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                                  D. Pedro de Almeida Portugal:


                                  da maldição do nome Távora ao



           DAVID PASCOAL ROSADO   terrível destino da Grande Armée
           19850253




                       “Obtive então um cavalo árabe, que me foi dado pelo Marquês de Alorna naquelas críticas
                       circunstâncias, quando eu já não tinha cavalo algum e não podia marchar a pé por falta de
                       forças; muito grande favor me fez este bravo e afável general, que assim me salvou a vida.”
                                                  Oficial português, na retirada da Grande Armée na Rússia



               vida de D. Pedro de Almeida Portugal, 3.º Marquês   seriam dirigidos para Pedro Teixeira (valido do Rei e quem
           A  de Alorna e 5.º Conde de Assumar, foi um caminho   o ajudava nos encontros clandestinos) com o qual o Duque
           de persistência e de luta pelo prestígio da honra. Plena de   de Aveiro tinha um diferendo. Sem certezas, caminhamos
           percalços,  intrigas,  ódios  e  tragédias,  a  vida  do  “último   apenas no trilho das hipóteses.
           Távora” continua a interessar os estudiosos da época, pela   Mas para Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de
           circunstância  de  nada,  ou  quase                                    Oeiras e depois Marquês de Pom-
           nada, ter sido linear no seu per-                                      bal, o poderoso ministro de D. José,
           curso  social,  militar  e  político.                                  nunca houve dúvidas. A sua justi-
           Sobretudo  por  esta  razão,  como                                     ça  seria  temerária.  O  palácio  do
           sempre, foi a História quem tratou                                     Duque de Aveiro, em Belém, foi
           de  acertar  as  contas  do  passado,                                  demolido e o terreno foi salgado,
           fazendo justiça à sua memória.                                         para  que  nunca  mais  nada  ali
              Podemos  dizer  que  tudo  co-                                      crescesse.  Ainda  hoje  se  pode
           meçou  na  manhã  do  dia  13  de                                      observar,  no  chamado  Beco  do
           Janeiro de 1779. Junto ao rio Tejo,                                    Chão Salgado, um marco alusivo
           num  descampado  próximo  da                                           que foi mandado erigir por D. José.
           Torre de Belém, “uma espessa fu-                                       A execução, muito violenta mesmo
           marada  negra  subiu  no  céu  de                                      para os padrões da época, consti-
           Lisboa, ao som de gritos de deses-                                     tuiu  um  sério  aviso  para  que  a
           pero”.  Ali,  “no  meio  de  indizíveis                                nobreza  nunca  mais  se  rebelasse
           tormentos” morreram os marqueses                                       contra a autoridade régia.
           de Távora (D. Francisco de Assis                                          Neste contexto, percebe-se que
           de Távora e D. Leonor de Távora)                                       toda a culpa do pai de D. Pedro
           e os seus filhos (Luís Bernardo e                                      de Almeida Portugal, D. João de
           José  Maria),  no  epílogo  de  um   A Família Alorna, em quadro de Domenico Pellegrini  Almeida Portugal, 2.º Marquês de
           processo-relâmpago cuja sentença                                       Alorna, era, na verdade, ser casa-
           esteve decidida desde o seu início.                do com uma Távora. E de facto, mesmo tendo escapado
              D. Pedro de Almeida Portugal, ao tempo com apenas   a todo aquele suplício, é sabido que para os Alornas a sua
           cinco anos, não presenciou aquela tragédia dos seus avós   ventura ou maldição tinha apenas começado: D. João de
           e tios maternos, mas muito cedo perceberia que aquela   Almeida Portugal foi encarcerado no forte da Junqueira e
           enorme injustiça marcaria para sempre o seu destino.  a sua esposa (D. Leonor de Lorena e Távora) e filhas no
              De um momento para o outro, o prestígio e o poder   lúgubre convento de Chelas. O cárcere não foi breve e as
           da família Távora tinham-se desvanecido. No centro des-  consequências seriam muito significativas.
           te episódio, ficava gravada a relação de D. José com Tere-  Durante dezoito anos, Pedro ficaria longe da família,
           sa de Távora (esposa do marquês novo, Luís Bernardo) e   com  a  sua  educação  a  ser  velada  por  Sebastião  José  de
           o nunca provado atentado contra o Rei, acontecido quan-  Carvalho e Melo, por sinal, o carrasco que perseguira a
           do este regressava para as tendas da Ajuda depois de uma   sua  família  (e  que  assim  continuou  durante  os  anos  de
           noite com a sua amante. Muito provavelmente, os tiros   privação de liberdade). Prisioneiro, também ele, do nome



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