Page 11 - Boletim APE_219
P. 11
evocações
Apontamento - A força maior do “pessoal menor”
dAvid SequeRRA
1943.0333
outro dia, quase ao final da tarde, de saída da nossa quando na verdade só queriam dar uma simples espreitadela
APE, cruzei-me com um bem parecido cidadão que, de para o decote da simpática funcionária.
Nchofre, me dirigiu a palavra.: - “Estamos quase em mais Gente simples, afável, tolerante, sempre pronta a ajudar –
um 25 de Maio, não é verdade?” era assim o recordado contingente do pessoal menor que tinha
Surpreendido, instintivamente, olhei para a sua lapela em o Barjona de Freitas, como “Chefe de fila”.
busca do emblema “pilónico” para adequada resposta. Mas não
descortinei o símbolo da praxe sentindo-me obrigado a pergun- ***
tar porque é que referia, tão convictamente, o muito nosso 25
de Maio... ambém eu impressionado com aquele fugaz encontro
E escutei, embevecido e feliz, a explicação daquele tran- com uma espécie de “pilão” adoptivo, não me ocorreu
seunte que me vira sair da APE. Tperguntar mais pormenores sobre a sua Mãe, no Institu-
- “Não sou “pilão”, mas sinto-me tal como se fosse. Minha to. Apurei, somente, que era uma senhora da limpeza e tinha
mãe foi empregada dos Pupilos por uns bons 30 anos e eu passado 30 anos da sua vida na 1ª Secção, angariando recursos
cresci no ambiente especial da 1ª Secção, em São Domingos. para criar o seu Filho de que não sei o nome nem actividade.
Habituei-me a gostar muito das cerimónias do 25 de Maio e, Sei, isso sei, que gosta do “Pilão” e vai até aos lugares da sua
normalmente, apareço por lá, a recordar o passado e em ho- meninice em cada 25 de Maio.
menagem a minha Mãe.” Achei que esta historieta encerra muito mais do que um oca-
O meu interlocutor estava comovido e não me foi difícil cal- sional encontro no topo das escadas até à “Neutel de Abreu”.
cular que tendo já perto de 60 anos, a senhora sua Mãe teria E contando-a presto a minha sentida e sincera homenagem a
estado ao serviço do IPE entre 1950 e 1980, por aí, em funções quantos, sob o efeito de uma força maior de zelo e devoção,
modestas com a mesma afeição aos ideais “pilónicos” como passaram pelo nosso Instituto sob o rótulo de pessoal menor.
tantas pessoas mais que conheci e que, tradicionalmente, por Que não seja menor a memória de nós todos nem o fervor
génese filológica de duvidoso gosto, eram abrangidas pela de- de lhes dizer OBRIGADO!
nominação de pessoal menor. Menor? Em quê e porquê? A for-
ça do entusiasmo com que serviam o Instituto era MAIOR, digna
de admiração, pois concerteza levavam para casa e para os seus
familiares todas as emoções que tornavam as obrigações em
verdadeiras devoções de honrar um todo que era o IPE.
***
o meu tempo, a figura típica do denominado pessoal
menor era o Barjona de Freitas, estafeta de múltiplas fa-
Ncetas utilitárias, muito popular na “velha” Lisboa. Já lhe
dedicámos um dos nossos APONTAMENTOS e evocamo-lo hoje
de entre um apreciável lote de servidores do Instituto, do “Mes-
tre” Cuco à “menina” Catarina, passando pelo “Sôr” Parente tele-
fonista, o Ilídio (das ameixas...) às ordens do exigente “Perneta” e
pelo castiço Pereira “la Ventana”, dono e senhor do Economato.
Figuras marcantes dos meus bons velhos tempos de alu-
no, desafiantes ensejos de exercitar a memória. E vêm à baila
outros zelosos componentes desse escalão do pessoal menor
como os motoristas Jerónimo Caria e “Zé” Girão (vindos das
funções de carroceiros), a empertigada Dona Palmira, da Rou-
paria, o terceto Inácio, Castro e Geraldes, do Refeitório, a anafa-
da Maria Gonçalves, da Limpeza, com o seu buço provinciano
a fazer sombra ao meu bigodinho à cinéfilo, ao modelo Errol
Flynn, os “mestres-escamas” Ferreira e António Couto, o “altar-
rão” Vieira, da portaria da “2ª”, o solícito e inteligente ajudante
de “Mestre” Sousa, na Tipografia, Artur Chagas, o “Pescas”, do
Ginásio, controlador de bragas e sapatilhas, o “sôr” João, topa-a-
tudo, pai do “Oh Vaquinhas” e aquela quarentona de generoso
peito (e decote, também) que pontificava na Rouparia atraindo,
maliciosamente, uns quantos que lhe íam pedir auxílio para co-
zer botões ou arranjar platinas ou francaletes semi-deteriorados
1
do
Pupilos
Associação
dos
10 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército Boletim da Associação dos Pupilos do Exército | 11
1
1
|
Exército
dos
Associação
Pupilos
Exército
do
da
Boletim
da
0
Boletim
|