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EVOcAÇÕEs
História de
um “boneco”
JORGE MOREIRA
DA SILVA
19800196
o passado dia 17 de Dezembro, por ocasião da festa
Nde Natal da APE, notei que a minha filhota de 8
anos, a Catarina, olhava embasbacada para um folheto
promocional afixado na parede do refeitório em que se tava as páginas da Revista desde a sua fundação em 1973,
via um desenho colorido representando um pequeno pediu-me, numa atitude que bem demonstra o seu incom-
grupo de pilões desfilando em uniforme de gala. Depois parável profissionalismo e o seu inexcedível rigor, uma ou
de um olhar mais atento, identifiquei uma ilustração que duas fotos que mostrassem o aspecto dos famosos pilões a
já me era familiar e pude, então, dizer à minha pequenita quem eu dedicava a minha escrita. Assim fiz, tendo sido
que o menino do meio, que transportava aos ombros o seleccionada pelo insigne Artista uma em que apareço como
estandarte nacional do IMPE, era nem mais nem menos porta-estandarte por ocasião do 77º aniversário do IMPE,
do que… o pai dela. Entusiasmada, foi logo a correr cha- em que o então Presidente da República, Dr. Mário Soares,
mar o irmão que, sendo quatro anos mais velho, não pa- condecorou o nosso estandarte nacional com as insígnias
recia muito convencido da veracidade da história. da Ordem Militar de Avis. Nessa foto, com que ilustro este
Devendo, neste momento, os distintos consócios estar breve episódio, podem ver-se, além do signatário, o Pedro
tão incrédulos como estava, então, o jovem Rodrigo, eu Azevedo (451/1980), à direita, o Ricardo Fulgêncio
passo a explicar: aquele desenho, datado de Janeiro de (424/1980), à esquerda e, um pouco mais escondido atrás,
2004, foi feito por um grande artista plástico da Marinha, o António Bento (555/1982). Comparem-na com o primo-
o Comandante Raul Sousa Machado, para ilustrar uma roso desenho do talentoso Comandante e digam lá se a
pequena crónica que redigi para a Revista da Armada. Na pose dos figurantes não é exactamente a mesma, embora
altura, ainda ecoavam no ar as festividades dos 200 anos as respectivas feições surjam algo distorcidas…? No entan-
do Colégio Militar, às quais a Marinha se tinha associado to, julgo que o importante, aqui, não é realçar os modelos
de modo quase institucional pela voz e pela pena de an- mas sim dar os merecidos créditos ao autor da ilustração.
tigos alunos muito prestigiados no seio da Corporação. O Comandante Sousa Machado deixou o mundo dos
Ora, como o signatário tinha, então, uma espécie de “con- vivos em 2005, mas a sua vasta obra no campo das Artes
trato” permanente com a Revista da Armada para escrever, Plásticas será sempre uma referência entre o nosso patri-
de dois em dois meses, uma historieta ou breve reflexão, mónio naval. O autor destas linhas teve a honra de ver
resolveu, com todo o brio, aproveitar o “tempo de antena” uma das suas crónicas ilustradas com o seu último desenho,
para falar um pouco da nossa “casa tão bela e tão ridente”. mas também o IMPE, como se vê, teve o privilégio de ser
Assim nasceu a crónica “Os Meninos de Benfica”. alvo do seu traço inconfundível.
Na sua qualidade de ilustrador “de serviço”, o Coman- Resta dizer que – nem de propósito! – recebi um te-
dante Sousa Machado, cujo traço inconfundível abrilhan- lefonema do Américo Ferreira, dois dias depois da festa
de Natal da APE, a pedir-me, justamente, o envio de uma
foto da condecoração do estandarte nacional do IMPE
naquele já longínquo 25 de Maio de 1988, em que foi
batida a “chapa” de que falamos. E como o nosso estima-
do David Sequerra já tinha tido a amabilidade de me
lembrar que estou, desde há muito, em falta com uma
escrita para o nosso Boletim, parece-me que o Destino
– ou, pelo menos, um feliz acaso – se encarregou de dar-
me o mote para esta pequena reflexão. Esperando que os
caríssimos camaradas Pilões se associem a esta singela
homenagem ao ilustre Pintor Naval, agradeço-lhes, de todo
o coração, a oportunidade de com eles partilhar estas
gratas memórias.
28 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército