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1911 – querer é poder – 2011






            presidente da República, Sidónio Pais, germanófilo decla-
            rado,  que  sempre  se  opusera  à  entrada  de  Portugal  no
            conflito, não subscreveu o pedido de reforço e na Flandres,
            o  exército  português  sofreu  a  mais  pesada  das  derrotas
            face às oito divisões alemãs.
               Em Portugal, as consequências da guerra, [Após a assi-
            natura do “Armistício” – 11 de Novembro1918 – dos 56.493
            Militares, entre os portugueses, mobilizados, para a Flandres,
            há 2.091 mortos, 12.508 feridos e 6.678 prisioneiros. Em
            Moçambique 4.723 mortos, 5.467 desaparecidos e 1.248
            feridos. Em Angola, 810 mortos] a situação económica e
            a agitação social, agravam-se devido ao número de mortos,
            à falta de alimentos, ao racionamento de alguns artigos, à
            repressão das liberdades, ao aumento de poder dos mo-  Forças Portuguesas Embarque África – Angola
            nárquicos e dos reaccionários. Como previra Afonso Cos-
            ta, Portugal esteve presente entre os Aliados, aquando da   A peste, oriunda da Ásia, dos EUA ou da própria Eu-
            assinatura  do  tratado  de  paz. A  posse  das  suas  colónias   ropa (Brest ou Bordéus), a gripe de 1918, designada entre
            africanas, foi-lhe reconhecida e, a Alemanha comprometeu-  nós por «pneumónica», resultou da acção de uma estirpe
            se a pagar-nos uma indemnização de guerra (o que não   de Mixovírus A, altamente patogénica, a qual, associada a
            cumpriu). A Sociedade das Nações (Tratado de Versalhes)   gravíssimas complicações respiratórias bacterianas secun-
            [Com o objectivo de criar uma nova ordem mundial, as-  dárias, provocou cerca de 20 milhões de mortos em todo
            sente na diplomacia aberta, na segurança colectiva e no   o Mundo, só em Portugal Continental, faria 60.474 mortos.
            desarmamento], organismo formado a seguir à guerra, tem   (Dados estatísticos do Movimento Fisiológico da População
            Portugal como um dos membros fundadores e, a cuja as-  Portuguesa de 1918).
            sembleia Afonso  Costa  chegou  a  presidir. A “Delegação   A  guerra  provocou  e  acelerou  uma  certa  perda  de
            Portuguesa” à Conferência de Paz, (5Dez1918) é presidi-  sustentação sócio-económica no País e, acelerou, como em
            da por Egas Moniz e conta com Freire d´Andrade, Espíri-  toda a Europa o processo de crise do sistema liberal, de
            to Santo Lucas e Santos Viegas.                    que a República foi, em Portugal, a última etapa.
               “Portugal  perdeu  a  Guerra?  Sim  e  não.  Não  porque   As Aparições, na Cova da Iria –13Mai – 30out1917-
            combateu ao lado dos Aliados e desfilou sob o Arco do   Sob a égide do “Culto Mariano “ iria reeditar as peregri-
            Triunfo. Sim porque não obteve, no tratado de paz, o seu   nações  à  Senhora  da  Rocha,  conforme  aconteceram  em
            grande objectivo político, aquele que, em última instância   1822.
            o tinha levado à guerra – sobreviver ao lado dos ingleses,   “Os nossos positivistas republicanos, não tinham con-
            contra o militarismo alemão. Foi uma vitória com sabor a   seguido  que  o  cívico  substituísse  o  religioso,  que  Paris
            derrota”  [segundo  a  “manchete”  do  Jornal  A  Manhã,  de   fosse mais que Roma, que o altruísmo vencesse a caridade
            9Mai1919.Severiano Teixeira, Historiador e Prof. UNL – “25   e que o Grande Oriente Lusitano superasse a Companhia
            Olhares sobre a I República”. In “Publico”].       de Jesus (na senda de Comte), nem sequer Sidónio con-
                No após da guerra, a realidade é que a República não   seguiu a necessária «ditadura revolucionária» para que a
            conseguiu concretizar o seu projecto modernizador, bem   ordem  nos  permitisse  a  transição  para  o  progresso.”Cada
            como a consolidação da política interna e a legitimação   um do portugueses, ficou com o seu “pensar”, com a sua
            nacional do regime, abrindo assim, a “porta” à deriva au-  “Fé”.
            toritária  que,  em  boa  parte,  nasce  dos  escombros  desta
            Guerra.
                                                               A «república Nova» de Sidónio

            Fome, peste e guerra, aparições de Fátima e Sidónio…  A  8  de  Dezembro  de  1917,  contra  a  demagogia  e  a
                                                               desordem, contra a participação na Guerra, o luto nacional
               A fome, grassava por todo o País, face à situação finan-  face guerra e à peste, o estado sócio-económico, deplorá-
            ceira do Estado, à escassez de recursos era óbvia, conside-  vel, que se vivia e, o demasiado poder dos Democráticos,
            rando o esforço de guerra desenvolvido e da não produti-  Sidónio Pais que fora ministro em 1911 e embaixador em
            vidade industrial e agrícola.                      Berlim de 1912 a 1916, desencadeou um golpe de estado,



       40  Boletim da associação dos PuPilos do exército
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