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CRóNICAs
Um português no Oriente...
Do pelotão da frente... ao vagão
de trás. Como foi possível? CÂNDIDO DE AzEVEDO
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á uns anos atrás falavam-nos de Portugal como situa- exigimos-lhe a submissão, com efeitos de dominação ina-
Hdo no pelotão da frente da União Europeia. Pouco a ceitáveis nos dias de hoje. E apenas o determinismo da
pouco consciencializaram-nos que afinal não seria bem no história, devido a uma política obsoleta, impediu, em tem-
da frente mas sim no pelotão central. Hoje damos conta po, a construção de países ciosos da sua identidade e he-
que já estamos no último vagão, no da cauda do comboio rança. Não há que sentar-se no banco dos réus . Mas essas
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europeu, arriscando-nos a saltar desastradamente para fora colónias também nos debilitaram , não trazendo palpáveis
dos carris. De mão estendida recebemos há bem pouco os mais-valias. Abril livrou-nos das colónias, seguramente de
apoios necessários para ainda ir havendo salários e nos li- uma forma algo precipitada...
vrarmos dos “buracos”.... e face a esses apoios não sei se Virámo-nos finalmente para a Europa. Já o camoniano
fará grande sentido continuar-se a falar de que ainda pos- velho do Restelo nos alertara para os perigos da “partida”
suimos soberania e independência nacionais. Como alguém para fora, ou, se quisermos, avisou-nos que a Europa é que
referiu entramos na fase mais depressiva do “come e cala” era o nosso destino. Se não saíssemos para sudoeste teríamos
e ainda nos devemos considerar cheios de sorte se este que olhar para leste. Será que tudo teria sido então dife-
aperto apenas durar dois ou três anos conforme este, julgo rente? Enfim, especulações estéreis... Contudo hoje confir-
esforçado Governo, nos quer animar. Infelizmente parece mou-se e ao lado da verde rubro, também se desfralda a
que muitos ainda não se deram conta da real situação e “na azul com estrelas douradas. E qual é a situação do país?
camisa das onze varas” onde nos encontrámos metidos. Parece estar condenado a qualquer que seja o lado para
E porque não aprendemos com as lições da nossa pró- onde nos viramos. É sempre um desastre. Que sina a nos-
pria história, mais uma vez estamos numa encruzilhada. sa. Porém hoje, o nosso nível de endividamento é de tal
Revisitemo-la. monta, que arriscamos perder a indepedência a médio
Há uns séculos atrás, cientes da nossa pequenez virámo- prazo. Sabemos que muito do que se passa hoje é também
-nos para o Oriente e fomos uns senhores durante um culpa da nossa irresponsabilidade. Assim sendo é tempo
século e meio até que “a disciplina afrouxou, a corrupção de sermos responsáveis e isso passa também por dizer
foi enervando o braço e o prestígio. (…) com o correr dos basta àqueles que assim nos tem deixado, melhor, aos que
anos a Índia ia apodrecendo na devassidão; o cinismo dos nos têm governado.
Como outrora, assistimos nestes últimos 35 anos nova-
governantes, as revoltas e deserções, os roubos...” ditaram mente à indisciplina, ao desinteresse, à corrupção, à devas-
o final, conforme refere Gabriel Saldanha. Perderam-se as sidão, ao cinismo dos governantes, aos roubos, à falta de
riquezas para a Europa. sentido de estado,... e a isso se deve, em boa verdade, a
Virámo-nos depois para o Oeste, para o ouro do Brasil,
e mau foi o investimento: não se formou nem se educou situação em que nos encontramos agora. Sem independên-
cia e sem soberania, sem pão para a boca e sem quaisquer
o povo. Gastaram-se toneladas e toneladas de ouro em expectativas para o futuro. E não se julga esta gente? Por-
pedras: desbarataram-no em igrejas, capelinhas, doações aos quê? Verifica-se amiúde que sentido de estado, de estadis-
padres, em missas de encomenda e no faustoso Palácio- ta, muito poucos dos nossos governantes e parlamentares
-convento de Mafra. Como Voltaire referiu “D. João V têm tido. É falsificação, é corrupção, é branqueamento, é
quando queria uma festa, ordenava um desfile religioso. enriquecimento ilícito, etc. A maioria está em serviço pró-
Quando queria uma construção nova, erigia um convento...”, prio, dos partidos, outros dizem agora da maçonaria, dos
mantendo ainda como um casta privilegiada um corpo amigos, dos clientes, etc. Esta é a realidade, por isso nenhum
sacerdotal de 200 mil integrantes num país que não tinha é julgado nem condenado.
uma população superior a três milhões de habitantes. De- Por mim digo já. BASTA!
pois vendemo-nos aos ingleses.
Virámo-nos depois para o Sul, para África. Emigrámos. (1) Os árabes, antes dos europeus haviam colonizado grande parte dos povos
Trabalhámos. Construimos países. Colonizámos. Colonizá- de África. Impérios africanos como o de Mali, Songai, Kanem-Borum,
mos sim. É certo que fizemos recuar terríveis flagelos que Axum, Congo, etc. tinham colonizado antes dos árabes. O islão converte-
ra mais de metada dos povos da Ásia e alguns de África a golpes de cimi-
haviam precedido a irrupção portuguesa: a escassez, a lepra, tarra. A Rússia e a China ainda hoje colonizam outros povos.
(2) Os países que conheceram os mais surpreendentes milagres económicos a
a malária, a mortalidade infantil, a mutilação das mulheres, partir de 1945 – Alemanha, Itália, Japão – não tinham propriamente co-
sem falar já do canibalismo... É certo que enquanto colo- lónias. Os que perderam impérios, com os quais viviam em simbiose –
nizador não levou a miséria ao colonizado. De positivo Holanda, França, Bélgica – conheceram um surto rápido, precisamente a
partir desse momento. Os países mais ricos da Europa – Suiça e Suécia –
trouxemos-lhe alguma qualidade de vida. De negativo nunca tiveram colónias.
Boletim da Associação dos Pupilos do Exército | 29