Page 43 - Boletim APE_220
P. 43

1911 – querer é Poder – 2011

                             PuPilos  do  exército  –  100  aNos  de  eNsiNo  e  cidadaNia




            Em Lisboa, a resistência monárquica concentrou-se no
          Rossio [A Policia desapareceu das ruas e a Guarda Municipal,   dos Jornais: Preparando a normalidade * Dentro
          dispôs-se  em  redor  dos  Quartéis,  pronta  a  disparar.  Na  área  da   do novo regime – A Proclamação da República
          Baixa, deixara-se de poder circular. Nas embocaduras das ruas do   O acto decorreu no edifício da Câmara Municipal às
          Ouro e da Prata, foram montadas metralhadoras para repelir um   9 horas da manhã. Fora no largo do Município, agglo-
          possível ataque e ou, reforços dos marinheiros.], – [As forças mo-  merava-se uma multidão enorme. O Sr. Dr. Eusébio Leão,
          nárquicas, conservaram-se durante todo o dia 4 e a noite de 5, por   membro do Directório, abeirou-se da varanda dos Paços
          vezes debaixo do fogo da Rotunda e dos tiros de peça, dos navios,   do Concelho, e falando enthusiasticamente ao povo, de-
          no  mar.],  enquanto  os  republicanos  continuavam  a  resis-  clarou que a República acabava de substituir o regímen
          tir  na  Rotunda  e  os  restantes  revoltosos  atacavam  os   monarchico no governo da Nação.
          quartéis  fiéis  ao  governo,  que  chegou  a  ordenar  a  vinda   …
          para Lisboa de militares aquartelados nas regiões limítro-  Concluída esta fala, o Sr. Inocêncio Camacho, outro
          fes da capital.                                     membro do Directório, lê ao povo os nomes das pessoas
            O pacifismo do Exército ia aumentando, na medida em   que  constituem  o  governo  provisório,  nomeados  pouco
          que  se  tornava  óbvio,  que  a  revolução  iria  triunfar.  Na   antes.
          madrugada de 5 de Outubro, as forças de Infantaria 5 e
          de  Caçadores  5  (que  à  mais  de  24  horas  ocupavam,  o
          Rossio) davam mostras de grande descontentamento.  Como triunfou a república – do Jornal ”A Capital – 5 de
            No dia 5 de Outubro, pelas oito horas da manhã – deu-   outubro de 2010”
          -se um incidente que iria apressar o desfecho da luta – o   “Que escrever quando os olhos ainda se enublam de
          ministro-plenipotenciário  da  Alemanha,  [Num  automóvel,   lágrimas de emoção, e o peito ainda palpita com a vibração
          onde flutuava uma “bandeira branca” dirigiu-se ao Quartel-Gene-  de ansiedade enorme que o agitou durante estes dias de
          ral, para requerer uma hora de tréguas, afim de os súbditos alemães
          pudessem  embarcar  sem  perigo.]  decidiu  intervir,  solicitando   gloria e de tragédia?!”(sic).
          aos revoltosos e ao governo um armistício, após o que se   “A  República  nasceu. A  República  está  em  luta.  No
          dirigiu à Rotunda. O povo, desconhecendo as suas intenções   próprio momento em que escrevemos passam sob as nos-
          e julgando tratar-se da rendição dos monárquicos, encheu   sas janelas, soldados e civis, homens e crianças entoando,
          a  Avenida  da  Liberdade  gritando  com  euforia  a  vitória   como n´um coro, a mesma aclamação frenética ao regímen
                                                             que  alvorece.  É  a  imagem  d´um  Povo  irmanado  n´uma
          republicana. [Descartando as vítimas de assassínio ou acidente,   mesma vontade e n´uma mesma aspiração, a que perpassa
          o “Triunfo da República”, com base nos jornais, fez 76 mortos e 347   perante os mesmos olhos. A este grito, que de toda a par-
          feridos,  muitos  deles  graves.].  No  Rossio,  invadiu  a  praça  e   te se eleva: ”Viva a República” Correspondem-nos com o
          “fraternizou” com os soldados. A Monarquia tinha acabado.  compromisso  íntimo  de  a  fazer  viver  uma  larga,  forte,
            Em breve se descobriu que ninguém queria lutar pelo   harmoniosa e honrada vida”.(sic)
          Regime [Pelas 6 horas, do dia 5 Out. Oficiais de Infantaria 5,   “Pouco depois da 3 horas, o Directório do Partido Re-
          declararam  ao  QG  que  não  se  opunham  a  um  desembarque  de   publicano, fez publicar o seguinte: ”O directório do partido
          marinheiros, no Terreiro do Paço. Chegando à mesma conclusão, os   republicano recomenda a todos os cidadãos a maior urba-
          Oficiais de Caçadores 5, pelas 6h30, mandaram informar os navios   nidade com a s pessoas dos polícias e guardas municipais,
          rebeldes, das suas intenções.]. A tensão era quase insuportável.   visto que todos se renderam, não havendo portanto motivos
          As tropas praticavam actos de rebelião aberta.     alguns para agressões; e pede a todos os cidadãos que man-
            A  bandeira  do  Partido  Republicano  foi  hasteada  em   tenham como sempre a mais completa ordem”.(sic)
          muitos pontos da cidade e içada no Quartel-General [Pa-  “Chegam ao Governo Civil notícias sobre uma tenta-
          lácio  dos  Almadas,  no  Rocio,  onde  se  sediava  a  1.ª  Divisão  do   tiva  de  reacção  monarchica  no  quartel  da  Estrela,  onde
          Exército, comandada pelo Gen. Gorjão. O chefe Governo – Teixeira   está a Guarda Municipal, e em Queluz, onde está o Gru-
          de Sousa, reunia em sua casa com elementos do Governo e tentava   po  de  Baterias  a  Cavalo  ...  o  seu  comandante  Sr.  Paiva
          coordenar-se com o Rei, nas Necessidades.].        Couceiro, recusa-se a receber uma Bandeira republicana
            A resistência monárquica [Os únicos militares que atacaram   que o povo lhe oferece e declara, que vai partir para Ma-
          os  rebeldes  foram  os  “pretorianos”  da  Guarda  Municipal  e  uns   fra e pôs-se ao lado da família Real.”(sic)
          tantos oficiais “africanistas” da “camarilha palaciana” e quatro ou   “Às 5 e 30.O Regimento de Infantaria II proclama a
          cinco  aristocratas  como  Paiva  Couceiro,  Martins  de  Lima,  Van   República em Setúbal, ao som da “Marselheza”.(sic)
          Zeler e Pinheiro Chagas. Mais tarde”não passavam de um “bando   “Em  Setúbal  a “canhoneira  Zaire”  arvora  a  Bandeira
          de conspiradores” contra o regime.] não teve outra alternativa   republicana; no Seixal, a bandeira é içada no edifício da
          se não a de abandonar os seus postos.              Câmara e o administrador foge”.(sic)



                                                                                        Boletim da associação dos PuPilos do exército  41
   38   39   40   41   42   43   44   45   46   47   48