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TIMOR LESTE - VISTO POR DENTRO Crónicas
oportunidade de visitar sios, quando abandonaram Timor, Interessante...
uma das mais jovens na- como pelas milícias antes da inde- Contactei com várias pessoas que
ções do mundo, permitiu pendência. Fomos informados, que viveram naqueles anos em Dili, mas
voltar a este local onde agora a situação está muito melhor, ninguém se recorda da dita rua, pois
Aestive há cerca de sessen- pois no princípio a destruição era todas as informações sobre esta cida-
ta anos. impressionante. de, foram destruídas pelo incêndio
São quinze mil quilómetros de Por ironia, para quem quer ab- criminoso na Câmara e assim se per-
distância, vinte horas de voo, dois sorver a passagem dos portugueses deram para sempre todas as infor-
dias de viagem por estas terras, vemos que muitas mações.
entre aviões e ae- construções que pertenceram aos Será que existiu? A dúvida per-
roportos, mas va- serviços governamentais estão quei- siste...
leu a pena. madas, e os monumentos que simbo- Voltando à cidade, ela fervilha de
Chegamos ao lizam termos cá estado desde 1512 gente, pois a falta de emprego faz que
aeroporto de Lis- continuam de pé, e bem tratados, os timorenses andem de um lado
boa, bem cedo, como que a dizer: nós estamos agra- para o outro.
pois o voo para decidos. Há muito trânsito a certas horas
Paris era às sete Umas das incumbências que tra- e, além dos transportes públicos, os
horas. zia de Lisboa era encontrar a “Rua mini autocarros chamados “microle-
José Lencastre
(19540319) Viagem tran- te” que são os táxi dos timorenses.
quila. Chegados a Como neste país se encontram coo-
Paris aguarda- perantes de setenta países – consti-
mos pelo soberbo avião A380 da tuindo as ONG, além dos militares,
Airbus da Qatar Airlines que nos le- polícias da Nações Unidas e outros
vou até a Doha (capital do Qatar). voluntários tudo isso dá às ruas um
Mudámos de avião e embarcámos colorido de diversas cores e origens.
com destino a Bali, com paragem téc- Existem poucos hotéis, mas o que
nica em Kuala Lampur. mais sobressai é o Hotel Timor, onde
Aqui estivemos oito dias, onde passámos no bar bastantes horas em
percorremos a ilha que considero longas conversas, no fresco de ar
um destino paradisíaco. condicionado. Restaurantes que
Num futuro artigo escreverei so- existem, estão maioritariamente si-
bre Bali. tuados na orla marítima, onde são
Passados estes dias, embarcámos frequentados quase em exclusivida-
para Dili num voo de duas horas e de pelos cooperantes. Estes restau-
meia na companhia indonésia Mer- rantes são de diversas origens e na-
pati. cionalidades e com sabores variados
Eis-nos finalmente em Timor! com especial incidência os dos asiá-
O sonho de uma vida. Como o ticos. Há alguns portugueses, mas
meu pai esteve aqui nos anos qua- Casa típica de Timor registo um de nome Sagres, onde a
renta do século passado, a minha in- comida é tipicamente portuguesa.
tenção, será percorrer os caminhos A língua portuguesa e o tétum
que efectuou e também sentir o pul- dos Pupilos do Exército”. Como vem são as oficiais, mas a maioria fala in-
sar deste país, mergulhado em tragé- descrito num artigo assinado pelo donésio. Só os mais velhos é que fa-
dias, desde há muitas dezenas de saudoso consócio Álvaro de Olivei- lam português, mas neste momento
anos. Foi com o coração acelerado, ra, onde indica que existe uma arté- as autoridades estão fazendo um es-
que pisei o solo de Dili. O tempo esta- ria nova com este nome por decisão forço sério nesse sentido.
va quente e húmido. No aeroporto da Câmara Municipal de 28 de Mar- Continua a haver uma forte liga-
estava o meu filho e a namorada a ço de 1968, numa zona nobre da ci- ção a Portugal e a título de exemplo,
aguardar-nos. Fomos directamente dade. Se existiu, não sei, pois percor- pequeno, mas com algum significa-
para casa dele, no bonito Bairro Cen- ri a zona construída nos anos sessen- do é que continuam a haver o Spor-
tral que foi construído pelos portu- ta e não a encontrei; o mesmo aconte- ting Clube de Timor e o Benfica de
gueses nos anos sessenta. ceu à maioria das ruas por terem ca- Timor. Estes clubes que vêm de há
Assim, começou a nossa aventura ído ou desaparecido as placas topo- muitos anos, resistiram ao período
por terras timorenses. Nesse dia fo- nímicas. Mas muitas ruas continuam indonésio e continuam um baluarte
mos visitar a sepultura do meu pai com nomes portugueses. Por acaso, no desporto e sempre com o mesmo
no cemitério de Santa Cruz. numa das minhas deambulações nome. O desporto continua como
A partir desse dia, comecei a co- pela cidade, encontrei numa esqui- sempre a aproximar os povos. Fan-
nhecer Dili. O primeiro choque que na, uma placa caída, encostada a tástico. Para concluir direi, que sabo-
tivemos, foi ver, muitas e muitas ca- uma parede, já bastante estragada, reamos um delicioso “bitoque” em
sas queimadas, tanto pelos indoné- com nome da “Rua Colégio Militar”. português, no Sporting Clube de Ti-
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