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cróNicas
câNDiDo De AzeVeDo
19600364
Portugueses pelo oriente
De um pântano pestilento, à doçura de maria guiomar !
O que mais preocupa é o silêncio dos bons!
uitos são os que têm procurado caracterizar Portugal. E a jovem Maria de Guiomar? Agora esbelta e cândida
ME por aquilo que vamos vendo, lendo ou ouvindo mulherzinha, é alvo do jogo de interesses dos missionários,
todos os dias, parece ser a realidade. Damos conta que que lhe expressam os seus desejos de não a verem soltei-
acima dos interesses patrióticos outros interesses mandam ra ou freira, mas sim casada com o influente Constantine,
hoje, sejam escondidos por trás das sempre “conveniências entretanto por interesse convertido a cristão. Dá-se o ca-
do momento”, sejam por cinismo, interesses promíscuos samento e em Lopburi é construído um palácio com re-
ou negócios duvidosos… quinte e opulência para habitação do casal. Aqui, Maria
Esperançado que o ambiente melhore, deixemos a Guiomar, então com 22 anos, passa um período calmo e
pestilência que inunda os ares do dia-a-dia do português, feliz da sua vida, sendo em pouco tempo mãe de duas
para falarmos de coisas mais doces, por exemplo da doçu- crianças: Jorge e Constantino.
ra de Maria Guiomar, inocente mulher luso-nipónica que Entretanto Phaulkon, ambicioso e agora também dita-
subsistiu num mundo governado por homens corruptos e dor, deixa-se manipular pelos interesses franceses, caindo
de ambições desmedidas. Eu conto. em desgraça junto do novo rei siamês, Phetracha. Coloca-
Maria de Guiomar era neta de Inês Martinz, uma das do atrás das grades, a 5 de Junho de 1688, é condenado à
primeiras japonesas baptizadas por Francisco Xavier, que decapitação por machado. Impedida de se refugiar junto
juntamente com o marido, fugindo às perseguições aos dos franceses, Maria de Guiomar vê-se condenada à escra-
cristãos movidas pelo imperador Toyotomi Hideyoshi, gover- vidão perpétua nas cozinhas do rei Phetracha, vindo a
nante do Japão por volta de 1590, se acolheram no bairro tornar-se chefe de cozinha, oportunidade que lhe permite
cristão de refugiados japoneses, próximo do Ban Portuguet, inserir na gastronomia siamesa a doçaria portuguesa. Daí
o bairro português localizado em Ayutaá, Sião, fundado por o facto dos fios de ovos, o mais apreciado, serem hoje o
volta de 1516, logo após a assinatura do primeiro acordo doce nacional da Tailândia. A sua situação assim se man-
de amizade e comércio entre Portugal e o Reino de Sião terá, até à sua morte em 1703.
(hoje Tailândia). Nascida com sangue português, em meados Das ambições desmedidas, dos jogos de interesse, dos
do século XVII, já no Ban Portuguet, Guiomar passa a ter negócios sujos de grandes gestores, das trocas de influência,
uma educação católica a rigor, administrada pelos sacerdo- dos corruptos e inflexíveis, fosse ontem como hoje, o povo
tes do Padroado Português do Oriente. português não desconhece…mas permanece sereno, pa-
À época, Luís XIV ambicionava colonizar o Sião e gante, cândido e doce na espera de melhores tempos…
torná-lo colónia da França, pelo que recorre aos missioná- certamente à espera que um dia, que tarda a chegar, surjam
rios das Missões Estrangeiras de Paris, no sentido de ganhar para estes as sempre faltosas grades, grades sim, porque na
influência junto dos siameses. Por esta altura reinava no nossa brandura detestamos o machado decapitador. E assim
Sião o rei Narai que, na ambição de se tornar numa po- fazemos jus ao que disse Martin Luther King: “O que mais
tente e comercial monarquia, acolhe bem os franceses e preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos,
as suas influências política e militar. dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética. O que
Por esta altura um grego ortodoxo, de seu nome Cons- mais preocupa é o silêncio dos bons!”
tantine Phaulkon, homem ambicioso que abandonara a
British East India Company, procura começar um negócio
por conta, (que não de sucateiro ou banqueiro), instalan-
do-se em Ayutáa.
Comerciante experiente, vem a conhecer outros co-
merciantes tailandeses, que o “passam”ao ministro do te-
souro e das finanças do governo do Sião, que rapidamente
o põe em “contacto” com o rei Narai, o Grande. Desta
forma, aquele estranho grego, vem a ganhar grande influ-
ência junto da corte, acabando por vir a gerir os negócios
internacionais do Sião. Ruinas da residência de Constantine Phaulkon na Tailândia
Boletim da associação dos PuPilos do exército 13