Page 13 - Anexo do Boletim 273 da APE
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ABRIL A JUNHO DE 2024
Os antecedentes da reposição da Liberdade em Portugal não se circunscrevem à Guerra Colonial e ao desgaste que ela provocou no ânimo e vontade dos capitães; tem de se re- cuar no tempo para perceber o fascismo nacional e como ele esteve enquadrado no contexto internacional e peninsular, como ele foi combatido por resistentes de vários matizes políticos e como soube resistir até ao momento em que um dos seus esteios mais importantes pensou em dizer BASTA.
Só assim se pode compreender a luta que alguns dos an􏰀gos alunos do Ins􏰀tuto dos Pupilos do Exército, ao longo de várias dezenas de anos, travaram contra o fascismo o qual estava em perfeita oposição ao ideal que, em 1911, levou à criação deste Estabelecimento de Ensi‐ no tutelado pelos Exércitos de Terra e Mar. E não será despiciendo recordar o verso do hino desta Casa quando diz: «Filhos de Portugal saudemos a Alvorada», pois, para as primeiras gerações de discentes, a República, democrá􏰀ca e liberal, era a linha de par􏰀da para cami‐ nhos por onde jamais passariam se a Monarquia liberal se reimplantasse. O Ins􏰀tuto dos Pupilos do Exército teria na sua matriz gestacional ou no seu ADN, se preferirmos, a insub‐ missão a valores que fugissem da República, da Democracia e da Liberdade.
Ora, explicar a ditadura, primeiro militar e, depois, financeira, social e polí􏰀ca não pode nem deve passar pela alusão simplista às lutas par􏰀dárias havidas na 1.a República, em especial depois do fim da Grande Guerra; isso foi o argumento de propaganda que levou os tenentes de 1926 a porem de pé uma revolta militar, em Braga, à frente da qual colocaram o general Gomes da Costa. Não! Temos de recuar ao tempo do desenrolar da Grande Guerra para per‐ ceber a conjuntura europeia e internacional, pois só aí têm raízes as ditaduras nascidas, em especial no Velho Con􏰀nente.
A 1.a Guerra Mundial desar􏰀culou por completo todo o tecido industrial europeu ao transfor‐ má-lo em indústria de guerra. Todavia, foi mais longe, pois, a guerra submarina, levada a efei‐ to pela Alemanha, reduziu a muito pouco as frotas comerciais da Europa, afectando o regular curso das trocas mercan􏰀s marí􏰀mas no mundo.
Depois do Armis􏰁cio e da Conferência da Paz, fortemente conduzidos pelo Presidente Wilson, dos EUA, que veio à Europa, no encalço dos muitos soldados americanos que salvaram os Ali‐ ados, a inflação tornou-se galopante, a fome grassava em todas as cidades por onde mendiga‐ vam os mu􏰀lados e todos quantos não 􏰀nham trabalho por falta de emprego. O panorama era devastador e foi logo na Itália, em 1922, que Benito Mussolini, depois de ter criado o Par‐ 􏰀do Fascista, lançou as bases para a sucessão de ditaduras e acontecimentos revolucionários, tais como a independência de parte da Irlanda, a ditadura espanhola do general Primo de Ri‐ vera e, logo de seguida, a ditadura militar portuguesa. Contudo, nos EUA vivia-se, na década de 1920, uma extraordinária euforia económica e despesista, que acabou aquando, do crash da bolsa de Nova Iorque, em 1929.
Anexo do Boletim 273 Ano 78
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