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cultura & conhecimento
“O papel ingrato da Astronomia”
Alexandre M. Correia
esde que o ser humano começou a libertar-se das ta- em causa todas as crenças que tinham sido adquiridas até
refas de subsistência e reservou um pouco de tempo então sobre o homem e o Universo, dando origem à primeira
Dpara pensar, que se interroga sobre a sua natureza e revolução científica. Pouco tempo depois, Newton elaborava
de tudo aquilo que o rodeia. Foi movido por esta curiosidade a sua lei da atracção universal, explicando a razão pela qual a
inata que ao longo de milénios foi construindo aquilo a que Lua gira em torno do nosso planeta e este em torno do Sol.
hoje orgulhosamente chamamos civilização. O método científico ganhou consistência e as descobertas
Na ânsia de querer compreender, o homem cedo se aper- científicas sucederam-se em catadupa até aos nossos dias.
cebeu que havia alguns fenómenos na Natureza relativamen- Actualmente, a astronomia associada com a física – a
te fáceis de prever: todos os dias o astrofísica – continua a ampliar as
Sol nasce, todos os meses há Lua «a astronomia associada fronteiras do conhecimento. Já no
cheia, todos os anos há quatro es- século XX, foi através de fenómenos
tações, os planetas movem-se com com a física - a astrofísica - astronómicos que se comprovou a
uma certa periodicidade. O mundo teoria da relatividade geral de Eins-
terrestre parecia ser bastante caóti- continua a ampliar as tein. Entre outras coisas, aprende-
co, mas tal não acontecia no reino fronteiras do conhecimento» mos ainda que o núcleo das estrelas
dos céus, onde imperava a ordem. é um reactor nuclear poderosíssimo
Assim surgiu a astronomia. Porém, e descobrimos os pulsares, estrelas
tamanha perfeição só podia ser divina e como tal, ter influ- com propriedades quânticas. Porém, numa sociedade onde a
ência sobre as actividades humanas. Tornou-se fundamental produtividade se tornou no critério número um de excelência,
compreender os sinais do céu, para poder fazer previsões a astronomia tem dificuldades em sobreviver. Apesar de mui-
sobre o que se iria passar na Terra. Desta forma, os primeiros tas das novas tecno-
astrónomos eram fundamentalmente astrólogos, e só depois logias de imagem
cientistas. terem sido inicial-
Já no século XVII, foi com uma luneta que Galileu conse- mente desenvolvi-
gui demonstrar que a Lua tinha montanhas, que Júpiter tinha das para telescópios
luas e que Vénus tinha fases. Estas observações vieram pôr (lentes, CCDs, etc),
é difícil a este ramo
da ciência – cujo
objectivo primordial
é a compreensão
do Universo – criar
riqueza a curto ou
mesmo médio pra-
zo. A negação da
utilidade da astrono-
mia é hoje frequen-
te, e tanto mais sur-
preendente quando
parte de muitos físi- Newton
cos. É legítimo que
o cidadão comum se preocupe mais com a investigação com
o cancro do que com a descoberta de novos planetas ou a
expansão do Universo. Mas que um físico despreze a astro-
nomia, sejam qual forem as razões, é de lamentar.
É curioso pensar que, apesar de todos os nossos avanços
tecnológicos, as perguntas fundamentais que o homem se
colocou ao longo dos séculos – o que somos, como sur-
gimos, que Universo é este que habitamos, etc. – tenham
permanecido sem resposta. Muitos dirão que é por serem
perguntas metafísicas, do âmbito da filosofia e não da ciência.
No entanto, são elas que atraem todos os anos milhares de
jovens em todo o mundo para as ciências...
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