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rejeitadas ou passarão despercebidas enquanto as mensa- vamente da vida em sociedade de forma menos
gens de consumo apontarem na direcção oposta. materialista (talvez um bom projecto para mobilizar a
A crescente preocupação em relação à recessão social “geração à rasca”, penso).
tem inspirado iniciativas com a finalidade de melhorar o É já inconcebível a ideia de um mundo em que tudo
bem-estar e de adoptar um “hedonismo alternativo” no- continua a funcionar da mesma forma de sempre, salienta
meadamente tendo como base novas fontes de identidade, Tim Jackson. Há que questionar a natureza do progresso
de criatividade e de significado que se encontram fora do tal como nos foi ensinado pela sabedoria convencional uma
âmbito do mercado. Comunidades “intencionais” de pe- vez que não existe, de momento, nenhum cenário credível,
quena dimensão (como a Findhorn, na Escócia, ou a Plum socialmente justo e economicamente sustentável para o
Village, em França) exploram a arte do possível. E movi- crescimento contínuo dos rendimentos de sete biliões de
mentos mais abrangentes de carácter social como o “cida- pessoas (população mundial estimada para o corrente ano)
de de transição” estão a mobilizar pessoas que pretendem ou nove biliões (em 2050, segundo as actuais estimativas,
viver de forma mais sustentável. Estas iniciativas, embora período em que os actuais dirigentes dos maiores partidos
não apelem a todos, proporcionam uma plataforma de políticos em Portugal terão a idade que tem actualmente
aprendizagem de valor dando pistas sobre as potencialida- Mário Soares).
des para mudanças sociais mais vastas. Há limitações Após se debruçar longamente sobre as questões de
evidentes para a conquista desta felicidade (prosperidade), meio ambiente e ecologia a introdução ao relatório conclui
como o de privilegiar objectivos intrínsecos (a ligação à que “para as economias avançadas do mundo ocidental, a
família e à comunidade) em vez de extrínsecos (que vin- prosperidade sem crescimento já não é um sonho utópico.
culam à ostentação e ao estatuto social). Esta mudança Constitui sim, uma necessidade ecológica”.
estrutural assenta em duas vias fundamentais: diminuir até Para um país como Portugal que atravessa grave crise
acabarem os incentivos de toda a ordem à improdutiva económica, financeira, de valores e tem necessidade de
competição por estatuto (em que o sucesso de um acon- uma profunda reforma económica e social (os maiores
tece à custa de outros) e o estabelecimento de novas es- desafios da história recente do país), a análise deste rela-
truturas que forneçam às pessoas aptidões (para prospe- tório e dele tirar pistas e ideias para o futuro, afigura-se-me
rarem) e lhes permitam participar significativa e criati- de grande importância.
Boletim da associação dos PuPilos do exército 19