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Cultura &            A TRAVIATA
               Actualidade




                     ontinuando  a  falar  de   um  pouco  piro-
                     ópera e para fechar o ci-  so, serve de tema
                     clo de Verdi, vamos re-    a  uma  das  mais
                     lembrar  um  pouco  da     bonitas  óperas
           CTraviata,  ópera  estrea-           de Giuseppe Ver-
           da em 1853 em Veneza no teatro “     di
           La  Fenice”.  Surpreendentemente        Francesco Ma-
           o público não a aceitou muito bem    ria Piave, amigo e
           e a estreia foi um grande fracasso,   um  dos  princi-
           mas em encenações seguintes teve     pais libretistas de
           enormes êxitos e foi depois consi-   Verdi,  escreve
                            derada uma das      um  libreto  sobre
                            mais belas obras    o tema, Verdi
                            de Verdi.           constrói  a  músi-
                               A l e x a n d r e   ca e nasce a ópera                sos nada atrás destes.
                            Dumas Filho es-     “La Traviata” que à letra quer dizer   Para aqueles que não assistam
                            creveu um livro     “A Transviada”.                      a  espectáculos  de  ópera,  existe
                            que intitulou de       Esta é uma das novas óperas de    discografia variada com árias can-
                            “A  Dama  das       Verdi que à semelhança do Rigol-     tadas pelos melhores tenores e so-
                            Camélias”.  Des-    letto  e  do  Trovador,  apresentam   pranos mundiais, como Pavaroti,
            Rui Cabral Telo  crevia a vida de   uma forma diferente do que até aí    Plácido  Domingo,  Maria  Callas,
                 (19480265)  um a cortesã em    eram as óperas da época. É uma       Ana  Mofo  e  Monserrat  Caballé
                            França,  que  vi-   obra de lindas árias e de uma con-   entre muitos outros. Esta última,
                            via  uma  vida      tinuidade entre elas bastante me-    como sabem, bem nutrida e cheii-
           desregrada,  sempre  em  festa  e    lodiosa  fugindo  ao  que  até  aí  se   nha de carnes, consegue arrebatar
           subsistindo por conta de diversos    usava  de  falas  musicadas  muito   o público na ária da morte de Vio-
           senhores que a mantinham como        entediantes.                         letta,  apesar  do  seu  físico  não  se
           amante.  Mas  o  amor  entra  em        Margarida Gautier passa a Vio-    coadunar  muito  com  uma  tísica
           cena e a nossa Margaritte Gautier,   letta  Valéry  e  Armand  Duval      em fase terminal. Mas a ópera tem
           assim  se  chamava,  conhece  um     transforma-se  em  Alfredo  Ger-     destas coisas, a música consegue
           cavalheiro,  Armand  Duval,  e       mont.                                empolgar  e  fazer  esquecer  algu-
           apaixonam-se perdidamente. Cla-         A ópera é normalmente repre-      mas  imagens  não  concernentes
           ro que o Pai do cavalheiro, senhor   sentada em 4 ou 3 Actos. Em mui-     com  o  desenrolar  da  história.
           nobre  e  de  nome  intocável,  não   tas  das  encenações  o  3º  acto  é   Houve  encenações  em  que  o  pú-
           pode permitir tal devaneio a seu     apresentado como sendo a segun-      blico  aplaudiu  de  pé  quase  até  à
           filho e acaba por falar com a nossa   da cena do 2º.                      exaustão, a representação e o can-
           heroína obrigando-a a abandonar         Todas  as  cenas  são  normal-    to de Monserrat.
           tal  amor  para  salvação  de  Ar-   mente ricas em ambiente e vestu-                     **
           mand.  Assim,  Margaritte  renun-    ário, quase sempre em festa quer       Se com este meu pequeno resu-
           ciando ao seu grande amor, volta     em casa de Violetta quer de suas     mo  conseguir  fazer  com  que  al-
           à  sua  vida  desregrada  deixando   amigas.                              guns pilões fiquem com vontade e
           Armand  completamente  destro-          Das  árias  mais  bonitas  desta-  acabem por vir a assistir a alguma
           çado  e  de  coração  partido.  Mas   cam-se a célebre canção do cham-    das  encenações  que  frequente-
           tarde,  Margaritte  muito  doente,   panhe, que os americanos intitu-     mente aparecem no nosso País, já
           com  a  tísica  (tuberculose),  acaba   laram “drinking song” e também    dei  por  bem  empregue  o  pouco
           por receber Armand no seu leito      o “sempre libera” em que Violetta    tempo que levei a escrevê-lo.
           de  morte.  Aí,  Armand  jura-lhe    canta fazendo ver a tudo e todos o     Vão ver A Traviata e apreciem
           que  sempre  manteve  por  ela  um   quanto preserva a sua liberdade.     um bom espectáculo que alia uma
           amor que será eterno e quer conti-      Já  vi  em  Lisboa  duas  encena-  boa e alegre música a um ambien-
           nuar a viver com ela. Mas já é tar-  ções da Traviata, uma no São Car-    te de festa e de luxo apesar do seu
           de  e,  Margaritte,  completamente   los  e  outra  no  Trindade,  ambas   triste final, que muitas vezes dei-
           tomada pela doença, apesar de lhe    muito  bem  conseguidas  em  que     xa o espectador com uma lagrimi-
           fazer crer que aceita a sua decisão,   entravam alguns dos nossos bons    nha no olho.
           acaba por morrer-lhe nos braços.     cantores  juntamente  com  outros
           Este  romance,  poderemos  dizer,    estrangeiros, não ficando os nos-



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