Page 23 - Boletim APE_222
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desta cornucópia duma ambição desmedida… a solida-  formam em números e dividendos. um exército de seres
          riedade  passou  a  soletrar-se  como  empréstimo  a  altos   amorfos e insensíveis, carregados de teorias pornografica-
          juros.  a  beneficência,  por  muito  sincera  que  seja,  um   mente analíticas, apenas, tomou conta do futuro de cada
          mecanismo que atrás de si envolve sempre contrapartidas,   um  de  nós  e  candidamente  justifica  a  nossa  inevitável
          que não morais ou espirituais…                     escravidão e o derradeiro esforço que nos obriga a viver
            olho para o nosso mundo, hoje em dia, e fico triste.   cada vez pior, na mira, quase inatingível, de que haverá
          desolado. enraivecido e indignado. mas ao mesmo tempo,   um outro futuro melhor, mas mais duro, que nunca che-
          insubmisso e revoltado. sinto que as pessoas acreditaram   ga, numa escalada que nunca tem fim… e ainda por cima
          que o mundo era evolução, quando afinal hoje apenas é   nos faz sentir culpados dos erros que os seus mentores
          transformação.  uma  cópia  fraudulenta  e  contrafeita  do   displicentemente  foram  cometendo  para  alimentar  um
          sonho que durante décadas, séculos talvez, nos fizeram   progresso  que  apenas  desagua  num  auto-genocídio  da
          acreditar. nada do sonho de ontem pode hoje ser consi-  nossa sociedade…
          derado  adquirido.  a  própria  esperança  prostituiu-se.  os   somos todos testemunhas e simultaneamente execu-
          nossos  filhos  já  não  são  nossos  filhos,  mas  enteados  da   tores deste suicídio colectivo!
          dívida colossal que lhes criámos, porque acreditámos que   o sonho já não existe! o sonho é, hoje em dia, também
          a política, essa tal, da qual quereria falar sem dela falar,   uma fraude! e nós somos todos os arquitectos deste edi-
          se transformou num negócio em que a economia substi-  fício horrendo e de vãs estruturas… só uma nova ordem
          tuiu as constituições dos países, as regras da boa convi-  mundial, assente no primado da pessoa, do ser humano
          vência  entre  os  estados,  os  programas  dos  governos,  os   e do inegável direito à vida, nos poderá ainda salvar, mas
          princípios e valores sociais. a própria economia, como ela   para isso, quanto teremos de sofrer?... o que teremos de
          era, já não é! a economia é um jogo ardiloso de interesses   destruir para reconstruir do nada aquele sonho que nos
          que se impõem e sobrepõem a tudo e a todos, cavalgan-  roubaram!?...
          do na crista da ganância e do desprezo pelos mais fracos,   seremos hoje os derradeiros derrotados do caos que
          criando mentes vazias e sem escrúpulos que tudo trans-  prenunciará o recomeço?...

















































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