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desta cornucópia duma ambição desmedida… a solida- formam em números e dividendos. um exército de seres
riedade passou a soletrar-se como empréstimo a altos amorfos e insensíveis, carregados de teorias pornografica-
juros. a beneficência, por muito sincera que seja, um mente analíticas, apenas, tomou conta do futuro de cada
mecanismo que atrás de si envolve sempre contrapartidas, um de nós e candidamente justifica a nossa inevitável
que não morais ou espirituais… escravidão e o derradeiro esforço que nos obriga a viver
olho para o nosso mundo, hoje em dia, e fico triste. cada vez pior, na mira, quase inatingível, de que haverá
desolado. enraivecido e indignado. mas ao mesmo tempo, um outro futuro melhor, mas mais duro, que nunca che-
insubmisso e revoltado. sinto que as pessoas acreditaram ga, numa escalada que nunca tem fim… e ainda por cima
que o mundo era evolução, quando afinal hoje apenas é nos faz sentir culpados dos erros que os seus mentores
transformação. uma cópia fraudulenta e contrafeita do displicentemente foram cometendo para alimentar um
sonho que durante décadas, séculos talvez, nos fizeram progresso que apenas desagua num auto-genocídio da
acreditar. nada do sonho de ontem pode hoje ser consi- nossa sociedade…
derado adquirido. a própria esperança prostituiu-se. os somos todos testemunhas e simultaneamente execu-
nossos filhos já não são nossos filhos, mas enteados da tores deste suicídio colectivo!
dívida colossal que lhes criámos, porque acreditámos que o sonho já não existe! o sonho é, hoje em dia, também
a política, essa tal, da qual quereria falar sem dela falar, uma fraude! e nós somos todos os arquitectos deste edi-
se transformou num negócio em que a economia substi- fício horrendo e de vãs estruturas… só uma nova ordem
tuiu as constituições dos países, as regras da boa convi- mundial, assente no primado da pessoa, do ser humano
vência entre os estados, os programas dos governos, os e do inegável direito à vida, nos poderá ainda salvar, mas
princípios e valores sociais. a própria economia, como ela para isso, quanto teremos de sofrer?... o que teremos de
era, já não é! a economia é um jogo ardiloso de interesses destruir para reconstruir do nada aquele sonho que nos
que se impõem e sobrepõem a tudo e a todos, cavalgan- roubaram!?...
do na crista da ganância e do desprezo pelos mais fracos, seremos hoje os derradeiros derrotados do caos que
criando mentes vazias e sem escrúpulos que tudo trans- prenunciará o recomeço?...
Boletim da associação dos PuPilos do exército 21