Page 56 - Boletim APE_221
P. 56
1911 – querer é Poder – 2011
A referida obra compreende o Instituto de Torre e tério da Guerra, trata-se de um internato (por isso, os
Espada (atual Instituto de Odivelas), o Instituto Profissio- alunos não poderiam sair do Instituto, salvo durante as
nal dos Pupilos do Exército, a par da remodelação do férias ou por motivo de casamento, doença grave ou mor-
Colégio Militar, que, sob o ponto de vista “scientifico e te de familiar próximo) de ensino e educação, com uma
litterario”, integravam a rede de estabelecimentos de ensi- oferta educativa, cultural e militar bastante ampla, situada
no do Ministério da Guerra, enquanto instituições consi- em 2 graus: a) o ensino primário elementar; b) o ensino
deradas de utilidade pública (podendo por isso receber primário superior.
doações, legados ou heranças). Terminado o curso complementar, o conselho escolar
Os seus alunos ficariam, de pleno direito, sob a prote- classificaria os alunos para o ensino liceal, agrícola, indus-
ção do Estado, indistintamente escolhidos de entre os trial ou comercial, segundo as aptidões reveladas e, a
varões de menos de “quatorze annos completos” e os dos partir daí, o último grau, composto pelos cursos agrícola,
sexo feminino de menos de “dezasseis annos completos”, industrial e comercial.
filhos de praças em ativo serviço, sargentos ou oficiais do Ao nível específico do ensino primário superior existiam:
exército, do quadro permanente, desde que se encontrassem i) para a prática agrícola, terrenos próprios para horta, jar-
em condições ou de orfandade ou de carência económica. dim, vinha e pomar, leitaria, estábulos, armazéns e oficinas
A estes alunos seriam incutidos os valores da Repúbli- agrícolas; ii) para o industrial, oficinas de marcenaria, enta-
ca: “o amor ao trabalho, o respeito á virtude, os sentimentos lhador, pintura decorativa, cerâmica, serralharia, mecânica
bondosos, a tenacidade, a resistenciaás fadigas e contrarieda- e artística, fotografia, gravura, litografia, tipografia, eletrici-
des, a fraqueza e a vontade firme são qualidades a incutir no dade, telegrafia e telefonia; iii) para o comércio, aulas escri-
espírito da creança”. O conhecimento do valor do trabalho tórios. Para auxiliar o ensino existiam um museu, uma bi-
ressaltaria à saciedade sob todos os seus aspetos, “mesmo blioteca e laboratórios de física, química e antropometria.
d’aquelles que o preconceito faz considerar como deprimente, Do ponto de vista cultural previam-se aulas de canto,
pois assim adquirirão toda a sua superioridade e independen- música, jogos livres, ginástica e excursões para o ensino
cia, que dá a convicção de que tudo se sabe fazer”. dos alunos de todos os graus; e oficinas de trabalhos ma-
Do ponto de vista da concretização desta obra de no- nuais e pequenos jardins e hortas, para aprendizagem dos
tável relevo e importância social, a educação seria feita com alunos do ensino complementar.
recurso às caixas de crédito, jardins recreios, associações Do ponto de vista militar, todos os alunos deveriam
excursionistas, bibliotecas escolares, colónias de férias, etc. receber a instrução militar preparatória, nos termos da lei
As escolas, a funcionar junto de cada regimento, deve- em vigor.
riam contar com um número mínimo de 15 e um núme- Ao nível estrutural, os alunos eram distribuídos por
ro máximo de 60 alunos, ocorrendo as admissões no início duas secções: a 1ª Secção destinava-se ao ensino primário
de cada ano letivo. complementar (e viria a ocupar o antigo Convento de S.
O ensino nas escolas atingiria três diferentes níveis Domingos de Benfica e cerca anexa, onde ainda hoje se
(ministrado segundo os programas oficiais): a) o ensino encontra); a 2ª Secção dirigia-se ao ensino primário supe-
primário elementar; b) o ensino primário complementar; rior (e viria a instalar-se no antigo Hospício de Santa
c) o ensino primário superior, composto pelos cursos agrí- Isabel e Quinta da Alfarrobeira, onde ainda hoje também
cola, industrial e comercial. se encontra).
Os professores eram escolhidos de entre os capelães A 1ª Secção era composta por classes de alunos (com
do então extinto corpo de capelães militares ou entre os múltiplos de 30), em função das suas idades, e cada classe
sargentos do ativo que tivessem o maior número de habi- devia formar uma verdadeira família, com partilha recí-
litações literárias e houvessem mostrado aptidões especiais proca de respeito, estima, auxílio, sacrifício, benefício e
para o ensino primário. trabalho, sendo o seu regime ou governo o mesmo de uma
As festas realizadas em cada escola e os exercícios, família regular e honesta, de modo que os respetivos alu-
trabalhos ou provas escolares deveriam ter a assistência nos fossem tratados e dirigidos como crianças. As várias
das praças do respetivo regimento: “isto com o fim de fami- classes deveriam ser repartidas por pavilhões autónomos
liarizá-las com os modernos methodos de ensino applicaveis ou em camaratas, isoladas entre si.
ás crianças; de fazê-las sentir o dever dos paes, até ao sacri- A 2ª Secção era igualmente composta por classes de
ficio, de mandar os filhos á escola; e de se lhes mostrar a alunos (também com múltiplos de 30), conforme as idades
influencia profunda dos paes sobre o caracter e futuro dos e cursos. Mas cada aluno já poderia habitar num quarto
seus filhos”. Além disso, estas festas deveriam ter um pendor individual, onde tinha todas as suas coisas de uso pessoal,
essencialmente educativo, mais do que um espetáculo“para e a arrumação, guarda, conservação e limpeza tanto dessas
prazer exclusivo dos convidados”. coisas como do próprio aposento.
No caso específico do então criado Instituto Profissio- Entre todos os alunos não deveriam fazer-se distinções,
nal dos Pupilos do Exército, sob a dependência do Minis- uma vez que o regime e o tratamento a todos aplicáveis
54 Boletim da associação dos PuPilos do exército