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CULTURA E CONHECIMENTO
CONTINUAÇÃO
Para os cristãos era mais importante a hospitalidade, a remissão No século III assiste-se ao nascimento de uma literatura cristã em
de cativos, a protecção de órfãos e viúvas, o enterramento dos mortos. latim, a um amadurecimento significativo do pensamento teológico, ao
Os cristãos valorizam bastante o amor e a fraternidade, repetindo que reforço da afirmação da autoridade episcopal, ao desenvolvimento da
“Deus é o pai-nosso”. disciplina penitencial e às primeiras formas de vida monástica.
Os cristãos vão responder aos romanos com várias apologias da No século IV, Constantino, aclamado 1.º Augusto pelo senado
autoria de pensadores e bispos cristãos do Norte de África como Ter- romano em 312, vem encontrar Licínio em Milão, em Fevereiro de 313,
tuliano de Cartago, Orígenes de Alexandria, Agostinho de Hipona; do e ambos assinam o Édito de Milão (publicado em Nicomédia em 13 de
Oriente, Taciano da Síria; de Roma, Minúcio Félix, Lactâncio e Jerónimo. Junho de 313) que dá a paz à Igreja. Porém, Licínio (imperador de 311
No século II, Justino, filósofo convertido, fundou uma escola em a 324) retoma as perseguições aos cristãos em 321. Constantino I, em
Roma no tempo do Imperador Antonino Pio e distinguiu-se não só como 326, começa a construção de Constantinopla que escolhe para sede de
professor mas como escritor tendo publicado umas oito obras de que nova capital do império; governa até 337, ano em que recebe o baptis-
chegaram até nós duas Apologias e o Diálogo com o judeu Trifão. mo por Eusébio bispo de Nicomédia, e morre em Achiron a 23 de Maio
Naquelas obras S. Justino faz a defesa jurídica dos cristãos e procura quando preparava a guerra contra os Persas.
demonstrar a verdade revelada. Na década de 80, será Teodósio, que recebera, em 379, de Graciano
Ele frisa a substituição necessária da Antiga pela Nova Aliança, bem (imperador de 375 a 383) o governo das províncias ameaçadas pelos
como a realidade de que Jesus é, a um tempo, o Logos preexistente e Bárbaros, quem proclama o Cristianismo como religião oficial do Império.
o instrumento da criação e concretização das profecias do Antigo Tes- Graciano mandou retirar do Senado a estátua da Vitória, símbolo
tamento, e faz o chamamento dos gentios para constituírem o novo povo do paganismo. Foi morto na revolta de Máximo.
de Deus. Morreu mártir no tempo de Marco Aurélio.
No mesmo século, Ireneu de Lião a quem Eusébio de Cesareia bIblIograFIa
refere como o pacificador pela sua acção a favor da concórdia entre Marcel Simon e André Benoit, Judaísmo e Cristianismo Antigo, S. Paulo, Edi-
as igrejas do Oriente e a de Roma, escreveu numerosas obras de tora da Universidade de S. Paulo, 1987.
que chegaram ao nosso tempo as seguintes: Demonstratio e François Lebrun, As grandes datas do Cristianismo, Lisboa, Ed. Notícias, 1990.
Adversus Haereses. Na primeira S. Ireneu mostra aos judeus como Apontamentos das aulas de História do Cristianismo, lec. pelo Prof. Armando
os acontecimentos realizados em Cristo tinham sido anunciados Martins, no Curso de História da Faculdade de Letras da U. de Lisboa.
pelos profetas e figurados pelos patriarcas. Na segunda, o autor faz a Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro, 2 vols., Porto, Lello &Irmão, 1978.
refutação do Gnosticismo que então atingira notoriedade. Esta obra José Arieiro, “Constantino I” in Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura,
vol. 5, Lisboa, Editorial Verbo, s.d., cols. 1481-1484. A.G. Matttoso, “Teo-
passou a constituir na Patrística um dos seus maiores monumentos dósio I” in Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, vol. 17, Lisboa, Edito-
teológicos. rial Verbo, 1983, col. 1340
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