Page 10 - Boletim APE_222
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evocações



            DAViD SeQUerrA
            19430333
                                                                            ***
                                                                   inha chovido a “potes” e a já
            Apontamento                                        Tdesaparecida  ribeira  atingiu
            Peripécias                                         uma espécie de “record” de caudal,
                                                               causando  invulgar  admiração.
                                                               Curioso  e  atrevido  o “Ervilhaca”
            o “ervilhaca”                                      decidiu  testemunhar  de  muito
                                                               perto  essa  barulhenta  e  ameaça-
            e o caneiro de Alcântara                           dora enxurrada elevou consigo mais uns quantos colegas.
                                                               O grupo empoleirou-se no murete que dava para a linha
                                                               férrea e, a seus pés, a torrente de água era emocionante, a
                                                               uma enorme velocidade jamais vista. Eis senão, quando o
                                                               altarrão “Ervilhaca” se desequilibrou e, Zás,caiu de chapa
               Peripécia – Incidente inesperado que surpreende e como-  na  volumosa  ribeira,  de  rumo  certo  até  ao  caneiro  de
            ve. Mudança súbita de uma situação (do grego peripeleia)
                                                               Alcântara.
                 olta e meia acontece. Há um “pilão” que me contac-  Levado pela intensíssima corrente, o nosso “Ervilhaca”
            Vta para me relatar algo que de insólito lhe aconteceu,   correu perigo de assustar, sensação terrível dos seus com-
            enquanto aluno ou ex-aluno. Poderia citar vários exemplos   panheiros de situação. E foi então que um deles, o resolu-
            como  os  mais  recentes  do  Hipólito  (em  Dresden)  e  do   to timorense Aleixo (401 dos anos 50), brandiu uma es-
            Cândido (em Pequim).                               pécie  de  “grito  de  guerra”  e  conseguiu  resgatar  o
               Por mim reajo sempre de igual maneira:          “Ervilhava” de um muito cruel destino – o das mal chei-
               – A estória é gira. Escrevam-na para o “Boletim”.  rosas tubagens de Alcântara.
               E os meus interlocutores, por sua vez, contrapõem:  A malta aplaudiu o Aleixo e felicitou o “Zeca” Pereira
               – “Escreve tu. Eu conto e tu aproveitas o que eu disser”.  que, verdade se diga, não ganhou para o susto.
               E pronto! A peripécia fica a meu cargo, em prol das   A ribeira nunca mais encheu daquela maneira. O Alei-
            memórias “pilónicas”.                              xo já não está connosco, passou-se mais de meio século
               E  hoje  é  a  vez  do  relato  bem-humorado  do  “Zeca”   mas o comunicativo “Ervilhaca” fez questão de evocar essa
            Pereira,  popularizado  como “Ervilhaca”  assídua  presença   tão complicada peripécia.
            nos convívios do Instituto e da Associação. Foi ele quem   E  sobrou  para  nós,  como “escrevinhador”  de  serviço,
            nos “cravou” e, fazendo-lhe a vontade, aqui vai a peripécia,   fazendo  a  vontade  ao “Zeca”  Pereira  e  encetando  deste
            velha de 50 anos.                                  jeito, mais uma rubrica sobre tempos passados.



                 (continuação da página anterior)                –  Então  tu  estás  a  brincar  comigo?!  é  que  nem  me
                                                               passa pela cabeça que o estejas! Vem já para aqui expli-
            este é….. Mas não conseguiu dizer mais nada, parecendo   car-te direitinho! Vá, salta daí cá para baixo…
            desvairado … PORQUÊ?! Porque mal tinha pronunciado,   E  o  bom  do  João  Lourenço,  destroçado,  indignado  e
            no tal alto e bom som, a palavra EUREKA, logo a seguir   furioso foi, todo nervoso, confessar ao Brigadeiro Tamag-
            lhe tinham entrado pelos tímpanos adentro, em uníssono,   nini Barbosa a razão da sua infeliz actuação teatral, o que
            a palavra CARECA, bem vincada, ainda quase bichanada   provocou generalizadas contidas gargalhadas entre os pre-
            pelos dois “maraus”, mas perfeitamente audível para o João!  sentes, incluindo o próprio Brigadeiro, que logo ordenou
               –  Então  o  que  é  isso,  ó  João  Lourenço?!  Entra  lá   uma rigorosa caçada aos “engraçadinhos”!
            outra vez e vê lá se te concentras…Vá… Rápido que se   Caçada essa, aliás, completamente infrutífera porque
            faz tarde!                                         aqueles dois “mecos” sabiam o que faziam e despareceram
               O bom do João, meio confuso, porque não imaginava   em tempo oportuno, sem deixar rasto! Mas a mim conta-
            de  quem  estaria  a  ser  vítima,  lá  se  apressou  a  ir  fazer  a   ram-me porque também, normalmente, fazia com eles um
            entrada novamente, só que desta vez, para que ele não ti-  trio!
            vesse nem confusões, nem dúvidas, os dois “pardais” deixa-  Porém, agora, a coberto das festividades do Centenário
            ram-no dizer a frase toda: EurEKA! Cá está um e este é   do nosso IPE, julgo ser oportuno “denunciar” aqueles dois
            dos grandes! Para que ele não se alarmasse logo, e só depois   queridos condiscípulos, passados que estão apenas sessen-
            lhe “atiraram” com o careca, que o siderou, fazendo com   ta  e  seis  anos,  por  não  terem  esperado  que  eu  também
            que o Brigadeiro logo lhe gritasse, nada satisfeito:  pudesse ter entrado numa tal aventura com tanto êxito!



       8  Boletim da associação dos PuPilos do exército
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