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cultura e coNhecimeNto
ALeXANDre correiA
Ser ou não ser planeta…
Actualmente, conhecem-se mais de 800 destes corpos,
mas a sua existência só pôde ser confirmada a partir dos
anos 90, utilizando os maiores telescópios existentes na
época. Em 2002, foi descoberto Quaoar, um corpo com
mais de metade do tamanho de Plutão. A questão da sua
classificação como planeta voltou à ordem do dia – e o
número de vozes dissonantes aumentou. Em 2005 foi
descoberto um novo corpo, posteriormente baptizado de
Éris (Deus da discórdia) pela UAI, que fez eclodir a po-
lémica: o diâmetro de Éris é cerca de 100 Km maior do
que o de Plutão, pelo que talvez devesse ser chamado de
décimo planeta...
Prevendo-se que durante os próximos anos venham
ainda a ser descobertos na cintura de Kuiper muitos mais
corpos maiores do que Plutão, ao classificarmos Éris como
planeta, teríamos de classificar todos os outros também
Ainda que “despromovido” de planeta em 2006 duran- – e o Sistema Solar rapidamente passaria de nove planetas
te a Assembleia-Geral da União Astronómica Internacional para várias dezenas deles. No dia 23 de Agosto de 2006,
(UAI), Plutão continua a ser o mesmo, tanto nas suas ca- os astrónomos do mundo inteiro optaram pela solução
racterísticas físicas como orbitais. Não foi descoberto que mais simples e talvez mais sensata: assumir o erro na clas-
afinal a sua composição química era diferente, que a sua sificação inicial de Plutão como planeta, e classificá-lo como
massa era mais pequena ou que anda à volta de outro aquilo que ele realmente é: mais um objecto da cintura de
corpo que não o Sol. O que mudou foi somente o nosso Kuiper, cuja única particularidade foi a de ter sido o pri-
conhecimento do Sistema Solar como um todo, tendo os meiro a ser descoberto.
cientistas chegado à conclusão que talvez nos tivéssemos Para evitar futuros mal entendidos, redefiniu-se plane-
precipitado quando classificamos Plutão como planeta pela ta como sendo um corpo que satisfaz três requisitos:
primeira vez. (a) encontra-se em órbita em torno do Sol; (b) possui
Plutão foi descoberto em 1930 por Clyde Tombaugh, massa suficiente para manter uma forma aproximadamen-
nos EUA. Na época, não era fácil fazer cálculos matemá- te esférica; (c) a vizinhança da sua órbita está “livre” de
ticos de grande envergadura e acreditava-se que havia outros objectos. É precisamente neste último ponto que
perturbações na órbita de Neptuno não previstas pela Plutão falha, pois sabemos agora que na sua vizinhan-
teoria, que só poderiam ser explicadas se existisse um nono ça existem muitos mais corpos de iguais ou maiores di-
planeta, para lá deste. mensões.
Porém, assim que se conseguiu determinar a massa de A recente polémica com Plutão é uma clara evidência
Plutão, compreendeu-se que sendo esta apenas 0,2% da de que a ciência está sempre em constante evolução. Nes-
da Terra, era totalmente impossível que o novo planeta te momento, aliás, a sonda
fosse responsável pelas perturbações na órbita de Neptu- New Horizons vai a cami-
no. Mais tarde, durante os anos 40-50, surgiu uma teoria nho de Plutão e da cintura
em que se acreditava que para lá da órbita de Neptuno de Kuiper, onde deverá
existiria uma zona com uma grande quantidade de corpos chegar no Verão de 2015.
celestes de pequenas dimensões (denominada cintura de Quem sabe as surpresas
Kuiper), restos da formação do Sistema Solar. Esta zona que esta missão aos confins
seria o reservatório dos cometas que temporariamente nos do Sistema Solar nos re-
visitam, mas também poderia conter corpos de maiores serva?...
dimensões.
60 Boletim da associação dos PuPilos do exército