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1911 – querer é Poder – 2011
PuPilos do exército – 100 aNos de eNsiNo e cidadaNia
no meio dos seus defeitos foi o político mais inteligente do seu
tempo e o único de todos que tinha carácter. O único! A sua
morte, o tempo o demonstrará, foi um desastre nacional”. 11
1 Citação de um dos seus escritos na revista Seara Nova, datada
de 14 de Janeiro de 1922, p. 164. O mesmo autor diria, mais tarde,
“Que ninguém saiba, mas eu ajudei a matar o rei, confesso-o aqui
à mesa da consciência”. RIBEIRO, Aquilino – Lápides Partidas,
Lisboa, Bertrand, 1945, p. 233.
2 Sabe-se que o “Canteiro, de cinco membros, era uma forma que
protegeu durante muito tempo a Carbonária, pois a polícia apenas
capturava elementos desses pequenos grupos”. A Choça era “desti-
nada aos neófitos mas também à permanência dos mais simples ou
menos capacitados” e constituía uma forma orgânica da Carboná-
ria, em número de 20 membros. Por seu lado, a Barraca era cons-
Ilustrações n. 9 e 10 – S.M. El-Rei Dom Carlos e o Príncipe Real tituída “pelos chefes de 20 Choças”, seguindo-se-lhe a Venda, que
os
Dom Luís Filipe, assassinados em 1 de Fevereiro de 1908, no Ter- compreendia os chefes de 20 Barracas. Culminava a Alta Venda
reiro do Paço. ou Suprema Alta Venda, que congregava “os líderes de 20 Vendas”.
Cfr. HENRIQUES, Mendo Castro [et al.] – Dossier Regicídio: o
Processo Desaparecido, Lisboa, Tribuna da História, 2008, p. 41.
faziam a mínima ideia da gravidade e do alcance do crime 3 Sendo verdade que “os dois primeiros graus viam a sua interven-
que estavam prestes a cometer. Estavam até plenamente ção meramente enquadrada pela Choça, já os Mestres, que presidiam
convencidos de que a missão que iam cumprir era abso- a estes núcleos, podiam aspirar à integração nas Barracas. Comun-
lutamente essencial e, por todas as razões, patriótica. gando desta ambição aos Mestres Sublimes divergiam por serem os
únicos a poder aceder à Alta Venda, na qual pontificava o sobredito
Manuel Buíça (já viúvo e que deixaria dois filhos menores Grão-Mestre Sublime”. Cfr. Idem.
órfãos) defendia mesmo que se deviam matar todos os 4 Cfr. RIBEIRO, Armando – A Revolução Portuguesa, 1.ª Parte,
Braganças, entendimento esse que, poucas horas antes do Lisboa, Romano Torres, p. 34.
5 Cfr. HENRIQUES, Mendo Castro [et al.] – Dossier Regicídio…,
momento do regicídio e em reunião realizada numa adega op. cit., p. 44.
subterrânea de um velho casarão em Xabregas, foi entu- 6 Cfr. Idem, p. 42.
siasticamente acompanhado, por unanimidade dos votos, 7 Cfr. Ibidem, pp. 42 e 44.
8 Cfr. MARQUES, A. H. Oliveira – Ensaios de História da I
pelos outros 17 anarquistas que ali estavam presentes
(entre esses carbonários, encontrava-se um italiano, um República Portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, 1988, p. 36.
Cfr. BRANDÃO, Raúl – Memórias, vol. I, tomo I, Lisboa, Reló-
9
francês e um espanhol da Catalunha, representantes ine- gio d’Água, 1998, p. 293.
fáveis da organização terrorista além fronteiras). 10 Recordemos que Homem Christo realizou um trabalho muito
Provou-se que Manuel Buíça manteria essa sua inaba- valioso contra o analfabetismo, especialmente nas Unidades Mili-
tares onde esteve colocado e a prestar serviço.
lável e fria vontade de matar até ao fim, mesmo até ao 11 Cfr. CHRISTO, Homem – Monarchicos e republicanos, [s. l.],
limite das suas forças. De facto, naquele fatídico dia de Livraria Escolar Progrédior, 1928, p. 205.
Fevereiro, Buíça nunca deixou de fazer pontaria e fogo,
até finalmente ser, já muito tardiamente, impedido. Ser
impedido e morto, tal como aconteceria logo a seguir com
o outro regicida mais conhecido, Alfredo Costa, em con-
tornos que, como hoje sabemos, não foram tão transpa-
rentes como na época foram divulgados. Este último, Al-
fredo Costa, foi assassinado quando já vinha preso, à
porta do átrio da Câmara Municipal. Ficaram registadas
as suas últimas palavras, entre outras fontes, no Imparcial:
“Ai minha mãe, que me traíram”. Palavras elucidativas,
quanto baste, sobre o longo braço da Carbonária.
Escreveu Agostinho de Campos que “ninguém sabe ou
calcula, quando se mata um rei, o que é que morre com ele
e quantos séculos de história podem afogar-se numa peque- Ilustrações n. 11 e 12 – Placa
os
nina gota de sangue”. O próprio Francisco Manuel Homem evocativa que assinala o local
Christo, republicano convicto e grande entusiasta da de- onde aconteceu o regicídio. Esta
placa pode ser vista no cunhal
10
mocracia e da instrução popular, afirmaria mesmo que norte da ala poente do Terreiro
“O rei – insistiremos sempre em o dizer – tinha defeitos. Mas do Paço.
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