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Curioso era vê-lo tomar o seu banho diário. Num pe-
queno recipiente de barro, começava por saltitar molhan-
do o peito para, a dado momento, mergulhar todo o corpo
no líquido, onde permanecia largos minutos. Quando dava
o banho por terminado, não conseguia voar tal o estado
em que pusera as asas. Então, com muito cuidado, iam-se-
-lhe enxugando as penas, aos poucos, até começar com
pequenos voos.
Na altura, um amigo nosso cedia-nos amiúde um pe-
queno apartamento no Algarve e, quando nos deslocávamos,
levávamo-lo sempre connosco, no carro, absolutamente
livre. Apenas havia o cuidado de manter os vidros fechados
o que, no verão, era por vezes, difícil de suportar. A sua
posição predilecta era encavalitado no meu ombro o que
originava que muitos outros carros fossem longo tempo
atrás de nós a apreciar a insólita cena.
Um dia, saímos para tratar de vários assuntos e, como
era hábito, ficou com a casa toda por sua conta. O gato,
esse, embora merecesse a nossa confiança, mas para nosso
completo descanso, ficou encerrado numa outra depen-
dência, não fosse, num mau momento, esquecer-se da
amizade recente.
De repente, o tempo que já ameaçava borrasca, acen-
tuou a sua violência com rajadas quase ciclónicas, o que
nos obrigou a regressar um pouco mais cedo do que pre-
tendíamos e, logo que abrimos a porta, não o sentimos
acorrer ao chamamento habitual. Alarmados, corremos
todas as dependências em sua busca até que reparámos
que, por acção do vento forte, se tinha aberto uma peque-
na clarabóia por cima da janela da cozinha. Dado o seu
receio em voar para o exterior, deduzimos que a sua curio-
sidade o tenha levado até ao rebordo da clarabóia e que
os ventos ciclónicos o tenham arrastado para longe.
Longo tempo percorri, debaixo de chuva, todos os
arredores emitindo o assobio característico. Tudo em vão.
Nos dias seguintes, ainda me chegava com cuidado a
todos os pardais que via poisados em qualquer lugar, mas
eles logo fugiam à minha aproximação.
Daquele “filho” adoptivo que connosco conviveu du-
rante quase dois anos, ficou uma grande saudade.
Esta é uma história real, bem simples.
Afinal, uma pequena história de amor.
Boletim da associação dos PuPilos do exército 17