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1911 - Querer é Poder - 2011
- Comandante da 1.ª Divisão do Exército (nomeado para es-
sas funções, por duas vezes);
- Presidente da Comissão Administrativa do Concelho de Lis-
boa;
- Presidente da Câmara Municipal de Lisboa;
- Ministro da Guerra do Governo Provisório (tendo sido Minis-
tro da mesma pasta, por mais duas vezes);
- Deputado à Assembleia Nacional Constituinte;
- Senador (sendo eleito em todas as legislaturas);
- Presidente do Senado e do Congresso (cargo que ocupou
entre 1915 e 1926).
Dotado de um elevado sentido do dever, Correia Barreto era
um pragmático por excelência. Essa sua postura, aliada a um
sentimento pátrio inabalável, fizeram a diferença por diversas ve-
O Fundador do Instituto, junto ao primeiro grupo de alunos. zes. Para Correia Barreto, o interesse de Portugal estava sempre
primeiro que o interesse individual. Essa sua capacidade de ab-
ventada por Alfred Nobel. A Pólvora Barreto, enquanto invenção negação seria comprovada consecutivamente ao longo da sua
bélica que se deve exclusivamente ao seu rigoroso trabalho e à vida militar e, depois, no exercício de funções políticas. E sendo
sua imensa capacidade técnica, foi uma das conquistas científi- um defensor da formação humana nas fileiras, protagonizou em
cas mais brilhantes que Portugal conseguiu naquela época. Essa Maio de 1911 aquela que foi uma significativa reforma das Forças
pólvora sem fumo, a Pólvora Barreto, era superior a todos os pro- Armadas, tendo muito contribuído para as modernizar face aos
dutos similares estrangeiros e viria mesmo a ser utilizada por ou- novos desafios que emergiam naquela época. A reorganização
tros exércitos, além das nossas Forças Armadas. Nesse domínio, e modernização do Exército, apanágio do Governo Provisório da
Correia Barreto afirmou-se muito cedo como um dos melhores República Portuguesa, rendeu ao então Coronel Correia Barreto,
químicos a nível nacional, reconhecido internacionalmente pela Ministro da Guerra, os aplausos dos seus concidadãos e venceu a
sua invenção e contribuindo de forma indelével para aumentar resistência à mudança que já se adivinhava. Nesse compasso da
o prestígio do Exército Português e levantar mais alto o nome sua vida, juntou à sua invenção bélica, a Pólvora Barreto, aquilo
de Portugal. Por várias vezes, os seus méritos científicos foram que foi a elaboração de “uma lei de recrutamento genuinamente
amplamente elogiados além fronteiras, não só em publicações democrática”, num modelo plurifacetado que tinha sido aferido
militares, como também em diversas revistas científicas de re- do conhecido sistema suíço.
ferência. É oportuno notar que Correia Barreto nunca requereu Mas foi mais longe. Consciente de que o novo regime político,
qualquer recompensa pelo seu assinalável feito. Como era seu a República Portuguesa, deveria concorrer para melhorar os níveis
timbre, ofereceu a Portugal, de forma abnegada, todos os benefí- de escolarização dos seus cidadãos, encetou uma mudança es-
cios que advieram dessa brilhante conquista científica. trutural nos princípios de recrutamento e nos próprios processos
Corolário do militar rigoroso, exigente consigo próprio e para de instrução. A Correia Barreto se deve a implementação de um
com os seus subordinados, mas prudente nas decisões e um sistema de ensino onde os militares viriam a desempenhar um
estudioso por excelência, ainda como Capitão, Correia Barreto papel fulcral no campo da Educação em Portugal. Entendida em
foi nomeado para diversas funções de grande envergadura téc- sentido lato, esta Educação incluía, entre outras áreas, a alfabeti-
nica e de elevadíssima responsabilidade. Na direcção de Esta- zação, o treino físico e a educação cívica dos cidadãos, militares e
belecimentos tão importantes no seio da estrutura superior da não militares. Interessava formar cidadãos úteis à Pátria, que pelo
Instituição Castrense, ligados com a química de explosivos e com seu esforço e pelo seu trabalho, aumentassem a riqueza do seu
o material bélico adstrito ao Exército, Correia Barreto evidenciou país e nunca se constituíssem como um encargo para os seus
capacidades de liderança absolutamente notáveis. No desempe- pares. A Pátria, ela sempre, estava primeiro.
nho desses cargos, o seu trabalho foi sempre ratificado como um Neste contexto, e dentro do propósito de fortalecimento da
exemplo a seguir. A humanidade dos seus actos, a rectidão do base social de apoio aos ideais do novo regime político e do
seu carácter, a justeza das suas decisões e a inexcedível compe- desenvolvimento de uma verdadeira “Educação Republicana”,
tência técnica, levaram-no a conquistar um manancial de confian- situou-se, entre outras medidas políticas por si protagonizadas, a
ça irredutível nos seus subordinados, fossem estes militares ou criação do Instituto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra
civis. As várias homenagens escritas que a ele foram endereça- e Mar, o actual Instituto dos Pupilos do Exército. E isto, porque
das, e que ainda hoje se podem consultar no Museu do Instituto aos mais jovens, com destaque para os órfãos e para os mais
dos Pupilos do Exército e também na Biblioteca Nacional, fazem humildes filhos dos militares do 5 de Outubro de 1910, era im-
prova inequívoca de um militar que era um líder por excelência prescindível conferir-lhes uma oportunidade séria de se valoriza-
e um especialista exímio, onde a humildade e a imparcialidade rem, pelo estudo e pelo trabalho, possibilitando-lhes adquirir as
sempre imperavam. ferramentas educativas e profissionais essenciais para vingarem
na vida laboral. Prestes a comemorar o seu centenário, o Instituto
Entre outros cargos que exerceu, destacam-se os seguintes: dos Pupilos do Exército é hoje penhor seguro do testemunho de
- Director do Laboratório Químico dos Estabelecimentos Fa- centenas de gerações de alunos e alunas que ali se formaram
bris do Exército; para a vida e que, na vida castrense e na vida civil, tanto contribu-
- Director da Fábrica de Pólvora Sem Fumo (posteriormente, íram para o desenvolvimento de Portugal.
ampliada e renomeada como Fábrica de Pólvora de Chelas, Aproveitemos esta alusão para recordar que, nesta Cerimónia,
da qual também foi Director); temos a honra e o prazer de contar com a presença de uma dele-
- Director da Fábrica de Pólvora de Barcarena; gação de oficiais e de alunos desse prestigiado Estabelecimento
- Comandante do Regimento de Artilharia n.º 1; Militar de Ensino, fundado em 25 de Maio de 1911. Para vós,
- Director do Arsenal do Exército (nomeado para essas fun- Pupilos do Exército, este também é um dia importante, que enal-
ções, por várias vezes); tece os pergaminhos dos que vos antecederam e que enriquece
- Comandante-Geral da Guarda Nacional Republicana; o vasto número de efemérides que em cem anos de história,
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