Page 29 - Boletim APE_225
P. 29

CRóNICAs (cont.)





              No manx é raro o uso de pronomes pessoais, há pou-  portuguesa  escreveram  com  uma  ortografia  e  hoje  são
           ca variação da declinação verbal, não existem os verbos   lidos  com  a  ortografia  em  vigor  (outra  ortografia,  a  de
           ter ou saber, o protagonista do pensamento é o objecto e   1911) sem nenhum sobressalto (a grafia tem que estar
           assim criam-se expressões tais como “Há fome em mim”   ao  serviço  da  comunicação,  senão…  ).  A  língua  por-
           (em  vez  de “Estou  com  fome”), “Há  conhecimento  em   tuguesa, ao contrário do manx, nasceu num espaço con-
           mim sobre isso” (em vez de “Eu sei isso” ), a contagem é   tinental,  propagou-se  por  outros  continentes,  outros
           em  múltiplos  de  vinte  (mas  mais  complexa  do  que  o   países,  outras  culturas  e  novas  palavras  são  criadas  por
           quatre-vingt  francês),expressar-se  é  pensar  em  si  mesmo   esse mundo fora a cada dia que passa. O presente Acor-
           como  coadjuvante,  o  manx  já  tirava  o  indivíduo  de  sua   do em que menos de 2% das palavras têm modificações
           função de protagonista da língua e do pensamento (mui-  ortográficas,  como  todos  sabemos,  foi  um  acordo  de
           to avançado em relação à linguística moderna), enfim é   compromisso  como  são  todos  os  acordos.  No  médio
           uma língua com um misto de riqueza e anacronismo em   prazo quem não o cumprir escreverá de forma antiqua-
           relação aos idiomas mais praticados no Ocidente.   da e anacrónica e passará o resto da vida a acrescentar:
              Dentro de poucos séculos e evocando a imaginação de   “Este texto está escrito de acordo com a antiga…”. Daqui
           José Saramago em “A jangada de pedra”, este nosso jardim   para a frente seria melhor que deixassem a língua por-
           à beira mar plantado talvez comece a afastar-se do conti-  tuguesa em paz (tal como outros idiomas menos ou mais
           nente (sem a Espanha) para se encostar à Ilha da Madei-  falados e escritos do que o português) para que ela pos-
           ra, a suspirar por um Alberto João Jardim que nos ofere-  sa evoluir sem intervenção dos governos e seja escrita de
           ça  progresso  (obras)  e  dívidas  e  a  usar  um  idioma  só   forma  aproximada  em  todos  os  países  de  língua  oficial
           nosso.  Então,  criaremos  uma  escola  de  preservação  da   portuguesa.
           língua  falada  na  ilha  (em  1991  foi  criada,  em  Man,  a   Voltando  aos  maneses,  em  vez  de “Eu  te  amo”,  eles
           primeira escola de manx subordinada ao lema “Sem língua,   formulam (em manx) a questão da seguinte maneira: “Há
           sem país”) que defenderemos junto à UNESCO (se ela   amor em mim por ti”. A beleza desta frase faz-me pensar
           ainda existir) como património da humanidade…      que nenhuma língua é uma ilha…mas também que ne-
              Posto isto, ocorre-me que Camões, Eça de Queirós e   nhuma ilha é uma língua.
           a  grande  maioria  dos  escritores  consagrados  da  língua






















                         A. Borges Pires, Santos Pereira, Pires Pereira & Associados, RL



                                               ÁREAS PREFERENCIAIS:
                           DIREITO LABORAL, DIREITO COMERCIAL, DIREITO CIVIL,
                                  CONTENCIOSO CIVIL, LABORAL E COMERCIAL




                                         António Borges Pires: abp@abpa.pt
                                       Henrique Santos Pereira: hsp@abpa.pt

          AMOREIRAS, TORRE 3, 5º PISO, 511, 1070-274 LISBOA | TEL. +351 212 454 262 - FAX: +351 212 454 284




                                                                             Boletim da Associação dos Pupilos do Exército  |  27
   24   25   26   27   28   29   30   31   32   33   34