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1911 - Querer é Poder - 2011
exaltam a figura do vosso Fundador e da vossa Casa.
Na senda destas duas grandes Escolas de Formação e de Ci-
dadania - a Academia Militar e o Instituto dos Pupilos do Exército
- é aqui imperioso que recordemos o repto de liderança exarado
pelo General António Xavier Correia Barreto. Para o Patrono dos
cursos de entrada deste ano lectivo de 2010/2011, era imperio-
so que as Forças Armadas estivessem dotadas de líderes corajo-
sos, empenhados, conscientes e tecnicamente bem preparados,
que nunca esquecessem as responsabilidades de um líder para
com os seus subordinados, liderando-os pela confiança, pela ho-
nestidade, pela justeza das suas decisões e pela rectidão do seu
carácter. Vós, Cadetes-Alunos, que sereis os líderes do futuro, não
podeis, de forma alguma, esquecer este emprazamento.
Correia Barreto foi promovido a Oficial General por nomeação
directa do Presidente da República, depois de ter desempenhado
com elevadíssima rectidão e extraordinária competência, alguns
dos mais relevantes cargos do seu tempo, tanto na hierarquia O então Coronel Correia Barreto, em 05 de Outubro de 1910,
militar, como no domínio político. Incansável na defesa dos ideais no Palácio de São Bento.
democráticos, foi inevitavelmente preso aquando do sidonismo.
Mas após o assassinato de Sidónio Pais, Correia Barreto voltou e tomou o carro para a sua residência”. Esse exacto momento,
então ao Senado, tendo presidido ao Tribunal Militar que julgou materializou o fim do parlamentarismo português e o fim da Pri-
os sidonistas. Quando acontece a Noite Sangrenta em 1921, meira República.
na qual seria morto - entre outros - Machado Santos, o herói Tendo-se retirado para Sintra, o General Correia Barreto assis-
da Rotunda na Implantação da República, Correia Barreto foi no- tiria à emergência e aos primeiros anos do Estado Novo. Viria a
vamente convidado a integrar o Governo. O País, aturdido pela falecer com 86 anos de idade. Não deixando herdeiros, as suas
desordem pública frequente e por crescentes problemas sociais, condecorações, louvores e farda, foram entregues à guarda do
precisava, mais uma vez, de referências. Entre essas, precisava in- Instituto dos Pupilos do Exército, onde ainda hoje se encontram.
dubitavelmente de Correia Barreto. Conhecido pelo seu carisma, Recentemente, a Câmara Municipal de Lisboa prestou-lhe home-
competência e indubitável dedicação à causa republicana, havia nagem, atribuindo o seu nome a uma avenida em Lisboa, nas
mesmo conquistado “uma aura de fiel da República”. E Correia freguesias de Benfica, São Domingos de Benfica e Campolide,
Barreto não só deu andamento aos processos judiciais dos im- contígua à Escola que fundou, o Instituto dos Pupilos do Exército.
plicados na “Noite Sangrenta”, como também, pelo seu desem- Também a Assembleia da República o homenageou, editando
penho extraordinário enquanto Ministro da Guerra e enquanto um livro sobre a sua vida e obra, exortando aquele que foi, sem
Presidente do Senado e do Congresso, firmaria, cada vez mais, qualquer sombra de dúvida, o mais ilustre Presidente do Senado
uma posição suprapartidária, associada sempre a uma imparciali- e do Congresso de toda a Primeira República.
dade inabalável e a um brio irrepreensível. O General António Xavier Correia Barreto constitui-se como
Do conjunto de condecorações conferidas a António Xavier uma expressão histórica das qualidades e das virtudes que ca-
Correia Barreto, pelos ilustres serviços prestados a Portugal nas racterizam não só o ideário militar, mas também os maiores va-
mais diversas funções e cargos que exerceu, destacam-se as se- lores de cidadania. Foi um militar distinto que se afirmou como
guintes: um modelo de perseverança e de progresso em prol do bem
- Grau de Oficial da Real Ordem Militar de São Bento de Aviz, comum. O valor emérito e a dimensão da sua personalidade,
em 1894; constituem um farol de referência que serve de guia e de rumo
- Medalha Militar de Prata de Comportamento Exemplar, em aos novos Cadetes-Alunos da Academia Militar, mas que também
1902; se oferece como um exemplo de amor à Pátria e à justiça, e de
- Medalha Militar de Prata da Classe de Bons Serviços, em obediência ao dever e ao sacrifício em prol do colectivo.
1902. Enquanto alicerce moral entre jovens do mesmo curso que
- Comendador da Real Ordem Militar de São Bento de Aviz, enfrentam, em conjunto, as mesmas adversidades, o General
em 1905; Correia Barreto representa um símbolo de união, de espírito de
- Louvor atribuído por Sua Majestade El-Rei D. Carlos, em corpo, de alento e de perseverança. Foi alguém que marcou o seu
1908; tempo, pela sua excepcional carreira militar, académica, científica
- Grande Oficial da Ordem Militar de Aviz, em 1919; e política, forjada determinantemente em ideais de liberdade e
- Medalha Militar de Ouro de Comportamento Exemplar, em de patriotismo. E nesse sentido, a vós, novos Cadetes-Alunos da
1919; Academia Militar, a vida e a obra do General António Xavier Cor-
- Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada, em reia Barreto constituir-se-ão como referências indeléveis do vosso
1919; trajecto académico e militar. Cabe-vos honrar a figura do vosso
- Grã-Cruz da Ordem Militar de Aviz, em 1920; Patrono, trabalhando arduamente para conquistarem os vossos
- Grã-Cruz da Ordem de Mérito Militar de Espanha, em objectivos. É esse o vosso desafio. O desafio de vencerem pelo
1922. vosso próprio esforço, oferecendo ao Exército, à Guarda Nacio-
nal Republicana e a Portugal aquilo que de melhor puderem ser
Quando acontece o 28 de Maio de 1926 e o consequente enquanto cidadãos e enquanto militares, fazendo assim inteira
encerramento do Parlamento, o Presidente do Senado e do Con- justiça ao adágio pronunciado pelo vosso Patrono, quando este
gresso era, precisamente, Correia Barreto. O insigne General, fa- afirmava que era “absolutamente indispensável ser superior: su-
zendo uso do elevado decoro e dignidade que o caracterizavam, perior pelo carácter, pelo coração, pelo espírito, pela educação
“Mandou buscar o chapéu e a pequena bengala que nunca e pela instrução”.
se separava e veio até ao átrio, onde se despediu, comovida- A todos, muito obrigado pela vossa atenção.
mente, de muitos dos seus correligionários. Depois desceu as Disse.”
escadarias, recebeu o último ‘apresentar de armas’ da sentinela
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