Page 52 - Boletim APE_222
P. 52

cultura e coNhecimeNto






                                                               S. Tomé e Príncipe e ainda em Angola. Sobre esta viagem, há relatos
                                                               de que foi pouco apoiada. A imprensa republicana foi muito crítica (o
                                                               que não constituiu nenhuma surpresa, dado o nível pouco ético e nada
                                                               isento dos seus jornais, onde o ódio e a ofensa gratuitos à Família Real
                                                               eram materializados de forma constante e abusiva), enquanto que ou-
                                                               tros periódicos, favoráveis à dinastia dos Braganças, deram conta de to-
                                                               dos os pormenores das visitas, sublinhando a autenticidade do carácter
                                                               do Príncipe e a boa recepção de que foi alvo em todos os locais onde
                                                               se deslocou.
                                                               2   Fórmula do solene juramento que os elementos da Junta Governativa
                                                               Provisória do Reino de Portugal prestaram em 1919.
                                                               3   Destacam-se as seguintes condecorações: Cavaleiro da Ordem Mi-
                                                               litar da Torre e Espada (1890), Grande Oficia  da Ordem Militar da
                                                               Torre e Espada (1891), Comendador da Ordem Militar da Torre e Es-
                                                               pada (1896), Medalha de Prata de Mérito, Filantropia e Generosidade
            Ilustração n.º 27 – Os poemas da derrota (Júlio da Costa Pinto), por Joa-  (1892), Medalha de Mérito Militar de Espanha (1893), Cavaleiro da
            quim Leitão. Visualiza-se uma fotografia de Júlio da Costa Pinto, ainda   Ordem Militar de São Bento de Avis (1895), Medalha de Ouro de Va-
            como Tenente.                                      lor Militar (1896), Medalha de Prata Rainha D. Amélia – Expedição a
                                                               Moçambique (1896), Grã-cruz da Ordem do Império Colonial (1932).
                                               Ilustração  n.º  28  –   4   No documento, lê-se (texto aferido): “Soldados! Tendes diante de vós
                                               Junto à Rainha Dona   a Bandeira Azul e Branca! Essas foram sempre as cores de Portugal –
                                               Amélia,  aquando  do   desde Afonso Henriques, em Ourique, na defesa da nossa terra contra
                                               falecimento de S.M.,   os moiros – até D. Manuel II, mantendo contr a rebeldes africanos os
                                               em 1951.        nossos domínios em Mayul, Coolella, Cuamato, e tantos outros comba-
                                                               tes que ilustraram as armas portuguesas. Quando em 1910,  Portugal
                                                               abandonou o Azul e Branco, Portugal abandonou a sua história! E os
                                                               povos que abandonam a sua história são povos que decaem e que mor-
                                                               rem. Soldados! O Exército é, acima de tudo, a mais alta e xpressão da
                                                               Pátria e, por isso mesmo, tem que sustentá-la e tem que guardá-la nas
                                                               circunstâncias mais difíceis, acudindo na hora própria contra todos os
                                                               perigos, sejam eles externos ou internos, que lhe ameacem a existência.
                                                               E abandonar a sua história, é erro que mata! Contra esse erro protesta,
                                                               portanto, o Exército, hasteando novamente a sua antiga Bandeira Azul
                                                               e Branca. Aponta-vos Ela os caminhos do valor, da lealdade e da hon-
                                                               ra, por onde os portugueses do passado conquistar am a grandeza e a
