Page 41 - Boletim APE_219
P. 41

1911 - Querer é Poder - 2011



                                                                 - Comandante da 1.ª Divisão do Exército (nomeado para es-
                                                                 sas funções, por duas vezes);
                                                                 - Presidente da Comissão Administrativa do Concelho de Lis-
                                                                 boa;
                                                                 - Presidente da Câmara Municipal de Lisboa;
                                                                 - Ministro da Guerra do Governo Provisório (tendo sido Minis-
                                                                 tro da mesma pasta, por mais duas vezes);
                                                                 - Deputado à Assembleia Nacional Constituinte;
                                                                 - Senador (sendo eleito em todas as legislaturas);
                                                                 - Presidente do Senado e do Congresso (cargo que ocupou
                                                                 entre 1915 e 1926).

                                                                 Dotado de um elevado sentido do dever, Correia Barreto era
                                                              um  pragmático  por  excelência.  Essa  sua  postura,  aliada  a  um
                                                              sentimento pátrio inabalável, fizeram a diferença por diversas ve-
       O Fundador do Instituto, junto ao primeiro grupo de alunos.   zes. Para Correia Barreto, o interesse de Portugal estava sempre
                                                              primeiro que o interesse individual. Essa sua capacidade de ab-
       ventada por Alfred Nobel. A Pólvora Barreto, enquanto invenção   negação seria comprovada consecutivamente ao longo da sua
       bélica que se deve exclusivamente ao seu rigoroso trabalho e à   vida militar e, depois, no exercício de funções políticas. E sendo
       sua imensa capacidade técnica, foi uma das conquistas científi-  um defensor da formação humana nas fileiras, protagonizou em
       cas mais brilhantes que Portugal conseguiu naquela época. Essa   Maio de 1911 aquela que foi uma significativa reforma das Forças
       pólvora sem fumo, a Pólvora Barreto, era superior a todos os pro-  Armadas, tendo muito contribuído para as modernizar face aos
       dutos similares estrangeiros e viria mesmo a ser utilizada por ou-  novos desafios que emergiam naquela época. A reorganização
       tros exércitos, além das nossas Forças Armadas. Nesse domínio,   e modernização do Exército, apanágio do Governo Provisório da
       Correia Barreto afirmou-se muito cedo como um dos melhores   República Portuguesa, rendeu ao então Coronel Correia Barreto,
       químicos a nível nacional, reconhecido internacionalmente pela   Ministro da Guerra, os aplausos dos seus concidadãos e venceu a
       sua invenção e contribuindo de forma indelével para aumentar   resistência à mudança que já se adivinhava. Nesse compasso da
       o prestígio do Exército Português e levantar mais alto o nome   sua vida, juntou à sua invenção bélica, a Pólvora Barreto, aquilo
       de Portugal. Por várias vezes, os seus méritos científicos foram   que foi a elaboração de “uma lei de recrutamento genuinamente
       amplamente elogiados além fronteiras, não só em publicações   democrática”, num modelo plurifacetado que tinha sido aferido
       militares, como também em diversas revistas científicas de re-  do conhecido sistema suíço.
       ferência. É oportuno notar que Correia Barreto nunca requereu   Mas foi mais longe. Consciente de que o novo regime político,
       qualquer recompensa pelo seu assinalável feito. Como era seu   a República Portuguesa, deveria concorrer para melhorar os níveis
       timbre, ofereceu a Portugal, de forma abnegada, todos os benefí-  de escolarização dos seus cidadãos, encetou uma mudança es-
       cios que advieram dessa brilhante conquista científica.  trutural nos princípios de recrutamento e nos próprios processos
          Corolário do militar rigoroso, exigente consigo próprio e para   de instrução. A Correia Barreto se deve a implementação de um
       com os seus subordinados, mas prudente nas decisões e um   sistema de ensino onde os militares viriam a desempenhar um
       estudioso  por  excelência,  ainda  como  Capitão,  Correia  Barreto   papel fulcral no campo da Educação em Portugal. Entendida em
       foi nomeado para diversas funções de grande envergadura téc-  sentido lato, esta Educação incluía, entre outras áreas, a alfabeti-
       nica e de elevadíssima responsabilidade. Na direcção de Esta-  zação, o treino físico e a educação cívica dos cidadãos, militares e
