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1911 – querer é poder – 2011

                             pupilos  do  exército  –  100  aNos  de  eNsiNo  e  cidadaNia


          ANTóNio PiNTo PereirA
          19760487
                                                             sob  os  auspícios  da  revolução  republicana,  pois,  sendo
                                                             conhecido pelos seus ideais republicanos e alta figura do
          marchar a Direito!                                 Partido Democrático, acabou por ser convidado pelo Al-
                                                             mirante Cândido dos Reis para integrar a comissão orga-

          António Xavier correia Barreto                     nizadora da revolução de 1910.
                                                               Não andará longe da sua atividade política, exclusiva-
                                                             mente devida ao seu reconhecido mérito, a sensibilidade
                                                             desenvolvida a partir da sua maturidade pelos ideais ma-
                                                             çónicos  de  inspiração  francesa,  subjacentes  à  revolução
              o último Boletim caracterizei o decreto normativo   republicana. Nesse domínio, foi iniciado com 40 anos (em
          Nque esteve na origem da criação do atual Instituto   1893) na loja Portugal, do Grande Oriente Lusitano Uni-
          dos Pupilos do Exército,erguido pela mão de um dos ho-  do, onde desempenhou altos cargos, com o nome simbó-
          mens mais influentes e notáveis do regime que em 1910   lico de Mercúrio, tendo culminado a sua ascensão no grau
          acabava  por  depor  os  antigos  domínios  da  Monarquia:   7º  (em  1918).  Após  a  Revolução  passou  a  pertencer  à
          refiro-me a António Xavier Correia Barreto, cujos traços   centenária loja Acácia, também a Oriente de Lisboa, onde
          se deixam consignados do ponto de vista da sua carreira   foi Venerável.
          militar e académica e também política.               Daí que no ano da revolução tenha sido logo nomeado
            Correia Barreto nasceu em Lisboa, no dia 05.02.1853.   Ministro da Guerra do Governo Provisório,em 05.10.1910(ti-
          Quanto à sua carreira militar e académica, com 17 anos   nha então 57 anos de idade), de que foi titular até 1922,
          integrou  voluntariamente  o  Regimento  de  Infantaria     desempenhando pelo meio o cargo de deputado e tendo
          nº  16,  tendo  permanecido  como  soldado  entre  1870  e   mesmo  chegado  a  estar  preso  durante  o  sidonismo  (foi
          1874, altura em que foi promovido a alferes-aluno da Arma   Ministro  da  Guerra  nos  períodos  intercalares  de
          de Artilharia. Com 21 anos prosseguiu os seus estudos na   1910/1911,de 1912/1913 e de em 1922).
          Escola  Politécnica,  tendo-se  especializado  em  Física  e   Nesse tempo demonstrou ser um homem de Estado e
          Química. Por essa altura terá sido aluno de António Au-  com muitos méritos na área da educação e instrução da
          gusto de Aguiar, a quem veio a dedicar o seu manual sobre   reforma das Forças Armadas de 1911. Para isso criou as
          a Química e as Pólvoras, “Elementos de Química Moderna”,   Escolas de Regimento ou de Corpo (escolas primárias em
          em  1874.  Depois  pediu  transferência  para  a  Escola  do   todos os Regimentos), criou meios de instruir recrutas e
          Exército, para concluir o Curso da Arma de Artilharia.  cidadãos, em reserva, e criou o atual Instituto dos Pupilos
            Em 1885, já licenciado e graduado Capitão, procedeu   do Exército, então designado por Instituto Profissional dos
          a um estudo de investigação científica na área militar cujo   Pupilos do Exército de Terra e Mar, vocacionado para o
          resultado foi bastante bem sucedido e fez por isso publicar   ensino  profissional  e  instituído  sob  a  égide  da  reforma
          o seu trabalho sobre pólvora com tanto rigor e qualidade   militar  e  educativa  republicana.  Depois  desse  período,
          que acabou por ficar encarregado de orientar a produção   passou a ocupar o cargo de presidente da Câmara Muni-
          massificada  de  munições  com  pólvora  e  sem  fumo,  que   cipal de Lisboa.
          veio a ser oficialmente adotada a partir de então(a pólvo-  Promovido  posteriormente  a  General,  a  20.06.1914,
          ra sem fumo ficou conhecida por "pólvora Barreto", embo-  candidatou-se à Presidência da República em 1915 e em
          ra  o  termo  não  seja  muito  exato,  pois  deveria  ser  "com   1919, mas nunca foi eleito. A 16.02.1920 foi eleito Sena-
          pouco  fumo";  no  entanto,ainda  tem  hoje  em  dia  enorme   dor  e  Presidente  do  Senado,  honroso  cargo  que  ocupou
          importância em virtude de todas as armas de fogo moder-  até 1926.
          nas continuarem a usar pólvora "sem fumo"). Nomeado   Paralelamente recebeu as mais elevadas condecorações:
          diretor  da  Fábrica  de  Pólvora,  foi  mais  tarde  designado   Grau de Oficial da Real Ordem Militar de São Bento de
          para vogal do Conselho de Administração Militar e para   Aviz, em 1894; Medalha Militar de Prata de Comporta-
          o Depósito Central de Fardamentos. Dos diversos cargos   mento Exemplar, em 1902; Medalha Militar de Prata da
          de topo que ocupou, destaca-se o de Diretor do Arsenal   Classe de Bons Serviços, em 1902; Comendador da Real
          do Exército, o de Comandante da 1ª Divisão do Exército,   Ordem de São Bento de Aviz, em 1905; Louvor atribuído
          o  de  Comandante  da  Guarda  Nacional  Republicana  e,   por D. Carlos, em 1908; Grande Oficial da Ordem Militar
          naturalmente, o de fundador do Instituto dos Pupilos do   de Aviz, em 1919; Medalha Militar de Ouro de Compor-
          Exército.                                          tamento Exemplar, em 1919; Grã-Cruz da Ordem Militar
            Do ponto de vista da carreira política, António Xavier
          Correia Barreto esteve na origem da mudança de regime                    (continua na página seguinte)  


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