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evocações




           QUeiróS De AzeVeDo
           1944286
                                 Bem hajam pelo bem que nos fizeram!







                s  Estabelecimentos  de  Ensino,  em  minha  opinião,   a  ser,  pelo  menos  até  ao  fim  da  guerra  colonial,  na  qual
           Onormalmente deixam marcas indeléveis, ainda que   pude constatar que em todas as frentes onde estive encon-
           boas ou más, para toda a vida daqueles que por eles pas-  trei ex-alunos a comandar P.A.D. (Pelotões de Apoio Di-
           saram durante vários anos da sua juventude.        recto a toda a espécies de armamento e a viaturas milita-
              No meu caso de ex-aluno dos Pupilos do Exército é com   res,  ligeiras  e  pesadas)  e  D.T.V.A.C.  (Destacamentos
           o maior desassombro que assumo o dever de gratidão (e a   Territoriais de Viveres e Artigos de Cantina) nas zonas de
           devoção!) que tenho para com o nosso centenário IPE, por-   guerra.  Mas  a  intervenção dos  pilões  não se  limitava ao
           que os nove anos que lá passei foram a base formativa do   duro trabalho e grandes responsabilidades do apoio logís-
           meu carácter e de alguma resistência física que ainda possuo.   tico, porque também os havia nas tropas de Comandos,
              E  a  minha  vida,  tal  como  a  dos  muitos  milhares  de   nos Pára-quedistas e nos Fuzileiros Navais, alguns agracia-
           portugueses que foram à guerra colonial, não foi uma “pêra   dos  com  várias  condecorações,  até  à Torre  e  Espada  do
           doce” não, em Goa, Moçambique, Guiné e Angola, sempre   heróico  Alberto  Rebordão  de  Brito,  Capitão  de  Mar  e
           em lugares de grande responsabilidade. Tão grande e por   Guerra Fuzileiro Especial. E também grandes figuras de
           vezes tão perversa que até me ofereci para servir nos Co-  pilões se destacaram nas retaguardas, nas Chefias dos Ser-
           mandos, como uma fuga para a frente para melhor servir   viços  de  Intendência,  de  Administração  Militar  e  nas
           Portugal. Um equivoco político que, julgava eu honesta-  Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, chefiadas
           mente, me libertaria dos difíceis silenciosos combates que   principalmente por competentes ex-pilões, para que o bom
           travei contra o “pior inimigo invisível” desta nossa Pátria   funcionamento das quais proporcionassem às tropas ope-
           que é, por definição castrense, o Ideal Nacional que vive   racionais as condições necessárias para obterem êxito nas
           impulsionado por interesses morais e psicológicos que   suas missões porque… nem todos os dias se combate mas
           devem estar sempre muito acima dos interesses materiais,   todos os dias se come, se veste e… etc!
           ou  seja,  a  corrupção:  essa  espécie  de  polvo  maligno  de   Então falemos, ainda que resumidamente, como é ób-
           tentáculos miméticos que até aos dias que correm está a   vio que terá de ser, dos elementos que, a par da disciplina
           levar Portugal ao caos, a que agora depreciativamente as   e  das  saudáveis  circunstâncias  em  que  fomos  educados,
           sumidades especuladoras internacionais designam por lixo!   nos formaram intelectualmente para a vida, pelos conhe-
              Felizmente,  ou  infelizmente,  vá-se  lá  saber  porquê,   cimentos que nos transmitiram durante as aulas que nos
           apesar  de  ter  sido  oficialmente  elogiado  por  escrito,  em   ministraram. E não os poderia aqui citar a todos, não só
           despacho oficial, por querer trocar uma vida maioritaria-  porque teria de transformar este texto num livro de vários
           mente burocrática por outra em que correria naturalmen-  volumes,  como  também  porque  certamente  correria  o
           te  os  ricos  inerentes  ao  combate,  não  fui  autorizado  a   risco  de  me  tornar  maçador,  por  ser  matéria  que  todos
           deixar o meu serviço para ir servir nos Comandos (aliás,   viveram, coisa que não desejo e muito me desgostaria!
           o mesmo acontecendo, na mesma ocasião, ao nosso Boa-  Há, no entanto, a considerar que nem tudo na nossa
           vida  Pinheiro,  1944033,  considerado  um  dos  melhores,   educação foi positivo, como é humano que assim seja!
           senão o melhor aluno do meu curso) e até passar à situa-  Então, dado que assim seja, e para rimar, vou-vos falar
           ção  de  reserva  continuei  a  ter  bastas  vezes  a  corrupção   de um excepção. Vou-vos falar do “Cavalão”!
           como inimigo principal, podendo até aos dias que correm   Este senhor professor do IPE, também conhecido entre
           constatar que não se vislumbram quaisquer esperanças de   nós  por  “Palmitatos”  e  por  “Entrudo”,  era  o  “terror”  de
           vitória  sobre  tão  maligno  monstro,  que  desde  tempos   todos aqueles que o temiam… Como é óbvio!
           imemoriais, ciclicamente, tem assolado Portugal!        Homem a rondar os cinquenta e tantos anos, de perfil
              E é para comentar convosco a educação, que no Pilão   ancilosado  inclinado  para  a  frente  equilibrado  por  um
           tivemos, que estou a escrever estas linhas.        traseiro  espetado  para  trás,  o  que  lhe  pronunciava  um
              Consoante  a  definição  de  um  conceituado  jornalista,   curioso  perfil  condimentado  por  um  proeminente  nariz
           creio que do Mundo Desportivo, que foi fazer uma repor-  adunco, sustentando um par de óculos de grande gradua-
           tagem à 1ª Secção, se a memória me não falha em 1953,   ção; visual este complementado por um chapéu de feltro
           o IPE era uma “Escola de técnicos militares e forja de atletas”.   castanho  claro  de  aba  frontal  abatida,  enquanto  que  a
           E, sem dúvida que assim era por essa altura e continuou   traseira era notoriamente levantada.


                                                                                          Boletim da associação dos PuPilos do exército  7
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