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1911 – querer é Poder – 2011

                             PuPilos  do  exército  –  100  aNos  de  eNsiNo  e  cidadaNia


          ANTóNio riBeiro DA SiLVA
          1960.0093


          Pupilos do exército


          Nascimento e morte dos contabilistas






            Vamos  aqui  tentar  analisar  a  evolução  verificada  ao   técnicos indispensáveis à vida e eficiência da força armada”
          nível do ensino professado nos Pupilos do Exército através   tornando-o um “estabelecimento de preparação profissio-
          das principais reformas curriculares ocorridas ao longo dos   nal militar tão basilar para a vida do Exército como é o
          tempos e que de uma maneira geral potenciaram a atrac-  Colégio  Militar  em  relação  a  recrutamento  e  formação
          tividade da Escola com a criação de cursos, equivalentes   educativa de futuros oficiais de carreira”.
          aos existentes nos institutos Comerciais e Industriais, quer   São  então  mantidos  e  revistos  os  cursos  técnicos  e
          se denominassem Cursos Médios (anos 30 a 60) ou Bacha-  acabam com os Cursos de Agentes Técnicos.
          relatos/Cursos Superiores Politécnicos, mais recentemente.  Porém, não se atrevem a fazer o mesmo ao Curso de
            Passados 5 anos sobre a sua fundação em 25 de Maio   Contabilistas, que é mantido nos Pupilos do Exército, com
          de 1911, foram introduzidos nos Pupilos do Exército os   o fim de “habilitar candidatos ao futuro ingresso no curso
          Cursos Secundários de Comércio e de Indústria que per-  de  administração  militar  e  de  administração  naval,  do
          mitiam o acesso respectivamente ao Instituto Superior de   Exército e da Armada” (art. 3º).
          Comércio  e  ao  Instituto  Superior  Técnico  (Decreto  nº   Não foi assim por acaso que durante décadas uma fatia
          2.382 de 11 de Maio de 1916), escolas estas a que adian-  substancial dos oficiais de Administração Militar do Exér-
          te também nos referiremos.                         cito (e mais tarde também da Marinha e Força Aérea) era
            Em  1923  são  criados  o  Curso  médio  de  comércio,   oriunda da nossa Escola.
          Curso  de  máquinas,  Curso  de  electrotecnia,  Curso  de   Nesta reforma houve mesmo uma ascensão em termos
          construções civis e obras públicas, Curso de minas, Curso   de hierarquia militar já que pela primeira vez na vida da
          de indústrias químicas, idênticos aos professados nos ins-  nossa Escola se permite que estes seus alunos ascendam
          titutos  comerciais  e  industriais  (art.  7º  do  Decreto  n.º   directamente à classe de Oficiais, com a categoria de as-
          9.104 de 6 de Setembro).                           pirante  a  oficial  miliciano  do  serviço  de  administração
            A  reforma  realizada  em  1930,  através  da  publicação   militar, se “terminarem com aproveitamento o curso médio
          do  Decreto  nº  18.876  de  23  de  Setembro,  mantém  os   de comércio e tiverem informação favorável na instrução
          Cursos Médios de Comércio e Engenharia criados em 1923,   militar. Os restantes serão promovidos a furriéis milicianos
          que refere logo no seu art. 1º que os Pupilos do Exército   de infantaria”. (último § do art. 12º).
          asseguram  cursos  destinados  a  formar  (entre  outros):   O estigma da origem social está no entanto bem pa-
          Agentes Técnicos de Engenharia e Contabilistas.    tente neste diploma legal já que o seu art. 18º estabelece
            Pelo Decreto n.º 21.627 de 30 de Agosto de 1932 fica   claramente o seguinte: “Em regra, os candidatos filhos de
          estabelecido que os alunos habilitados com o curso com-  oficiais são destinados ao curso médio de comércio para
          pleto do Colégio Militar ou com curso médio de comércio   futuro ingresso no curso de administração militar da Es-
          do  Instituto  Profissional  dos  Pupilos  dos  Exércitos  de   cola do Exército. Além destes, podem, dentro do número
          Terra e Mar serão graduados em “primeiro-sargento cade-  estabelecido, matricular-se outros alunos que tenham ter-
          te” quando desejarem alistar-se no exército (art. 1º).  minado o curso de formação com classificação geral igual
            Inexplicavelmente, este diploma legislativo não conce-  ou superior a 12 valores”.
          de o mesmo tratamento aos seus homólogos da área in-  A descriminação negativa dos filhos de praças e sargen-
          dustrial, com os Cursos de Agentes Técnicos obtidos nos   tos  (a  larga  maioria  da  população  escolar)  fica  ali  bem
          Pupilos  (art.  2º),  que  são  assim  vítimas  de  tratamento   patente, já que a estes era exigida uma prova acrescida de
          discriminatório negativo.                          valia intelectual que aos filhos de oficiais era garantida por
            Na reforma curricular levada a efeito em 1948 (De-  simples berço/origem.
          creto-Lei n.º 37.136 de 5 de Novembro) o Instituto Pro-  Estávamos  em  pleno  Estado  Novo  e  Santos  Costa,
          fissional dos Pupilos do Exército sofre um downgrade e é   então Ministro da Guerra de Salazar, mostrava bem o seu
          transformado  em “escola  de  recrutamento  de  artífices  e   pendor classista.


                                                                                        Boletim da associação dos PuPilos do exército  49
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