Page 22 - Boletim APE_218
P. 22

TIMOR LESTE - VISTO POR DENTRO                                         Crónicas




                     oportunidade  de  visitar   sios,  quando  abandonaram  Timor,   Interessante...
                     uma das mais jovens na-    como  pelas  milícias  antes  da  inde-  Contactei com várias pessoas que
                     ções do mundo, permitiu    pendência.  Fomos  informados,  que   viveram naqueles anos em Dili, mas
                     voltar  a  este  local  onde   agora a situação está muito melhor,   ninguém se recorda da dita rua, pois
           Aestive há cerca de sessen-          pois  no  princípio  a  destruição  era   todas as informações sobre esta cida-
           ta anos.                             impressionante.                      de,  foram  destruídas  pelo  incêndio
              São  quinze  mil  quilómetros  de    Por  ironia,  para  quem  quer  ab-  criminoso na Câmara e assim se per-
           distância,  vinte  horas  de  voo,  dois   sorver a passagem dos portugueses   deram  para  sempre  todas  as  infor-
                            dias  de  viagem    por estas terras, vemos que muitas   mações.
                            entre aviões e ae-  construções  que  pertenceram  aos     Será  que  existiu?  A  dúvida  per-
                            roportos, mas va-   serviços governamentais estão quei-  siste...
                            leu a pena.         madas, e os monumentos que simbo-      Voltando à cidade, ela fervilha de
                               Chegamos  ao     lizam  termos  cá  estado  desde  1512   gente, pois a falta de emprego faz que
                            aeroporto de Lis-   continuam  de  pé,  e  bem  tratados,   os  timorenses  andem  de  um  lado
                            boa,  bem  cedo,    como que a dizer: nós estamos agra-  para o outro.
                            pois  o  voo  para   decidos.                              Há muito trânsito a certas horas
                            Paris  era  às  sete   Umas das incumbências que tra-    e, além dos transportes públicos, os
                            horas.              zia  de  Lisboa  era  encontrar  a  “Rua   mini autocarros chamados “microle-
            José Lencastre
                  (19540319)   Viagem  tran-                                         te”  que  são  os  táxi  dos  timorenses.
                            quila. Chegados a                                        Como neste país se encontram coo-
                            Paris   aguarda-                                         perantes de setenta países – consti-
           mos  pelo  soberbo  avião  A380  da                                       tuindo as ONG, além dos militares,
           Airbus da Qatar Airlines que nos le-                                      polícias da Nações Unidas e outros
           vou  até  a  Doha  (capital  do  Qatar).                                  voluntários tudo isso dá às ruas um
           Mudámos  de  avião  e  embarcámos                                         colorido de diversas cores e origens.
           com destino a Bali, com paragem téc-                                        Existem poucos hotéis, mas o que
           nica em Kuala Lampur.                                                     mais sobressai é o Hotel Timor, onde
              Aqui  estivemos  oito  dias,  onde                                     passámos no bar bastantes horas em
           percorremos  a  ilha  que  considero                                      longas  conversas,  no  fresco  de  ar
           um destino paradisíaco.                                                   condicionado.  Restaurantes  que
              Num futuro artigo escreverei so-                                       existem,  estão  maioritariamente  si-
           bre Bali.                                                                 tuados  na  orla  marítima,  onde  são
              Passados estes dias, embarcámos                                        frequentados quase em exclusivida-
           para Dili num voo de duas horas e                                         de  pelos  cooperantes.  Estes  restau-
           meia na companhia indonésia Mer-                                          rantes são de diversas origens e na-
           pati.                                                                     cionalidades e com sabores variados
              Eis-nos finalmente em Timor!                                           com especial incidência os dos asiá-
              O  sonho  de  uma  vida.  Como  o                                      ticos.  Há  alguns  portugueses,  mas
           meu  pai  esteve  aqui  nos  anos  qua-       Casa típica de Timor        registo um de nome Sagres, onde a
           renta do século passado, a minha in-                                      comida é tipicamente portuguesa.
           tenção,  será  percorrer  os  caminhos                                      A  língua  portuguesa  e  o  tétum
           que efectuou e também sentir o pul-  dos Pupilos do Exército”. Como vem   são as oficiais, mas a maioria fala in-
           sar deste país, mergulhado em tragé-  descrito  num  artigo  assinado  pelo   donésio. Só os mais velhos é que fa-
           dias,  desde  há  muitas  dezenas  de   saudoso consócio Álvaro de Olivei-  lam português, mas neste momento
           anos.  Foi  com  o  coração  acelerado,   ra, onde indica que existe uma arté-  as autoridades estão fazendo um es-
           que pisei o solo de Dili. O tempo esta-  ria nova com este nome por decisão   forço sério nesse sentido.
           va  quente  e  húmido.  No  aeroporto   da Câmara Municipal de 28 de Mar-   Continua a haver uma forte liga-
           estava  o  meu  filho  e  a  namorada  a   ço de 1968, numa zona nobre da ci-  ção a Portugal e a título de exemplo,
           aguardar-nos.  Fomos  directamente   dade. Se existiu, não sei, pois percor-  pequeno, mas com algum significa-
           para casa dele, no bonito Bairro Cen-  ri a zona construída nos anos sessen-  do é que continuam a haver o Spor-
           tral que foi construído pelos portu-  ta e não a encontrei; o mesmo aconte-  ting Clube de Timor e o Benfica de
           gueses nos anos sessenta.            ceu à maioria das ruas por terem ca-  Timor. Estes clubes que vêm de há
              Assim, começou a nossa aventura   ído ou desaparecido as placas topo-  muitos  anos,  resistiram  ao  período
           por terras timorenses. Nesse dia fo-  nímicas. Mas muitas ruas continuam   indonésio e continuam um baluarte
           mos visitar a sepultura do meu pai   com nomes portugueses. Por acaso,    no desporto e sempre com o mesmo
           no cemitério de Santa Cruz.          numa  das  minhas  deambulações      nome.  O  desporto  continua  como
              A partir desse dia, comecei a co-  pela  cidade,  encontrei  numa  esqui-  sempre a aproximar os povos. Fan-
           nhecer Dili. O primeiro choque que   na,  uma  placa  caída,  encostada  a   tástico. Para concluir direi, que sabo-
           tivemos, foi ver, muitas e muitas ca-  uma  parede,  já  bastante  estragada,   reamos  um  delicioso  “bitoque”  em
           sas queimadas, tanto pelos indoné-   com nome da “Rua Colégio Militar”.   português, no Sporting Clube de Ti-


 20 | Associação dos Pupilos do Exército                                                  Associação dos Pupilos do Exército | 21



       Revista Pupilos 218.indd   21                                                                             10/11/08   14:18:38
   17   18   19   20   21   22   23   24   25   26   27