Page 14 - Anexo do Boletim 273 da APE
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Na península ibérica, mais precisamente na Catalunha, o general Primo de Rivera, no dia 13 de Setembro de 1923, levou a cabo um golpe militar que visava pôr ordem nas ruas, na acvi‐ dade económica e aplacar as greves devidas à fome por causa da inflação imparável. E, contu‐ do, a Espanha nha-se mando neutral durante a Grande Guerra, mas isso não a isentou da miséria e da inflação galopante.
A situação em Portugal não era diferente, razão pela qual se sucediam os governos uns atrás dos outros. Procurava-se uma solução dentro do país que só dependia do exterior e da desor‐ dem que o conflito bélico provocara. Parecia que só uma ditadura, e teria de ser militar, seria capaz de gerar o equilíbrio e a ordem. Puro engano, cuja proveniência vinha do contacto com o exterior, a Espanha e a Itália, porque os militares não estavam mais habilitados do que os civis para encontrar soluções. A única solução, realmente, eficaz era a da mordaça, da prisão e a do medo, pois, só desse modo se deixariam de ouvir os brados da miséria e do desespero. Era como apagar a luz vermelha que avisa perigo e, assim, fazê-lo desaparecer.
Á ditadura militar que, supostamente, exisu entre 1926 e 1928, sucedeu-se a ditadura finan‐ ceira conduzida pela mão férrea e gélida de um ango seminarista, conservador, talvez mo‐ nárquico, mas, de certeza com uma consciência empedernida e incapaz de senr arrependi‐ mento, compaixão ou qualquer das virtudes que a Igreja Católica preconiza. A solução que Salazar encontrou para achar acalmia social foi dar liberdade à polícia políca, à polícia cívica, à GNR para prenderem a eito todos os descontentes. Depois, acrescentou a censura prévia a tudo o que se publicava e se dizia e mais uma moral social inventada por ele e pelos seus apa‐ niguados conservadores. Foi pior do que qualquer troika que já tenha passado por nós. Fazia- se a apologia da pobreza junto do povo, pois, sendo pobre não se nha a caterva de proble‐ mas que resultam da administração da riqueza: vive-se somente para trabalhar. Naturalmente, um tal regime implicou a existência de uma resistência políca que, de alguma forma, o levasse à queda e muito cedo começaram a esboçar-se as tentavas que foram fa‐ lhando umas atrás das outras. Começaram logo em 1927, 1928, 1931, 1932, 1934, 1935, 1938, 1959 e 1961.
Na verdade, nunca deixou de haver oposição à ditadura, contudo, ela foi-se alterando qualita‐ vamente. Com efeito, embora já exissse, em 1926, o Pardo Comunista Português (PCP) era incipiente na luta e na organização, pois, os de maior grandeza, eram os anarcossindicalis‐ tas e os democratas liberais vindos da 1.a República. Este conjunto, numa análise sintéca, perdurou até ao final da 2.a Guerra Mundial, mas, na década de 1940, os comunistas já se apresentavam como única força anfascista com organização combava, ainda que não arma‐ da, e haviam desaparecido os anarcossindicalistas com a vitória de Franco na guerra civil de Espanha.
A oposição anfascista passou a ter momentos de manifestação controlada quando se fize‐ ram eleições para o cargo de Presidente da República, em 1949, 1951 e 1958, já que o regime procurava, durante umas duas semanas de campanha eleitoral, dar a aparência de democra‐ ta. Foi, exactamente, no ano de 1958, quando um ango e aparentemente leal servidor do regime (contudo ancomunista primário) se candidatou à Presidência ‒ o general Humberto Delgado ‒ que se iniciou uma nova fase de oposição ao fascismo nacional.