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PUPILOS DO EXÉRCITO APE
ASSOCIAÇÃO DOS
que a vida me deu o meu primeiro filho, me ia tirar o Cândido. Só olhei O Henrique Campos, tragicamente falecido na manhã do dia 2 de
para este sentimento de outra forma quando alguém me disse que era Janeiro deste ano de 2013, era o “nosso” cientista, inventor, que domi-
precisamente porque a vida me ia tirar o Cândido, que me estava a nava as eletrónicas, entendia aquele conjunto de fios, válvulas e resis-
compensar com o meu primeiro filho. tências, escarrapachadas em esquemas e desenhos.
O Cândido é a minha primeira perda do Pilão. Esta perda represen- O Campos, nas suas práticas aeronáuticas, meu companheiro no
ta uma dor tão grande que agora, mais do que nunca, acredito naquilo Curso de Pilotagem – Mocidade Portuguesa, leva-me a recordar os
que sempre acreditei... que parte do amor e carinho que deveria estar aviões que ele construía e com os quais passava horas no campo de
dedicado a pais e irmãos, foi transferido para os nossos amigos do futebol, manobrando com mestria as maquinetas com asas, que ele
Pilão que estiveram sempre ao nosso lado desde os 10 anos de idade. inventava. No entanto um dia, em plena sala de estudo (antes do jantar),
Não há amizade e cumplicidade como aquela que foi forjada durante tampa da secretária levantada e apoiada na sua cabeça, o Campos
dias, noites e anos de convívio, proximidade e partilha. “entrou em aflição” pois, o seu aviãozinho telecomandado, tem um
Nos últimos dias de vida, o Cândido esteve sempre acompanhado arranque inesperado do motor, com um barulhão típico.
de amigos do Pilão. E nessas alturas ele vibrava com as histórias que O amigo Henrique Campos, até murros deu à maquineta que não
íamos recordando. Acho que o Pilão o “despertava”. Mesmo na véspe- queria parar.
ra foi uma galhofa de duas horas de recordações e gargalhada. A malta ria sem aguentar, o professor assistente ao estudo, espan-
Para mim, o Cândido é do melhor que o Pilão já “produziu”. Pro- tado e a berrar que,…quando se apercebeu da situação, acabou por rir
fundamente bom, alegre, e respeitador dos outros. Quase incapaz de ter também sem se aguentar. O Campos ficou vermelho de tanto corar!!
sentimentos negativos para com alguém. Acho que era, acima de tudo, Amigo “Pneu”, 19550253, engenhocas como “és”, estou certo que a
um homem que ficava feliz com a felicidade dos outros. esta hora, já tens o nosso São Pedro, a voar em duplo comando contigo,
Durante estes dois anos e meio de combate à doença, o Cândido numa geringonça por ti inventada com asas de anjo, cruzando os Céus.
revelou outras características que só se revelam quando os desafios são Para todos os Pilões que nesses Céus estão, para os do nosso
tão grandes ou maiores do que nós. Neste período, revelou uma tre- Curso, que vivem na nossa memória, para ti Campos, um abraço de
menda força e coragem para encarar uma doença terrível. Foram dois saudade sentida.
anos e meio de luta, sacrifícios, dor física e psicológica. E durante este
tempo, o Cândido foi grande como a própria vida. Fernando Cristo. 19550373
Nestes últimos anos, quando ele estava mais em baixo ou desmo-
tivado tinha o hábito de dizer “isto é uma grande treta”. Só isso. Nada
de muitas queixas, embora eu soubesse que esta frase simbolizava João José Madeira da silva (19610112)
muita angústia. E foi novamente esta frase que ele me disse na véspera.
O Cândido Carapinha foi embora no dia 13 de Dezembro de 2012. Faleceu no dia 7 de Fevereiro, no Hospital da Estrela o “pilão” João
Deixou a esposa Anabela e o filho Gonçalo profundamente tristes. Mas, José Madeira da Silva entrado para o Instituto em 1961 e tinha o nú-
também deixou o seu filho de coração preenchido com o tremendo mero 112.
exemplo de força, coragem e humanidade que o Pai foi. E, por tudo Madeira Da Silva, para os inúmeros amigos, nos deixou, após largos
isto, o Gonçalo Carapinha vai ser um grande homem. dias de muito sofrimento, mas que não foram impedimento do avivar de
António Guerreiro (Velho). 19830095 muitos episódios “pilónicos” e mesmo profissionais.
Pessoalmente, e, estou certo que comungais comigo esta opinião,
estou mais pobre, pois perdi um amigo, quase um irmão de mais de
henrique Campos (“pneu”) (19550253) 50 anos de convívio.
Até logo, sócio ...
Evocação Carlos Oliveira
de um Pilão
ausente. Uma
nota triste e OBITUÁRIO *
cruel, dá para
pensar e não Durante os meses de Janeiro a Março tivemos conhecimento do
convém demo- falecimento dos “Pilões” a seguir indicados, dos quais guardamos
rar muito a fa- saudosa memória da sua presença entre nós. Aos seus familiares en-
zê-lo, pois o viamos as nossas sentidas condolências.
tempo de hoje
pode acabar já amanhã. Com isto, tenho consciência de que, a minha Joaquim Alberto da Silva Alpalhão (19520034)
geração está mais próxima da ausência. José Carlos Jorge Vasques (19320022)
João Eduardo Miranda Relvas (19340029)
Nos meus anos de vivência “pilónica”, 1955-1962, tive quatro-
centos e tal amigos, que me perdoem estes, por aqui recordar cinco Eduardo José Miranda Gomes (19370206) faleceu em 17-12-2012
amigos do meu curso: Gilberto Albuquerque (19540083), Luís Rainho Elias Alberto Mourato Pinheiro (19640335) faleceu em Dezembro
de 2012
(19540165), Mário Monteiro (19540336), Henrique Campos (19550253)
e António Fonseca (19550264). Meu pesar por todos pois para nós, * As informações prestadas nesta rubrica “Obituário”, são obtidas por
malta de 1962, eles ausentaram-se fisicamente, ainda “jovens” de mais, via telefónica ou escrita, de familiares ou de ex-alunos, amigos/
para a memória e saudade com que deles ficámos. contemporâneos dos falecidos.
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