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1911 - Querer é Poder - 2011
António Pinto PeReiRA
1976.0487
Apresentação do Livro “IPE 1911-2011”
rata-se de um profícuo trabalho, entre nós a todos os títulos nistrativista do Estado (do reforço da organização municipal e do
original, que visa proceder à recolha da informação aprofunda- associativismo até à ideia de federação dos povos peninsulares); o
Tda da história desta Instituição Militar de Ensino ao longo dos exercício do poder (a ditadura de João Franco; o regicídio); a ação
seus primeiros 100 anos de existência e que, juntamente com o política (a propaganda; a importância dos partidos políticos – o
Colégio Militar e o Instituto de Odivelas, têm caracterizado e forma- partido republicano, o partido socialista, os dissidentes progressis-
do inúmeras gerações de Mulheres e Homens Grandes deste país: tas); a influência de livres-pensadores (Eça de Queiroz, Antero de
os Homens distinguem-se pela barretina e pelo cavalheirismo; as Quental, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro); os pormenores da
Senhoras pela sua graciosidade e pela mais fina educação. tomada do poder (as forças da Carbonária; o bombardeamento
Estas são instituições de virtudes, quer pela qualidade do en- do Palácio das Necessidades; o assassínio de Miguel Bombarda;
sino, nos mais variados níveis de estudos, quer pela transmissão o curioso episódio da bandeira branca, que um mero acaso do
de valores, como a honra e o carácter (no plano pessoal), ou o destino interpretou como sinal de rendição da Monarquia; até à
sentido da competência e da responsabilidade (no plano profissio- implantação da República por telégrafo, a que se segue a formação
nal), que hoje, infelizmente, andam tão em desuso na crise que o do Primeiro Governo Provisório da República, o exílio do Rei D.
Estado Social atravessa. Manuel II e a adoção, no plano constitucional, da Constituição da
Por esta razão, a decisão de realização desta obra e o momento República Portuguesa de 1911).
de escolha do seu lançamento não poderiam ter sido mais felizes Outro aspeto particularmente significativo, e muito pouco es-
e oportunos. tudado entre nós, tem a ver com a importância histórica da orga-
Saúdo vivamente o seu autor, os Pupilos do Exército e a Asso- nização maçónica e do então designado Grande Oriente Lusitano
ciação de antigos alunos, por esta tão significativa e louvável ini- Unido no apoio e na origem da criação dos Pupilos do Exército (de
ciativa, que constitui um marco histórico e ao mesmo tempo um resto, o General Correia Barreto foi iniciado na Loja Portugal, em
derradeiro testemunho na linha da mais pura tradição de formação 1893); explanação que o autor deste trabalho desenvolve com a
de jovens militares que esta casa já regista ao cabo de 100 anos. adequada profundidade que a dimensão da obra exige.
Esta edição comemorativa é enriquecida por um prefácio do Prossegue com uma análise sobre a educação, o ensino e a
Professor Adriano Moreira, emérito académico e Presidente da formação desenvolvidas pelo Instituto ao longo dos seus primeiros
Academia das Ciências de Lisboa, que enaltece a importância cul- 100 anos. Cuida esta passagem de referir a dimensão tutelar e
tural da Escola, a riqueza do seu saber, bem evidenciado, nas suas social do Exército de Terra e Mar, com uma vertente social inicial-
próprias palavras, por um século de ação em que “uma cadeia de mente dirigida às classes de Sargentos e Praças, embora pouco
mestres consolidou a natureza institucional da organização”, como tempo depois abrangessem alunos provenientes de todas as clas-
“exemplo de liderança cívica”, e que, além disso, sublinha a impor- ses da hierarquia militar. A criação da instituição permite aos filhos
tância do seu padroeiro, D. João de Castro, por iluminar a perspeti- de militares falecidos em combate conseguirem uma educação
va da devoção ao interesse geral da Nação e do Estado. privilegiada e completa.
Do ponto de vista formal a obra tem 359 páginas e na sua A edição em causa reflete aspetos bastante descritivos e de
estrutura conta com seis capítulos – equilibrados e bastante bem pormenor, que oferecem ao leitor um conteúdo histórico riquís-
distribuídos do ponto de vista da riqueza de conteúdos, da docu- simo.
mentação fotográfica e das ilustrações históricas utilizadas (sempre Vale dizer que são referidos e caracterizados os diversos espa-
acompanhadas de valiosas notas explicativas) – ao longo dos quais ços existentes: o refeitório; os lavatórios; as aulas (de datilografia;
o autor vai desenhando os vários segmentos que mereceram o de estenografia; de transmissões; de sapataria; de construção civil e
seu estudo e atenta observação. moldes; de serralharia: de trabalhos manuais); os espaços técnicos
Começa por ser referido o percurso militar, político, científico e (os laboratórios; a sala de biologia); a 1ª Secção (inicialmente dedi-
pedagógico do General António Xavier Correia Barreto, fundador e cada ao Ensino Preparatório) e a 2ª Secção (inicialmente dedicada
primeiro Diretor desta casa, a qual começou por se designar Insti- ao ensino Profissional); as oficinas (de encadernação, de alfaiataria,
tuto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra e Mar. O Capitão de pintura decorativa); as áreas agrícolas (a horta, a vinha, a leitaria,
Rosado enaltece, naturalmente, a figura do fundador e aproveita os estábulos); as camaratas; a educação física; a instrução militar; a
para descrever, a propósito da génese deste estabelecimento, a formatura; a sala de armas; a arrecadação de material de guerra.
aliança que os Pupilos do Exército demonstram ter – na acentu- Também se explicita a sucessão de designações que o Instituto
ada vertente técnico-profissional de ensino – face à instituição da foi sofrendo. Eu, por exemplo, assisti a três durante o meu tempo:
República, a que estão associados desde sempre, como um dos o ITMP – Instituto Técnico Militar dos Pupilos do Exército; o IMPE
empreendimentos destinados a desenvolver a ação social e es- – Instituto Militar dos Pupilos do Exército; e o atual IPE – Instituto
colar, no âmbito dos princípios militares, que refletem os ideais dos Pupilos do Exército.
republicanos de então. Assinala-se ainda a evolução relativa aos vários níveis de ensino,
Aliás, o Colégio Militar está para a Monarquia, como os Pupi- sobre os traços marcantes que se deixam aos inúmeros cursos
los do Exército estão claramente para a República e para os seus técnicos e profissionais e, de entre estes, tanto aos cursos gerais,
valores e para a satisfação das necessidades específicas do novo como aos diversos cursos especializados (de comércio; de conta-
regime político implementado, por força da revolução, em 05 de bilidade; de máquinas; de construções civis e obras públicas; de
Outubro de 1910. eletrotecnia; de minas; de indústrias químicas), como aos cursos
Este fenómeno é tratado e desenvolvido com rigor histórico, no industriais (da indústria, propriamente dita, aos cursos de habilita-
que se refere à caracterização e mudança dos regimes na viragem ções complementares: serralheiro mecânico, serralheiro civil, fundi-
do século: a situação económica (desde a crise social ao agrava- dor, ferreiro forjador, mecânico de automóveis, eletricista, auxiliares
mento das condições da classe média e do operariado, passando químicos), como, por fim, aos cursos de organização reduzida com
pelo agravamento das condições financeiras); a construção admi- especialidades (compositor tipográfico, impressor e encadernador).
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