Page 46 - Boletim APE_226
P. 46
cuLTuRA E cONhEcImENTO
D. Pedro de Almeida Portugal:
da maldição do nome Távora ao
DAVID PASCOAL ROSADO terrível destino da Grande Armée
19850253
“Obtive então um cavalo árabe, que me foi dado pelo Marquês de Alorna naquelas críticas
circunstâncias, quando eu já não tinha cavalo algum e não podia marchar a pé por falta de
forças; muito grande favor me fez este bravo e afável general, que assim me salvou a vida.”
Oficial português, na retirada da Grande Armée na Rússia
vida de D. Pedro de Almeida Portugal, 3.º Marquês seriam dirigidos para Pedro Teixeira (valido do Rei e quem
A de Alorna e 5.º Conde de Assumar, foi um caminho o ajudava nos encontros clandestinos) com o qual o Duque
de persistência e de luta pelo prestígio da honra. Plena de de Aveiro tinha um diferendo. Sem certezas, caminhamos
percalços, intrigas, ódios e tragédias, a vida do “último apenas no trilho das hipóteses.
Távora” continua a interessar os estudiosos da época, pela Mas para Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de
circunstância de nada, ou quase Oeiras e depois Marquês de Pom-
nada, ter sido linear no seu per- bal, o poderoso ministro de D. José,
curso social, militar e político. nunca houve dúvidas. A sua justi-
Sobretudo por esta razão, como ça seria temerária. O palácio do
sempre, foi a História quem tratou Duque de Aveiro, em Belém, foi
de acertar as contas do passado, demolido e o terreno foi salgado,
fazendo justiça à sua memória. para que nunca mais nada ali
Podemos dizer que tudo co- crescesse. Ainda hoje se pode
meçou na manhã do dia 13 de observar, no chamado Beco do
Janeiro de 1779. Junto ao rio Tejo, Chão Salgado, um marco alusivo
num descampado próximo da que foi mandado erigir por D. José.
Torre de Belém, “uma espessa fu- A execução, muito violenta mesmo
marada negra subiu no céu de para os padrões da época, consti-
Lisboa, ao som de gritos de deses- tuiu um sério aviso para que a
pero”. Ali, “no meio de indizíveis nobreza nunca mais se rebelasse
tormentos” morreram os marqueses contra a autoridade régia.
de Távora (D. Francisco de Assis Neste contexto, percebe-se que
de Távora e D. Leonor de Távora) toda a culpa do pai de D. Pedro
e os seus filhos (Luís Bernardo e de Almeida Portugal, D. João de
José Maria), no epílogo de um A Família Alorna, em quadro de Domenico Pellegrini Almeida Portugal, 2.º Marquês de
processo-relâmpago cuja sentença Alorna, era, na verdade, ser casa-
esteve decidida desde o seu início. do com uma Távora. E de facto, mesmo tendo escapado
D. Pedro de Almeida Portugal, ao tempo com apenas a todo aquele suplício, é sabido que para os Alornas a sua
cinco anos, não presenciou aquela tragédia dos seus avós ventura ou maldição tinha apenas começado: D. João de
e tios maternos, mas muito cedo perceberia que aquela Almeida Portugal foi encarcerado no forte da Junqueira e
enorme injustiça marcaria para sempre o seu destino. a sua esposa (D. Leonor de Lorena e Távora) e filhas no
De um momento para o outro, o prestígio e o poder lúgubre convento de Chelas. O cárcere não foi breve e as
da família Távora tinham-se desvanecido. No centro des- consequências seriam muito significativas.
te episódio, ficava gravada a relação de D. José com Tere- Durante dezoito anos, Pedro ficaria longe da família,
sa de Távora (esposa do marquês novo, Luís Bernardo) e com a sua educação a ser velada por Sebastião José de
o nunca provado atentado contra o Rei, acontecido quan- Carvalho e Melo, por sinal, o carrasco que perseguira a
do este regressava para as tendas da Ajuda depois de uma sua família (e que assim continuou durante os anos de
noite com a sua amante. Muito provavelmente, os tiros privação de liberdade). Prisioneiro, também ele, do nome
44 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército