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1911 – querer é Poder – 2011

                             PuPilos  do  exército  –  100  aNos  de  eNsiNo  e  cidadaNia


          DAViD PAScoAL roSADo
          1985.0253

          A carbonária Portuguesa e o outro lado da História




                        “A República implantou-se no Terreiro de Paço, naquela tarde trágica de Fevereiro; implantaram-na
                        Buíça e Costa, pese bem embora aos senhores pausados, vazios e bons burgueses que disso e doutros
                        desatinos sobem a sacudir as mãos na varanda de Pilatos.”
                                                                                 Aquilino Ribeiro 1


            A Carbonária Portuguesa existiu em Portugal, de forma
          intermitente, desde meados do século XIX. Sob a direcção
          e o patrocínio de Luz de Almeida, a Carbonária detinha
          um  objectivo  específico:  a  implantação  da  República.
          Enquanto organização secreta, a Carbonária, mais do que
          estar empenhada em realizar cultos esotéricos, estava so-
          bretudo interessada em cumprir os seus objectivos revo-
          lucionários, utilizando para esse seu intento todos os meios
          necessários, incluindo o terrorismo nas suas mais diversas
          formas,  como  o  uso  de  explosivos  e  a  prossecução  de   Ilustração n.º 2 – Aspecto do local do regicídio, no Terreiro do Paço,
                                                             em fotografia de 1908. Observam-se dois quiosques e várias árvores
          atentados.                                         adstritos à placa central. Ao fundo, o posto fiscal junto ao cais fluvial
            Ainda que se pudessem constatar algumas variantes na   de Sul e Sueste.
          sua  estrutura  organizativa,  os  membros  da  Carbonária
          distribuíam-se, grosso modo, por cinco estratos de impor-
          tância crescente, nomeadamente: os Canteiros, as Choças,   tribuíam-se também por escalões de mérito, nomeadamen-
                                                                                                          3
          as Barracas, as Vendas e, finalmente, a Alta Venda ou Su-  te: rachadores, carvoeiros, mestres e mestres sublimes.
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          prema Alta Venda.   Cada  um  destes  escalões  detinha  o   Um dos aspectos mais interessantes sobre esta socie-
          seu respectivo líder, que fazendo parte do órgão carboná-  dade  secreta,  residia  na  simbologia  que  utilizava.  Nesse
          rio imediatamente superior, perfazia a ligação com a res-  domínio, a Carbonária usava uma esfera armilar cruzada
          tante  hierarquia  desta  sociedade,  sempre  encoberta  e   com a expressão “Jovem Portugal”, que era depois pontifi-
          clandestina. Com algum mau gosto, os carbonários desig-  cada por uma estrela de cinco pontas que tinha, no seu
          navam-se entre si como Bons Primos e, sem surpresa, dis-  centro, as letras “CP”. E na heráldica da sua bandeira, re-
                                                             side, ainda hoje, o maior assombro. A bandeira da Carbo-
                                                             nária  ostentava  as  cores  encarnada  e  verde  (em  lados
                                                             opostos à actual Bandeira Nacional), assumindo, ao centro,
                                                             uma esfera armilar dourada em fundo azul e uma estrela
                                                             prateada  com  resplendor  de  ouro,  numa  disposição  que
                                                             não nos deixa indiferentes.  Interessante era também o seu
                                                                                   4
                                                             distintivo,  que  constituído  por  três  pontos,  representava
                                                             um triângulo invertido, sinistro e ameaçador. Além destes
                                                             símbolos, havia ainda “outras imagens e sinaléticas de iden-
                                                             tificação  e  reconhecimento  iniludíveis”,  muito  próprias  e
                                                             características de qualquer sociedade secreta. 5
                                                               E seria precisamente a Carbonária quem iria resolver,
                                                             em definitivo, a questão da conquista do poder em Portu-
                                                             gal. Primeiro em 1908, e depois, em 1910. Ao contrário
                                                             de uma revolução de elites, a Carbonária pretendia a uma
          Ilustração n.º 1 – António Maria da Silva, Luz de Almeida e An-  revolução pelo choque nas ruas, realizada essencialmente
          tónio  Machado  Santos,  membros  da  Alta  Venda  Carbonária.   pela  arraia-miúda.  Formatada  psicologicamente  por  Luz
          Atente-se na disposição dos três carbonários e das suas mãos em   de Almeida (homem pragmático e sem pudor), à Carbo-
          triângulo  invertido,  aludindo  ao  conhecido  símbolo  da  sociedade
          secreta.                                           nária interessava gente  “que não tivesse pejo de pegar em


                                                                                        Boletim da associação dos PuPilos do exército  45
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