       belecimentos tão importantes no seio da estrutura superior da   não militares. Interessava formar cidadãos úteis à Pátria, que pelo
       Instituição Castrense, ligados com a química de explosivos e com   seu esforço e pelo seu trabalho, aumentassem a riqueza do seu
       o material bélico adstrito ao Exército, Correia Barreto evidenciou   país e nunca se constituíssem como um encargo para os seus
       capacidades de liderança absolutamente notáveis. No desempe-  pares. A Pátria, ela sempre, estava primeiro.
       nho desses cargos, o seu trabalho foi sempre ratificado como um   Neste contexto, e dentro do propósito de fortalecimento da
       exemplo a seguir. A humanidade dos seus actos, a rectidão do   base social de apoio aos ideais do novo regime político e do
       seu carácter, a justeza das suas decisões e a inexcedível compe-  desenvolvimento  de  uma  verdadeira  “Educação  Republicana”,
       tência técnica, levaram-no a conquistar um manancial de confian-  situou-se, entre outras medidas políticas por si protagonizadas, a
       ça irredutível nos seus subordinados, fossem estes militares ou   criação do Instituto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra
       civis. As várias homenagens escritas que a ele foram endereça-  e Mar, o actual Instituto dos Pupilos do Exército. E isto, porque
       das, e que ainda hoje se podem consultar no Museu do Instituto   aos mais jovens, com destaque para os órfãos e para os mais
       dos Pupilos do Exército e também na Biblioteca Nacional, fazem   humildes filhos dos militares do 5 de Outubro de 1910, era im-
       prova inequívoca de um militar que era um líder por excelência   prescindível conferir-lhes uma oportunidade séria de se valoriza-
       e um especialista exímio, onde a humildade e a imparcialidade   rem, pelo estudo e pelo trabalho, possibilitando-lhes adquirir as
       sempre imperavam.                                      ferramentas educativas e profissionais essenciais para vingarem
                                                              na vida laboral. Prestes a comemorar o seu centenário, o Instituto
          Entre outros cargos que exerceu, destacam-se os seguintes:  dos Pupilos do Exército é hoje penhor seguro do testemunho de
          - Director do Laboratório Químico dos Estabelecimentos Fa-  centenas de gerações de alunos e alunas que ali se formaram
          bris do Exército;                                   para a vida e que, na vida castrense e na vida civil, tanto contribu-
          - Director da Fábrica de Pólvora Sem Fumo (posteriormente,   íram para o desenvolvimento de Portugal.
          ampliada e renomeada como Fábrica de Pólvora de Chelas,   Aproveitemos esta alusão para recordar que, nesta Cerimónia,
          da qual também foi Director);                       temos a honra e o prazer de contar com a presença de uma dele-
          - Director da Fábrica de Pólvora de Barcarena;      gação de oficiais e de alunos desse prestigiado Estabelecimento
          - Comandante do Regimento de Artilharia n.º 1;      Militar de Ensino, fundado em 25 de Maio de 1911. Para vós,
          - Director do Arsenal do Exército (nomeado para essas fun-  Pupilos do Exército, este também é um dia importante, que enal-
          ções, por várias vezes);                            tece os pergaminhos dos que vos antecederam e que enriquece
          - Comandante-Geral da Guarda Nacional Republicana;  o vasto número de efemérides que em cem anos de história,


                                                                                                   Pupilos
                                                                                                        do
                                                                                                dos
                                                                                      da
                                                                                        Associação
                                                                                                                 4
                                                                                                                 1
                                                                                                                |
                                                                                                          Exército

                                                                                Boletim
 dos
 Associação
 Pupilos
 Exército
 do
 40
 40 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército                             Boletim da Associação dos Pupilos do Exército | 41
 |
 da
 Boletim
   36   37   38   39   40   41   42   43   44   45   46