
e com a for ça das nossas cr enças tradicionais, que o Azul e Br anco
simbolizam, a nossa Pátria salvaremos! Viva a Pátria Portuguesa! Viva
o Exército! Viva El-Rei D. Manuel II! Porto, 19 de Janeiro de 1919.”
pulsar do país em 1935. E mandou prendê-lo e deportá-lo 5 Recordemos que Júlio da Costa Pinto tinha embarcado em 22 de
novamente em 1937. Numa altura em que Paiva Coucei- Maio de 1908 para Angola, onde tinha sido ajudante-de-campo do Ma-
ro tinha já 76 anos de idade, foi levado a sofrer, mais uma jor Alves Roçadas, oficia às ordens de Henrique de Paiva Couceiro e
de João de Almeida. Numa carta de 4 de Outubro de 1908, o Major
vez, as agruras do exílio. Joaquim António Pereira propôs ao Governador Interino da Província
Incomodava sempre porque era um homem de brio, de Angola que o Alferes Júlio da Costa Pinto fosse agraciado com a
dignidade, carácter, tenacidade e com um distinto sentido Ordem da Torre e Espada do Valor e Lealdade e Mérito, por feitos de
heroísmo. Em 1910, ainda em Angola, participou nas grandes repara-
de honra. Tal como foi Júlio da Costa Pinto. Felizmente, ções na estrada de Quifangongo ao Alto Dande, passou o Carnaval em
os seus nomes ficaram gravados nos pergaminhos da His- Moçamedes e, a partir de Agosto, deslocou-se para Luanda. Após o 5
tória. Porque numa História que enaltece tantas vezes os de Outubro de 1910, demitiu-se das suas funções militares em Ango-
seus vencedores, importa não esquecer, por todas as razões, la, acabando por ser expulso do Exército pelo Governo Provisório em
1911. Numa atitude de desafio mandou celebrar missa por alma de
aqueles que foram os seus heróis. S.M. El-Rei D. Carlos e de S.A.R. o Príncipe Real D. Luís Filipe na
Igreja da Misericórdia em Luanda, a 1 de Fevereiro de 1911. Durante
1 A viagem que o S.A.R. o Príncipe Real D. Luís Filipe empreendeu a década de 1910, Júlio da Costa Pinto envolveu-se nas incursões, nas
a África, decorreu entre 1 de Julho e 27 de Setembro de 1907, exacta- revoltas e nos movimentos que tiveram em vista a causa monárquica.
mente no ano anterior ao Regicídio, quando seria (no Terreiro do Paço) 6 Em Novembro de 1946, o Ministro das Colónias, Marcello Caetano,
com o seu Pai (S.M. El-Rei D. Carlos) brutalmente assassinado, em 1 atribuiu-lhe a Medalha de Serviços Relevantes, quando este já tinha
de Fevereiro de 1908. Note-se que jamais algum membro da Família sido reintegrado na carreira militar com o posto de Capitão.
Real se tinha deslocado às colónias portuguesas em África. O Príncipe 7 Pode consultar-se não só este exemplar, mas a colecção completa, em
Real realizou esta viagem precisamente com o objectivo de reafirma Silva, J. Pereira da – Diário da Junta Governativa do Reino de Portu-
os
os direitos de Portugal à posse das referidas colónias, tendo expressado gal. Colecção Completa, n. 1 a 16 – 19 de J aneiro a 13 de Fevereiro
claramente o desejo de realizar essa empresa, ao dizer: “Ver e conhecer de 1919, Porto, Edição do Autor, 1919.
o que é nosso e os lugares onde fizemos tão g andes coisas”. Sabe-se 8 Em 1945, a PVDE seria substituída pela PIDE (Polícia Internacional
também que era necessário refutar as acusações de esclavagismo em e de Defesa do Estado).
50 Boletim da associação dos PuPilos do exército