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evocações
LicíNio grANADA
1949.0154
Boletim da APe. Um longo percurso
Sessenta e oito anos na vida duma publicação periódi- A perspectiva de quem se entrega ao torvelinho da escri-
ca, tantos quantos conta o nosso Boletim, é um longo ta é a de agregar maior número possível de leitores, razão
espaço temporal. São milhares de páginas ligadas ao passar pela qual nada desagrada mais a quem escreve, do que ver
dos anos, retratos duma comunidade e dum lugar, registos passar em branco o conteúdo mental que pretende trans-
de acontecimentos que marcaram um tempo e uma vida. mitir aos outros.
Horas passadas de dia e de noite, de caneta e papel na O Boletim é também um mensageiro do Pilão. Por ele
mão, diante da máquina de escrever ou em frente do tenho recordado com aprazimento colegas meus contem-
computador, cerzindo factos, ideias, acontecimentos ou porâneos, já entrados no limiar do esquecimento. De alguns
rebuscando memórias, no apelo do compromisso e do só guardo uma imagem difusa e fugaz – o Beni, o Alfara-
estímulo associativo, na dimensão social com que a vida zes, o Toíka, o Pinguim, estes afortunadamente entre nós.
se abre todos os dias. Documento histórico e psicológico, Mas como a vida não é linear, perdi companheiros de
tributário do passado e do presente, o Boletim começou estudos e de folguedos, que dir-se-ia, tiveram uma passagem
a ser impresso a “stencil”, seguindo o natural processo efémera por este mundo, dos quais me subsiste uma per-
evolutivo até apresentar o grafismo, a estética e a excelen- sistente recordação. Este texto vai longo e o excesso can-
te qualidade de papel actuais. Segundo os registos escritos, sa. Tenciono preparar futuramente outro artigo para
foi no ano de 1943 que este laço cultural entre todos os evocar alguns nomes a quem o Boletim muito deve. Porém,
pupilos teve o seu nascimento, graças ao fervor e à perse- não posso silenciar hoje a figura veneranda de Augusto
verança de alguns pilões em cujo espírito pulsava o anseio Martins Dias, cidadão probo, personalidade voluntariosa e
de dar vida a um meio informativo que perpetuasse a cortês que à Associação prestou assinaláveis serviços até
memória dos tempos vividos na “casa tão bela e tão riden- ao fim da vida. Deixou-nos para sempre em Setembro de
te” e daqueles que nos acompanharam nessa caminhada 2010, num transe doloroso que nos compunge a todos. A
de esperança. Coube a Santos Lino – Alberto Silva Santos presença entre nós deste pilão exemplar perdurará na
Lino, aluno nº 101 de 1921, ao seu empenhamento cívico nossa memória colec-
e à sua vontade forte, a honra de ser o fundador deste tiva. É triste perder-
órgão, projecto em que foi galhardamente apoiado pelo mos amigos e cole-
idealismo de outros pilões, seus contemporâneos. A todos gas com quem per-
é devida a nossa perene gratidão. corremos os mesmos
Mas o Boletim também deve a sua existência e lon- caminhos e parti-
gevidade ao escol de obreiros que ao longo dos anos, na lhámos sentimen-
azáfama do corre-corre quotidiano e dos acasos da vida, tos e anseios co-
se têm empenhado com determinação e dinamismo em o muns. Mas quando
produzir e fazer chegar regularmente às mãos dos leitores. se persiste em
Gente altruísta essa, que subtraindo horas aos seus lazeres, viver, torna-se
as repartem com os outros na laboriosa feitura desta obra desolador sentir
cultural com densidade humana, matriz ética duma co- que o mundo,
munidade singular, socialmente heterogénea, decerto, mas pouco a pouco,
unida por um passado comum e por um património de se despovoa
valores que pontuaram indelevelmente a sua vida. Leitura daqueles que
de eleição, alguns temas do Boletim podem naturalmente o destino nos
oferecer maior ou menor interesse, conforme a sensiblida- deu por com-
de com que cada leitor interioriza sentimentos e emoções. panheiros de jornada.
Boletim da associação dos PuPilos do exército 13