Page 48 - Boletim APE_217
P. 48

Cultura &            VuLCÕES DE IO
           Actualidade




              o foi descoberto por Galileu
              Galilei em 1610 e é o quarto
              maior  satélite  de  Júpiter.
              Possui um raio de 1821 Km e
       Iuma densidade média igual
       a 3,54 g cm-3, valores comparáveis
       aos  da  nossa  Lua.  Contudo,  muito
       antes de ter sido visitado por uma
       sonda espacial, da Terra era já visí-
       vel que possuía uma cor fora do vul-
       gar e estranhas propriedades térmi-
                        cas,  estando  ain-
                        da  rodeado  por
                        misteriosas  nu-
                        vens de átomos e
                        iões.  Estas  ano-
                        malias     foram
                        d e s v e n d a d a s
                        após a passagem
                        da  sonda  Voya-
                        ger  I  em  1979,
            Alexandre   cujas imagens re-
      Morgado Correia   velaram  um  pla-   romano do fogo. Os gazes expelidos,   la  que  foi  uma  das  previsões  mais
                                                                                sensacionais feitas pela ciência pla-
                        neta  coberto  de   na sua maioria compostos sulfuro-   netária:  os  vulcões  de  Io  não  são
                                            sos, são os responsáveis pela forma-
       vulcões, alguns em plena activida-   ção de uma atmosfera extremamen-    mais  do  que  a  consequência  do
       de. Consequentemente, a superfície   te rarefeita em redor de Io. Os vul-  aquecimento  provocado  pelo  mes-
       de Io é constantemente regenerada    cões parecem estar mais ou menos    mo fenómeno que provoca as marés
       (não  se  observam  crateras  de  im-  uniformemente distribuídos, embo-  na Terra, conhecido justamente por
       pacto),  ficando  esta  evolução  bem   ra as zonas mais quentes se situem   efeito de maré. No nosso planeta, o
       patente nas imagens recolhidas pela   na região do equador. O maior de to-  principal responsável pelas marés é
       sonda Galileu cerca de 20 anos mais   dos  eles  é  o  Loki  Patera  que,  sozi-  a Lua, mas no caso de Io é Júpiter.
       tarde. Em Io, tal como na Terra, os   nho,  é  responsável  pela  libertação   Porém, devido à proximidade do gi-
       vulcões  são  os  locais  à  superfície   de um quarto do total de calor per-  gante gasoso e da sua enorme mas-
       onde  são  expelidos  gazes,  cinzas  e   dido pelo planeta inteiro. Para se ter   sa, estas são bastante mais intensas
       matéria  líquida  incandescente  (co-  uma ideia da quantidade de energia   em Io: enquanto na Terra as defor-
       nhecida por lava ou magma), prove-   libertada por este vulcão, o calor por   mações  na  massa  continental  não
       nientes  das  camadas  mais  interio-  si radiado é cerca de 10 vezes supe-  ultrapassam  alguns  centímetros,
       res.  O  magma  é  essencialmente    rior  ao  calor  emitido  por  todos  os   em Io as variações são superiores a
       constituído por rocha fundida pelas   vulcões e geysers terrestres juntos!   100 metros. Imagine-se que entre a
       altas temperaturas que se registam   Sendo um corpo pequeno, o interior   maré  baixa  e  a  maré-alta,  Lisboa
       no interior do planeta. Daí o termo   de Io já há muito que devia ter arre-  passava  do  nível  médio  das  águas
       vulcão, derivado de Vulcano, Deus    fecido,  impedindo  a  formação  de   do mar até 100 metros de altitude,
                                            vulcões nos dias de hoje. No entan-  isto em ciclos sucessivos inferiores
                                            to, as imagens da Voyager e da Gali-  a 24 horas! Assim, as constantes de-
                                            leu, são bem claras: em nenhum ou-  formações a que Io está sujeito man-
                                            tro  mundo  conhecido  do  Sistema   têm o seu interior aquecido devido à
                                            Solar a actividade é tão intensa e es-  fricção entre as diferentes camadas
                                            pectacular. Então, como explicar es-  que compõem o planeta. O mesmo
                                            tas  observações?  Uma  fonte  de   fenómeno mas a uma escala menos
                                            aquecimento suplementar tem obri-   importante  existe  noutro  satélite
                                            gatoriamente  de  estar  presente  no   galileano, Europa, sendo responsá-
                                            caso deste satélite joviano. Efectiva-  vel pela manutenção de um oceano
                                            mente, menos de um mês antes da     interior, no qual os mais optimistas
                                            passagem da Voyager I, os cientistas   têm  esperanças  de  encontrar  vida
                                            conseguiram  “adivinhar”  aquilo    extraterrestre.
                                            que a sonda viria a observar, naque-


         48 | Associação dos Pupilos do Exército
   43   44   45   46   47   48   49   50   51   52   53