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evocações
já ao Sanches da Gama e pedia-lhe para dizer ao pai do canto décimo, do “non plus ultra” poema: “Os Lusíadas”!
que aceitava. Da minha parte pode desde já, ausentar-se E que já há mais de quatrocentos anos, dorme o eterno
daqui sempre que precise para tratar do que quiser. E sono na Ermida da Senhora da Consolação, da terra que
quando voltar da Índia, se voltar, pois as indianas são sempre amou e tanto honrou.
muito atraentes e meigas, poderá apresentar-se aqui e Passei então esses dois meses aspirando os ares não
voltar a trabalhar tal como até hoje tem feito.” Fui e tão poluídos do Alto Alentejo e desgastando aquela
voltei, não obstante uma grave recaída de febre tifóide, saudade que trazia. E bebendo a água sã, da monumen-
no Hospital de Ribandar, que na altura, quase sempre tal fonte da minha terra, com seis escultóricas carrancas
era decisiva… Mas graças ao Dr. Lobato de Faria, goês, que a expelem pelas bocas de bronze. Cercada de exten-
que então era o Director do Hospital e da Escola Médica sas e largas bancadas. Tudo em mármore de Estremoz,
de Goa, retomei o meu lugar até ao fim. E fazendo o cujo castelo tem a mais bela torre de menagem de Por-
caminho inverso em avião da TWA com idênticas para- tugal!
gens regressei a Lisboa. Quando no avião me entrega- Como outrora, nas férias escolares, passeava pelas
ram o boletim em que tinha de indicar quanto tempo alvas ruas da vila e pelos campos cobertos por searas, que
queria ficar em Lisboa, brincalhão como sempre tenho me lembravam aquele soneto que ganhou o primeiro
sido, escrevi: “Para Sempre…” Mas assim não aconteceu. prémio de uns jogos florais de Évora, da autoria do nosso
Fiquei quase dois meses no Alandroal, onde tinham fica- Professor de “Física e Química”, do nosso “Curso Com-
do “os piões da minha infância”… E os familiares e os plementar de Industria”, o Cap. Dr. Tavares Dias, no qual
amigos. ele dizia:
Que muito gostaram de me ouvir contar que, em Goa, “…a seara é mar que ondula e cai distante / como
sempre que me deslocava em serviço ao “Palácio do Idal- outro mar a perder-se no horizonte…”
cão – onde funcionava o Governo Geral – passava sempre Ou então passeava pelas ameias do extenso e belo
pelo grande salão onde estavam os grandes retratos de Castelo Medieval do Alandroal, no qual a um extremo
todos os Vice-reis e Governadores da Índia Portuguesa”, ficava a que creio antiga casa de armas do Castelo, pos-
para uma saudação muito especial, ao meu caro conter- teriormente adaptada a escola, onde comecei a libertar-me
râneo, o alandroalense Diogo Lopes de Sequeira, que foi do horroroso analfabetismo, através da “Cartilha Maternal”,
lá o quarto governador! E ao qual o maior português de do simples e espontâneo poeta do amor ingénuo e cris-
todos os tempos, o cultíssimo e lucidíssimo poeta Luís talino, que foi João de Deus.
Vaz de Camões, dedicou toda a estância cinquenta e dois, E onde tive a inefável sorte de encontrar duas ines-
quecíveis e queridas professoras, (Alice e Conceição) que
na generalizada opinião pública, eram muito bondosas,
sabedoras e amistosas. O que, creio, em mim fez germinar
e frutificar o meu sempre continuado amor pelos livros
e pela cultura! A qual como já há dois milénios e meio
dizia o Supremo Orador Demóstenes e, (que saibamos),
mais de três dezenas dos seus geniais pares de todos os
tempos, engrandeceram e glorificaram. Todos eles com
expressões idênticas ou equivalentes a esta, sua:
“A Cultura é a única moeda pela qual vale a pena
trocar todas as outras”
E ainda, para que, não obstante vir a diplomar-me
em Engenharia Civil e de Minas, no nosso IPE, como
incontestavelmente se vê, na minha carta de curso,
(que menciona, com as classificações finais obtidas em
cada cadeira, as obrigatórias: dez cadeiras bianuais e
ainda outras dez anuais, além de dois tirocínios, um
em Hidráulica e outro em Minas). E mesmo assim e
ainda a exercer a profissão e com encargos familiares,
embora postumamente, realizei o grande sonho do
meu pai, de ter um filho formado na Faculdade de Di-
reito da vetusta e tão prestigiada Universidade de Coim-
bra.
10 Boletim da associação dos PuPilos do exército