Page 15 - Boletim APE_216
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evocações
de perto dos 9 nós o que, naquelas casco.
condições, é muito para um navio Gritou, então, aos dois mari-
daquele porte. A velha Sagres, nheiros que o viessem ajudar e, os
rangendo por todos os lados, mer- três, conseguiram, com muito es-
gulhava nas ondas do mar altero- forço, içar para bordo o aterrori-
so e balançava loucamente para zado homem. No seu rosto, de
ambos os bordos. olhos esbugalhados, estava es-
A dado momento começou a tampado um medo pouco comum.
ouvir-se um barulho, vindo da Mas, de repente, conseguiu perfi-
proa, que se repercutia por todo o lar-se frente ao Imediato, fazer-
navio. Era arrepiante! O que tinha lhe uma atabalhoada continência, Foto 1
acontecido? Uma das velas da e pedir-lhe: “ Sr. Imediato, dá-me
proa tinha-se rasgado e com o licença que me vá embebedar?” O
vento forte batia com uma força Imediato respondeu ao cumpri-
que assustava. mento e deu-lhe a devida autori-
E é aqui que começa a cena dra- zação, sorrindo!
mática que me levou a contar esta Passado algum tempo, na co-
história! berta da tripulação, o Cabo-de-
O Imediato, com a sua coragem manobra, rodeado de amigos que
e energia, não esteve para supor- o abraçavam, e já bem “enfrasca-
tar a situação e, decidido, chamou do” em cerveja e vinho, gritava:
dois marinheiros, cuja fibra ele RENASCI!!... RENASCI!!... Foto 2
conhecia e o Cabo-de-manobra a Durante a madrugada a tem-
quem entregou uma potente lan- pestade amai-
terna, e a quem determinou que, nou.,
com ele, fossem cortar a vela. Era hábito o
Segurando-se o melhor que po- comandante, to-
diam, lá foram os quatro, na noite dos os dias, con-
escura como breu, até à proa do vidar para o al-
navio e, quando chegaram à vela, moço, na sua ca-
começaram a trabalhar com mui- marinha, dois
ta dificuldade porque tinham que cadetes. No dia
fugir das “chicotadas” da forte seguinte, um de-
lona e aguentar o balanço do na- les perguntou- Foto 3 Foto 4 Foto 5
vio. Mas, de repente, ficaram com- lhe: “Senhor. Comandante, se o
pletamente às escuras. Cabo-de-manobra tivesse ido
Aterrorizados, concluíram que mesmo ao mar, que teria feito?” o
o Cabo-de-manobra tinha ido pela Comandante olhou para ele com a
borda fora. Só se ouvia o bater das sua habitual calma e respondeu:
ondas no casco do navio. Todos ti- “Pense, Sr. Cadete, que poderia eu
nham perdido a fala. Com aquele fazer? O navio não manobrava,
temporal certamente que nunca lançar ao mar um escaler? Com
mais seria possível encontrar o aquele mar alteroso, toda a tripu-
amigo. lação ficava lá também. Portanto…
O Imediato correu para a bor- não arriscaria!” Claro, que os dois Foto 6
da e começou a ouvir gritos de so- cadetes, que depois contaram aos
corro. Segurando-se o melhor que restantes, deduziram imediata-
podia, debruçou-se sobre a amura mente que o Cabo seria abando-
e, naquela escuridão, embora lhe nando ao seu destino, que só teria
custasse a acreditar, viu o Cabo- um fim…Mas Deus é grande e não
de-manobra, gritando por socor- quis que isso acontecesse. Tam-
ro, agarrado a um cabo que estava bém S. Pedro não estava prepara-
pendurado fora do navio, o que do para receber o valoroso e sim-
era normal nas amuras daquele ples Cabo-de-manobra.
tipo de navios, e a ser atirado, pe- Todos os cadetes ficaram feli-
las fortes ondas, contra o ferro do zes com isso!!
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