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cróNicas



            erNANi BALSA
            19600300



            falar de política… sem falar de política…






                 omo falar de política sem falar de política!?... pensei   da produção de bens, mas que passou de instrumento a
            Cnesta equação aqui há dias, ao lembrar-me que tinha   objectivo  desenfreado,  chegando-se  ao  cúmulo  de  se
            que escrever este texto. este ou outro. mas, a singularida-  produzir riqueza apenas com a sua circulação, sem que
            de  da  questão,  o  desafio  e  o  próprio  exercício  criativo,   qualquer processo produtivo, transformador ou criativo
            levou-me a agarrar a ideia…                        tivesse lugar na sua génese. passou-se a gerar dinheiro do
               na realidade, estou ciente, que num contexto como o   dinheiro, e claro abstraindo-nos do puro acto de fabrico
            que se aplica a esta minha colaboração, a política deverá   material das notas e moedas, esse sim, o único acto ver-
            estar afastada dos temas a abordar. mas, no entanto, o que   dadeiramente  industrial  a  ele  associado,  tudo  o  resto
            é a política (?), pensei… “o termo política é derivado do   passou  a  reger-se  pela  invenção  de  processos,  mais  ou
            grego  antigo  πολιτεία  (politeía),  que  indicava  todos  os   menos  fraudulentos  ou  negativamente  engenhosos  de
            procedimentos relativos à  pólis, ou cidade-Estado. por ex-  fazer  o  dinheiro  crescer,  sem  que  nada  de  realmente
            tensão, poderia significar tanto  cidade-Estado, quanto so-  produtivo contribuísse para tal, com a agravante de que,
            ciedade,  comunidade,  colectividade  e  outras  definições   por tal processo, só quem tivesse acesso a quantias  con-
            referentes à vida urbana”. é portanto uma coisa que tem   sideráveis  de  dinheiro  o  conseguia  fazer  multiplicar
            a ver com todos os cidadãos e não tem, obrigatoriamen-  quase infinitamente… quem tivesse o apenas indispensá-
            te, que implicar ideologia ou partidos. ou melhor ainda,   vel para se sustentar, ou pior ainda, aqueles que nem isso
            não é imprescindível que se abordem, defendam ou ata-  tinham, ficaram reféns dos créditos ou, na pior das hipó-
            quem as opções de cada um, sobre a melhor maneira de   teses, da miséria absoluta…
            a exercer. é um exercício difícil, isso é, mas possível de   dir-me-ão,  ah!  isso  é  política  e  com  a  agravante  de
            levar  a  bom  termo,  se  houver  cuidado  e  respeito  por   conter em si opções ideológicas… eu diria, sim é política,
            todos…                                             mas o seu conteúdo é meramente tecnocrático e finan-
               os  dias  que  hoje  atravessamos  são  indissociáveis  de   ceiro, usando variáveis e parâmetros adequados à mani-
            preocupações  ligadas  a  este  tema,  bem  assim  como  à   pulação da realidade das actividades económicas, tornan-
            economia  mundial  e  mais  agrestemente,  ao  dinheiro,  o   do-as em realidades virtuais à medida da voraz ganância
            seu significado e a utilização que lhe tem sido dada, no-  de  uns  quantos  prestidigitadores  da  alta  finança,  sem
            meadamente depois de mudanças importantes no equilí-  escrúpulos,  princípios  ou  valores.  ideologia  é  coisa  que
            brio  das  nações,  que  todos  nós  reconhecemos  terem   não existe a esse nível. apenas existem desígnios e uma
            acontecido com a queda do bloco de leste e a consequen-  perigosa articulação e manipulação de novas regras, cria-
            te derrocada dum conceito científico de sociedade ideal,   das em benefício duma infinita sede de lucros.
            mas também com a inevitável anarquia que tomou posse   na verdade as actividades industriais, fabris, as manu-
            dum  capitalismo,  até  aí  contido  e  ainda  com  algumas   facturas, a prospecção e recolha de bens da natureza e
            preocupações  deontológicas  e  sociais,  que  de  repente   mesmo as complementares e paralelas actividades comer-
            elegeu aquela figura, hoje quase mítica, dos “mercados”,   ciais, deixaram de ser um meio e passaram apenas a ser
            como uma desculpa, quase obrigação, de tudo na vida das   instrumentos menores que apenas contribuem para uma
            pessoas, na ordem mundial e até no mais íntimo de cada   inimaginável circulação do dinheiro, sem outro fim que
            um de nós, passar a ser regulado pela voraz ganância de   não seja inventar mais dinheiro para os mesmos benefi-
            uns,  apoiando-se  na  cada  vez  maior  dependência  dum   ciários.  os  países,  as  pessoas,  as  famílias,  endividam-se
            enorme,  dum  imenso  mar  de  gente,  que  passou  a  ser   porque  para  tudo  precisam  de  dinheiro  e  os  donos  do
            escravo dessa quase religião duma livre iniciativa selvagem   dinheiro acodem às suas dificuldades para receberem os
            e sem pudor.                                       créditos que serviram para lhes pagar outros créditos, num
               o dinheiro, passou a ser uma espécie de símbolo dum   turbilhão de endividamentos que mantêm na escravidão
            qualquer eldorado, que já não tinha o objectivo de servir   milhões de pessoas e países que antes eram nações inde-
            ao jogo equilibrado das transacções, assentes no primado   pendentes e prósperas, tendo-se agora tornado em reféns




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