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EVOcAÇÕEs
Como nasce um paradigma?
ANTóNIO TEIXEIRA MOTA
19720021
“Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui…” Se fosse possível perguntar a algum deles por que batiam
em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:
egundo o Dicionário Universal da Língua Portuguesa, “Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui...”
Sda Texto Editora, 1995, 1ª Edição, um paradigma Imagino já quem pergunte qual a razão de escrever
significa: um modelo; uma norma; um padrão. um artigo sobre esta experiência, mas digo que, depois de
Há algum tempo atrás recebi um e-mail com um tí- a ter lido (independentemente da mesma ser verdadeira
tulo bastante sugestivo: “Como nasce um paradigma?”: ou não), me lembrei do paradigma em que vivi enquanto
apesar de pensar ser mais um daqueles que recebo e clas- aluno dos Pupilos, e de ter sobre ele agora questionado
sifico de “e-mails da treta”, a credibilidade do remetente alguns modos de actuação, que à época nunca ousei ques-
e o título, levaram-me, quase de imediato, a abrir e ler o tionar.
seu conteúdo. Questiono-me essencialmente sobre as praxes que se
O texto explicava o nascimento de um paradigma e, faziam aos alunos mais novos, e se os alunos mais velhos,
para melhor entendimento do que escreverei mais adian- que as praticavam, saberiam responder à pergunta deixa-
te, peço que o leiam. Dizia exactamente assim: da no final da experiência do e-mail. Estou convencido
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa que a resposta seria exactamente igual àquela que os
jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cientistas pensavam receber se os intervenientes da expe-
cacho de bananas. riência falassem:
Quando um macaco subia a escada “Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui…”
para apanhar as bananas, os cientistas Pensando no paradigma relatado naquela
lançavam um jacto de água fria nos que experiência, recuei rapidamente no
estavam no chão. tempo quarenta anos e transportei-
Depois de certo tempo, quando um -me para o início dos anos 70.
macaco ia subir a escada, os outros en- Revi-me na condição de aluno mais
chiam-no de pancada. novo e, num ápice, disparam na
Passado mais algum tempo, ne- minha mente e numa fracção de
nhum macaco subia mais a esca- segundos, milhentas lembranças:
da, apesar da tentação das bana- – Quem não se lembra de ser
nas. sido mandado por um aluno mais
Então, os cientistas substituíram um dos cinco velho medir a parada com um pau
macacos. de fósforo e de, depois de ter passado horas a medir, no
A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, sendo final, o resultado em número de paus ser sempre consi-
rapidamente dela retirado pelos outros, que o surraram. derado errado, sendo obrigado a repetir a medição?
Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo – Quem não se lembra de ter “lerpado”, para os mais
não subia mais a escada. velhos, os “comes” que trazia no final de domingo, depois
Um segundo macaco foi substituído, e o mesmo ocorreu, de mais uma saída de fim-de-semana?
tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da – Quem não se lembra de passar horas a engraxar
surra ao novato. sapatos, a arear botões e a fazer camas nas camaratas dos
Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto. alunos mais velhos?
Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi – Quem não se lembra do Carnaval, tão temido pelos
substituído. alunos mais novos que, só pelas histórias que ouviam
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco contar, se lhes fosse possível, passariam de bom grado esta
macacos que, mesmo sem nunca terem tomado um banho de época fora dos Pupilos?
água fria, continuavam a bater naquele que tentasse chegar – Quem não se lembra de, no Carnaval os mais velhos
às bananas. invadirem as camaratas dos mais novos, e destes para se
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