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evocações


         de perto dos 9 nós o que, naquelas   casco.
         condições, é muito para um navio        Gritou,  então,  aos  dois  mari-
         daquele  porte.  A  velha  Sagres,   nheiros que o viessem ajudar e, os
         rangendo por todos os lados, mer-    três, conseguiram, com muito es-
         gulhava nas ondas do mar altero-     forço, içar para bordo o aterrori-
         so  e  balançava  loucamente  para   zado  homem.  No  seu  rosto,  de
         ambos os bordos.                     olhos  esbugalhados,  estava  es-
            A  dado  momento  começou  a      tampado um medo pouco comum.
         ouvir-se  um  barulho,  vindo  da    Mas, de repente, conseguiu perfi-
         proa, que se repercutia por todo o   lar-se  frente  ao  Imediato,  fazer-
         navio. Era arrepiante! O que tinha   lhe uma atabalhoada continência,                   Foto 1
         acontecido?  Uma  das  velas  da     e pedir-lhe: “ Sr. Imediato, dá-me
         proa  tinha-se  rasgado  e  com  o   licença que me vá embebedar?” O
         vento  forte  batia  com  uma  força   Imediato  respondeu  ao  cumpri-
         que assustava.                       mento e deu-lhe a devida autori-
            E é aqui que começa a cena dra-   zação, sorrindo!
         mática que me levou a contar esta       Passado  algum  tempo,  na  co-
         história!                            berta  da  tripulação,  o  Cabo-de-
            O Imediato, com a sua coragem     manobra, rodeado de amigos que
         e energia, não esteve para supor-    o abraçavam, e já bem “enfrasca-
         tar a situação e, decidido, chamou   do”  em  cerveja  e  vinho,  gritava:
         dois  marinheiros,  cuja  fibra  ele   RENASCI!!... RENASCI!!...                        Foto 2
         conhecia  e  o  Cabo-de-manobra  a      Durante  a  madrugada  a  tem-
         quem entregou uma potente lan-       pestade  amai-
         terna, e a quem determinou que,      nou.,
         com ele, fossem cortar a vela.          Era  hábito  o
            Segurando-se o melhor que po-     comandante,  to-
         diam, lá foram os quatro, na noite   dos os dias, con-
         escura  como  breu,  até  à  proa  do   vidar  para  o  al-
         navio e, quando chegaram à vela,     moço, na sua ca-
         começaram a trabalhar com mui-       marinha,    dois
         ta dificuldade porque tinham que     cadetes.  No  dia
         fugir  das  “chicotadas”  da  forte   seguinte, um de-
         lona e aguentar o balanço do na-     les  perguntou-        Foto 3             Foto 4            Foto 5
         vio. Mas, de repente, ficaram com-   lhe:  “Senhor.  Comandante,  se  o
         pletamente às escuras.               Cabo-de-manobra      tivesse   ido
            Aterrorizados, concluíram que     mesmo ao mar, que teria feito?” o
         o Cabo-de-manobra tinha ido pela     Comandante olhou para ele com a
         borda fora. Só se ouvia o bater das   sua  habitual  calma  e  respondeu:
         ondas no casco do navio. Todos ti-   “Pense, Sr. Cadete, que poderia eu
         nham perdido a fala. Com aquele      fazer?  O  navio  não  manobrava,
         temporal  certamente  que  nunca     lançar  ao  mar  um  escaler?  Com
         mais  seria  possível  encontrar  o   aquele mar alteroso, toda a tripu-
         amigo.                               lação ficava lá também. Portanto…
            O Imediato correu para a bor-     não arriscaria!” Claro, que os dois                Foto 6
         da e começou a ouvir gritos de so-   cadetes, que depois contaram aos
         corro. Segurando-se o melhor que     restantes,  deduziram  imediata-
         podia, debruçou-se sobre a amura     mente  que  o  Cabo  seria  abando-
         e, naquela escuridão, embora lhe     nando ao seu destino, que só teria
         custasse  a  acreditar,  viu  o  Cabo-  um fim…Mas Deus é grande e não
         de-manobra,  gritando  por  socor-   quis  que  isso  acontecesse.  Tam-
         ro, agarrado a um cabo que estava    bém S. Pedro não estava prepara-
         pendurado  fora  do  navio,  o  que   do para receber o valoroso e sim-
         era  normal  nas  amuras  daquele    ples Cabo-de-manobra.
         tipo de navios, e a ser atirado, pe-    Todos  os  cadetes  ficaram  feli-
         las fortes ondas, contra o ferro do   zes com isso!!
                                                                                                 Foto 7


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