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EVOcAÇÕEs (cont.)





              Entretanto o rádio do alferes interrompeu-nos. O ca-  ter-se fartado de gozar rindo às gargalhadas pelo aparato
           pitão, lá de baixo, pedia a nossa ajuda para empurrarmos   que provocáramos. O certo é que não chatearam e regres-
           o unimog que teimava em derrapar e não subir. Lá se foi   sámos a Nambo já de madrugada e feitos num oito. No
           a segurança e novamente aproveitei para fumar um cigar-  dia seguinte dormi até à hora de almoço.
           rinho. Umas duas horas depois o unimog tinha andado uns   Participei em mais duas ou três operações. Em nenhu-
           50  metros  e  não  queria  subir  mais.  Em  seco  seria  uma   ma tive contacto com o inimigo. Esse só me chateou no
           coisa completamente diferente. Com aquela chuvada era   próprio estacionamento. De vez em quando passavam por
           impossível. Entretanto eu e mais alguns tínhamos saltado   ali, davam meia dúzia de tiros e deixavam-nos a fazer a
           para  cima  do  unimog,  para  fazer  peso,  e  acabámos  por   guerra  sozinhos.  Era  tiro  que  dava  gosto  ver.  Os  meus
           saltar fora quando tudo aquilo, mais uma vez, ficou de tal   homens, responsáveis pela segurança das nossas instalações,
           modo inclinado que se poderia voltar a qualquer momen-  estavam proibidos por mim de darem tiros para as bana-
           to. Mais uma vez o peso do obus compensou. Calculem   neiras.  Eu  dizia-lhes  sempre:  –  Quem  der  um  tiro  ou
           como fiquei depois do salto e ter rebolado encosta abaixo   apresenta cadáver ou está lixado comigo.
           agarrado a uma G3 e semi-embrulhado num poncho ca-    Para darem tiros, quando nos deslocávamos para apa-
           muflado já rasgado e molhado por dentro e por fora.   nhar lenha, eu deixava-os atirar aos frutos dos embondei-
              Maldizia a hora em que aquele chato resolveu convidar   ros, mas sempre com peso e medida e devidamente en-
           o capitão da intendência dando-lhe a “honra” de participar   quadrados. Raramente acertavam num.
           numa “secreta” operação. Se aquilo era a guerra deles eu   Os Dembos eram maus e perigosos, mas não pensáva-
           talvez a fizesse melhor. Os artilheiros tiveram que refazer   mos nisso… um dia não fui com eles e foram emboscados.
           as  contas  e  o  obus  deu  os  tiros  uns  cento  e  cinquenta   Portaram-se bem sob o comando de um dos meus furriéis.
           metros fora do sítio estipulado. Fizeram uma barulheira   Um soldado foi ferido em combate mas safou-se tendo
           do  caraças.  Se  acertaram  no  objectivo  nunca  o  soube.   sido evacuado para Luanda de helicóptero. Tenho a foto-
           Estava-me  nas  tintas.  Os  “turras”  nesse  dia  deviam  ter   grafia da camisa ensanguentada estendida no arame far-
           metido férias ou então não se quiseram molhar, mas deviam   pado. Recordações…
















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