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OS NOSSOS PROFISSIONAIS
42 BOLETIM APE | OUT/DEZ 2023
David Pascoal
Rosado
19850253
Fui admitido no - então designado - Instituto Militar dos
Pupilos do Exército (IMPE) no ano letivo 1985/86. Tinha
10 anos de idade. Ao contrário de vários camaradas das
duas turmas que entraram nesse mesmo momento, eu não
vinha de muito longe. Bem pelo contrário. Em pleno Monsanto
e com um trânsito infinitamente menos caótico que aquele a
que já nos habituámos na atualidade na região de Lisboa, a
verdade é que da 1.ª Secção do IMPE à casa dos meus pais, em
Linda-a-Velha, poucos minutos eram de viagem.
Mas se a viagem que eu fazia às quartas-feiras e aos fins
de semana para casa era rápida, o mesmo não acontecia
com o prolongar das infindáveis horas em regime de
internato. O quotidiano de um aluno do 1.º ano (hoje
designado de 5.º ano) do IMPE, naquele tempo, não era
fácil. As paredes de um internato, qualquer que ele seja,
ocultam sempre muitas peripécias que lá dentro acontecem.
Descanso (ou a falta dele), brincadeiras (ou a falta delas)
e trabalho (estudo, treino físico e instrução militar) tudo
acontecia num mesmo lugar: o IMPE. Aliás, não foi por
acaso que o sociólogo Erving Goffman cunharia este tipo
de organizações e outras similares (no isolacionismo da
comunidade exterior por longos tempos, na vida fechada
e formalmente administrada, além da falta de privacidade,
etc.) como “instituições totais”.
Ali, no IMPE, todos se faziam Homens num curto
espaço de tempo. Ou, pelo menos, era o que pensávamos
naquela altura e era, de facto, o que sentíamos. Contudo, o
tempo, não muito mais tarde, trataria de ajustar as nossas
expectativas à realidade. Em todo o caso, os dias longos e
as noites longas, com o passar consecutivo dos anos letivos
deram rapidamente lugar a dias e a noites cada vez mais
curtos. E, num ápice, o “Pilão” tinha acabado para mim,
com o 12.º ano feito. Guardaram-se Amigos, guardaram-se
valores para a vida e guardou-se até a prática desportiva
do Taekwondo, que foi lá que a iniciei e hoje, três décadas
passadas, continuo a praticá-la por carolice e sou Cinto
Negro 6.º Dan.
Depois, ingressei na Academia Militar (AM) e enveredei
pelo Exército, concluindo a Licenciatura em Ciências
Militares na especialidade de Administração Militar, logo no
ano de 1998. Para quem vinha do IMPE, a AM não consistia
um desafio particularmente difícil. Depois de oito anos
no IMPE, a verdade é que os quatro anos de internato na
AM, adicionados de um ano de tirocínio, apenas tinham
como maior ou menor exigência, aquilo que as – vulgo –
disciplinas do plano de estudos requeriam. É evidente que
a instrução militar e a componente física não faziam temer
um Cadete que viesse do IMPE, ou do Colégio Militar, ou do
Instituto de Odivelas.
O IMPE foi o começo de
tudo, mas não foi tudo...