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1911 – querer é Poder – 2011

                             PuPilos  do  exército  –  100  aNos  de  eNsiNo  e  cidadaNia


          ANTóNio PiNTo PereirA
          1976.0487
                                                                       marchar a Direito!


                                                                o Decreto de 25 de maio de 1911




            Meus queridos amigos e antigos colegas. Foi-me solici-  tintos: o Decreto de 25.05.1911 que estabelece a Organi-
          tada  a,  para  mim  honrosa  colaboração  no  Boletim  da   zação Geral do Exército (Ordem do Exército, 1ª Série, nº
          nossa Associação de antigos alunos através de envios regu-  11, de 26.05.1911, p. 571); o Decreto de 25.03.1911 que
          lares de artigos relacionados com a temática do Direito e   institui a Inspeção do Serviço Telegráfico Militar (Ordem
          da Justiça. Depois de muito ter pensado sobre o tema criei   do Exército, 1ª Série, nº 11, de 25.05.1911, p. 596); o De-
          esta nova rubrica regular “Marchar a direito!”, com a qual   creto de 25.05.1911 que cria a Obra Tutelar e Social do
          viso uma aliança entre o Direito e o mundo militar, que   Exército (Ordem do Exército, 1ª Série, nº 12, de 27.05.1911,
          me ajudou a formar, e a mais uns quantos milhares de ex-  p. 874); o Decreto de 25.05.1911 que determina a Orga-
          alunos  ao  longo  destes  últimos  cem  anos.  Somos  todos   nização da Escola de Guerra (sem referência de publicação
          ‘Filhos da Alvorada’ e com os mesmos valores aprendemos   encontrada na Ordem do Exército).
          a tornar realidade o lema que desde sempre nos foi incu-  É o Decreto de 25.05.1911 que cria a Obra Tutelar e
          tido: Querer é Poder! Aproveito o nosso centenário para ir   Social  do  Exército  que  nos  merece  particular  atenção  e
          às raízes e ver como surgiu esta casa “tão bela e tão ridente”.  interesse. Trata-se de um diploma que, de acordo com o seu
                                                             objetivo preambular, se inclui na obra da República: “A obra
            “Neste Portugal de seis milhões de habitantes, com uma   da Republica tem de ser, sob esse ponto de vista colossal; é
          taxa de analfabetismo de 75%, a República recém inaugu-  necessário criar homens que pelo trabalho e esforço proprios
          rada, de evidente pendor jacobino e anti-clerical, publica os   se  mantenham  na  vida  com  independencia  e  dignidade;  é
          seus principais esteios legais, designadamente a nova Cons-  preciso formar cidadãos uteis á Patria” (versão original).
          tituição  do  regime  e  a  Lei  de  Separação  do  Estado  e  das   O  desiderato  do  legislador  foi,  neste  contexto,  o  de
          Igrejas. Ao mesmo tempo, cria as Universidades de Lisboa e   permitir ao Ministério da Guerra cooperar na grande obra
          do Porto e reforma o ensino primário. O Partido Republicano   de renovação social da República (objetivo “de alevantado
          divide-se e Afonso Costa sobressai. De Espanha, as primeiras   alcance  moral  e  interesse  social”  por  forma  a  “proteger  e
          incursões  monárquicas,  que  o  novo  poder  consegue  jugular   educar os filhos dos seus funccionários que venham encontrar-
          com  relativa  facilidade.  Do  interior,  a  crescente  afirmação   se  em  condições  de  necessitarem  do  seu  auxílio”,  como
          reivindicativa dos operários e trabalhadores agrícolas repri-  também  consta  do  original),  instituindo  as  escolas  dos
          mida pelos sucessivos governos” (www.fmsoares.pt em nota   regimentos com um duplo objetivo: a) educar os filhos dos
          cronológica referente a 1911).                     militares, evidenciando-os como elementos de “regeneração
            Estando o 1º Governo da novel República empenhado   social”; b) concorrer para a educação dos próprios milita-
          em  criar  o  tecido  normativo  específico  que  marcaria  a   res através do contacto com os alunos das escolas.
          mudança de regime, com uma orientação predominante-  Curiosamente, não se pretendeu alcançar a obrigatorie-
          mente  militar,  tendo  em  conta  a  origem  dos  desígnios   dade de exclusivo domínio das carreiras científicas e lite-
          nacionais  subjacentes  à  revolução  de  1910,  assiste-se  ao   rárias. Como também resulta do preâmbulo do decreto em
          longo de 1911 a uma surpreendente sucessão de atos ju-  causa, essas carreiras deveriam ficar reservadas para aqueles
          rídicos (referenciados em www.exercito.pt): a 23.01.1911   que para elas demonstrassem extraordinária aptidão, pondo
          é  criado  o  Regulamento  Disciplinar  do  Exército;  a   até de parte, como então se dizia, “o velho preconceito de
          04.02.1911 é instituído o Regulamento para a Concessão   fazer bacharéis ou diplomados”, a todo o custo. Sublinha-se,
          de Medalhas Militares; a 02.03.1911 é estabelecida a Lei   ao invés, o melhor e mais amplo aproveitamento dos alunos
          do Recrutamento; a 16.03.1911 é elaborado o Regulamen-  em qualquer ramo de atividade social, já que o ressurgi-
          to  de  Continências  e  Honras  Militares  e  é  adotado  o   mento  da  Pátria  exige  cidadãos  aptos  para  o  comércio,
          Código de Processo Criminal Militar.               indústria, agricultura, etc., e será para essas profissões que
            Nesta voracidade com vista a disciplinar o novo sistema   a  nova  instituição  militar,  designada  por  ‘Obra Tutelar  e
          legislativo e militar da República é marcante o dia 25 de   Social do Exército’, preparará os seus alunos, visando garan-
          Maio  de  1911,  em  que  são  adotados  diversos  diplomas,   tir-lhes, desde logo, uma primeira colocação que lhes ser-
          ainda que com importância e alcance relativamente dis-  virá de verdadeiro tirocínio de vida.


                                                                                        Boletim da associação dos PuPilos do exército  53
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