                                                               nobre fama que ainda hoje dignifica o conceito de  ortugal perante as
                                                               nações do Mundo! Juremos segui-la, soldados! E ampará-la com o nos-
                                                               so corpo, mesmo à custa do próprio sangue! E com a ajuda de Deus,
                                                               e com a for ça das nossas cr enças tradicionais, que o Azul e Br anco
                                                               simbolizam, a nossa Pátria salvaremos! Viva a Pátria Portuguesa! Viva
                                                               o Exército! Viva El-Rei D. Manuel II! Porto, 19 de Janeiro de 1919.”
            pulsar do país em 1935. E mandou prendê-lo e deportá-lo   5   Recordemos  que  Júlio  da  Costa  Pinto  tinha  embarcado  em  22  de
            novamente em 1937. Numa altura em que Paiva Coucei-  Maio de 1908 para Angola, onde tinha sido ajudante-de-campo do Ma-
            ro tinha já 76 anos de idade, foi levado a sofrer, mais uma   jor Alves Roçadas, oficia  às ordens de Henrique de Paiva Couceiro e
                                                               de João de Almeida. Numa carta de 4 de Outubro de 1908, o Major
            vez, as agruras do exílio.                         Joaquim António Pereira propôs ao Governador Interino da Província
               Incomodava  sempre  porque  era  um  homem  de  brio,   de Angola que o Alferes Júlio da Costa Pinto fosse agraciado com a
            dignidade, carácter, tenacidade e com um distinto sentido   Ordem da Torre e Espada do Valor e Lealdade e Mérito, por feitos de
                                                               heroísmo. Em 1910, ainda em Angola, participou nas grandes repara-
            de honra. Tal como foi Júlio da Costa Pinto. Felizmente,   ções na estrada de Quifangongo ao Alto Dande, passou o Carnaval em
            os seus nomes ficaram gravados nos pergaminhos da His-  Moçamedes e, a partir de Agosto, deslocou-se para Luanda. Após o 5
            tória. Porque numa História que enaltece tantas vezes os   de Outubro de 1910, demitiu-se das suas funções militares em Ango-
            seus vencedores, importa não esquecer, por todas as razões,   la, acabando por ser expulso do Exército pelo Governo Provisório em
                                                               1911. Numa atitude de desafio  mandou celebrar missa por alma de
            aqueles que foram os seus heróis.                  S.M. El-Rei D. Carlos e de S.A.R. o Príncipe Real D. Luís Filipe na
                                                               Igreja da Misericórdia em Luanda, a 1 de Fevereiro de 1911. Durante
            1   A viagem que o S.A.R. o Príncipe Real D. Luís Filipe empreendeu   a década de 1910, Júlio da Costa Pinto envolveu-se nas incursões, nas
            a África, decorreu entre 1 de Julho e 27 de Setembro de 1907, exacta-  revoltas e nos movimentos que tiveram em vista a causa monárquica.
            mente no ano anterior ao Regicídio, quando seria (no Terreiro do Paço)   6   Em Novembro de 1946, o Ministro das Colónias, Marcello Caetano,
            com o seu Pai (S.M. El-Rei D. Carlos) brutalmente assassinado, em 1   atribuiu-lhe a Medalha de Serviços Relevantes, quando este já tinha
            de Fevereiro de 1908. Note-se que jamais algum membro da Família   sido reintegrado na carreira militar com o posto de Capitão.
            Real se tinha deslocado às colónias portuguesas em África. O Príncipe   7   Pode consultar-se não só este exemplar, mas a colecção completa, em
            Real realizou esta viagem precisamente com o objectivo de reafirma    Silva, J. Pereira da – Diário da Junta Governativa do Reino de Portu-
                                                                                  os
            os direitos de Portugal à posse das referidas colónias, tendo expressado   gal. Colecção Completa, n.  1 a 16 – 19 de J aneiro a 13 de Fevereiro
            claramente o desejo de realizar essa empresa, ao dizer: “Ver e conhecer   de 1919, Porto, Edição do Autor, 1919.
            o que é nosso e os lugares onde fizemos tão g andes coisas”.  Sabe-se   8   Em 1945, a PVDE seria substituída pela PIDE (Polícia Internacional
            também que era necessário refutar as acusações de esclavagismo em   e de Defesa do Estado).



       50  Boletim da associação dos PuPilos do exército
   47   48   49   50   51   52   53   54   55   56   57