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1911 – querer é Poder – 2011
Ilustrações n. 3 e 4 – O selo da Carbonária e José Nunes (membro
os
do grupo Os Mineiros da Carbonária e maçon de Grau 3 da Loja
Maçónica Obreiros do Futuro), a fabricar um explosivo de sua in- Ilustrações n. 5 e 6 – O Almirante Cândido dos Reis e a sua
os
venção. credencial de Inspector Carbonário. Suicidou-se ainda antes do
triunfo da revolução republicana, por julgar que o golpe falhara em
absoluto.
armas, e a quem não pesasse a consciência ou o comando no
momento de puxar o gatilho”. E nesse sentido, em muito
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pouco tempo, a Carbonária passou a ser massivamente entendia. Para ele, como aliás para muito republicano já
composta por elementos das classes sociais mais baixas, mais instruído, a República era o Messias, era o milagre.
tendo enveredado também por rituais iniciáticos exube- Bastaria a sua proclamação para libertar o País de toda
rantes, desmedidos e extremistas. Serve de magnífica a injustiça e de todos os males. (…) Muitos [supunham]
ilustração a este argumento, aquilo que era a primeira que poucos meses ou até dias depois de proclamado o novo
questão colocada ao pagão: “estás disposto a pegar numa regime estariam resolvidos todos os problemas económicos,
arma, carabina, revólver, punhal ou bomba, esperares onde sociais e políticos (…) Para esses, infelizmente a grande
quer que seja um tirano do povo para executares nele justiça massa, República foi sinónimo de desilusão. Deles iria sair
sumária?”. 7 boa matéria-prima para futuras querelas e revoluções
Os regicidas de 1 de Fevereiro de 1908, não por intestinas, para aventuras demagógicas do pior estofo, para
acaso, eram carbonários. Como referiu Oliveira Marques, o derrubar final do regime que haviam ajudado a implan-
“a Carbonária servia por assim dizer para todos e a todos tar e em quem tinham perdido a fé”. 8
acolhia, desde que lhes encontrasse ânimo e crença repu- Aliás, no domínio do regicídio de 1 de Fevereiro de
blicana. (…) o carbonário do 5 de Outubro – e nele está 1908, e como depois escreveria Raul Brandão, “Já hoje se
espelhada a grande massa da população portuguesa de pode afirmar sem erro que D. Carlos não foi morto pelos seus
então – era pouco instruído e pouco evoluído politicamen- defeitos, mas pelas suas qualidades”. Fica claro que os
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te. Seguia com devoção os seus chefes, idolatrava-os, pa- próprios regicidas (que, como é bem sabido, não eram
pagueava os seus slogans, dizia e repetia palavras que não apenas os carbonários Manuel Buíça e Alfredo Costa) não
Ilustrações n. 7 e 8 – Um grupo de carbonários passando junto ao Largo do Chiado, em Lisboa (repare-se na sua postura de intimidação
os
e no armamento de que vinham guarnecidos). Ao lado, um outro grupo de carbonários, acompanhado de revolucionários civis, procurando
imobilizar um carro eléctrico.
46 Boletim da associação dos PuPilos do exército