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Escritas
JOgOS FLORAIS DA ACADEmIA DE LETRAS
DE S. JOÃO DA BOA VISTA (BRASIL)
27 de setembro de 2009 - 3º. Prémio de poesia livre
rElAçõEs
Meu filho... não tenho tempo... Meu filho... não tenho tempo...
Gostaria de estar contigo, Tens de perceber,
Tu sabes e eu também sei, Com a agenda carregada,
Mas combinei Eu tenho mais que fazer
Com um amigo Que aturar os outros pais.
Irmos hoje ao cinema. E para além de tudo o mais,
Fica, então, para depois. Aquilo dá sempre em nada.
António Barroso
(19460120) Pai... Pai...
E no próximo fim de semana? Dizem-me que, para crescer,
Pai... Pensei que talvez... Eu terei de frequentar
Conta-me uma simples história Pudéssemos ficar os dois... Toda a discoteca ou bar
Para eu adormecer... A conversar... jogar xadrez... E, para esquecer,
Olha, uma daquelas Não ter medo de beber.
Tão lindas, tão belas, Meu filho...não tenho tempo... Será verdade, meu pai?
Que eu guardarei na memória
Até a manhã nascer... Estes dias são de praia Meu filho... não tenho tempo...
Promete, pai... promete!... E temos de aproveitar
Que o tempo já o consente. Pensa no que é importante,
Meu filho... não tenho tempo... Preciso correr, nadar, Tu já sabes discernir,
Antes que a chuva caia Se queres ir, filho, vai,
Tenho um trabalho na net E o stress aumente. Não precisas de pedir,
Que requer muita atenção, Mas não percas o sentido,
E eu bem preciso disso Pai... E como nada garante
Para que, no meu serviço, Sabes, no próximo feriado, Que o teu grupo não se atrasa,
Possa ter uma promoção. Se não estiveres cansado, Melhor é estares prevenido,
Queria a tua opinião Levas a chave de casa.
Pai... Sobre uma certa questão
E aquele brinquedo Que me traz angustiado Meu pai... meu pai...
Que te pedi, muito a medo,
Com receio de recusares?... Meu filho... não tenho tempo... Filho... meu filho...
Meu filho...não tenho tempo... É mesmo nesse dia Sei que precisas de mim
Que eu tenho uma conferência E eu vim logo que pude...
Quanto mais tu me atrasares Marcada com antecedência, Mas não me olhes assim,
Mais me esqueço de to dar. E, na verdade, O teu olhar desilude.
Tu que tens o tempo inteiro... Não imaginava, não sabia Precisas de um amigo
...Toma lá este dinheiro Que havia na tua vida, Nesta hora de desgraça,
E vai, com alguém, comprar. Uma situação desconhecida, Eu não sei bem que se passa,
Com tal ansiedade. Mas mesmo não tendo tempo,
Pai... Tu podes contar comigo
Preciso muito de ti, Pai... Sem censuras,
Um instante, um só bocado, Não sei se vais à reunião Cara a cara,
Para me ensinares, Dos professores, no liceu. Sem alarde.
Ou explicares Os outros pais sempre vão
Aquilo que eu não percebi E nunca dizem que não... Pai... pára... pára...
Dum novo tema. Sozinho fico só eu!...
Oh!... Meu pai...tu nunca tens tempo...
E agora... é já bem tarde!...
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