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NOTÍCIAS DO IPE
40 BOLETIM APE | OUT/DEZ 2023
certo para fazer uma determinada soldadura,
a reconhecer a dureza de determinadas peças
apenas pelo toque e pelo som que libertam...
Tinha o chamado Know how, juntei o saber
à sabedoria, apliquei-o com discernimento e
compreensão, peguei na máquina de soldar e
em meia dúzia de peças velhas ou em fim de
vida e a obra começou a nascer.
Foi este o caminho que percorri até chegar
aqui, e é assim que surge este hobby, um hobby
cada vez mais apreciado e reconhecido, um
hobby que foi evoluindo e chegou pelas mãos
do Exército Português, a Viana do Castelo.
Costumo dizer que passados tantos anos
voltei ao exército.
Como maior parte dos homens da minha
idade (53 anos), cumpri o serviço militar
obrigatório que não me fez mal nenhum, muito
pelo contrário, confesso. Não querendo ser controverso
e entenda-se que esta é uma opinião meramente pessoal,
acho que o serviço militar deveria continuar a ser obrigatório
por um pequeno período de tempo.
Como todos sabem sou professor nos Pupilos do
Exército, uma escola de matriz militar de referência nacional.
Além de oferecer uma educação académica convencional
de excelência, mais precisamente, ensino profissional, nos
Pupilos do Exército os alunos adquirem valores e práticas em
ambiente militar, disciplina, treino físico, espírito de liderança
e ficam mais despertos para as suas responsabilidades
cívicas.
Sendo uma escola virada para o ensino profissional, ela
desempenha um papel crucial na preparação dos alunos para
o mercado de trabalho. Ela oferece práticas e conhecimentos
específicos, e desenvolve nos alunos as habilidades
necessárias para diversas profissões, contribuindo
diretamente para a empregabilidade e o desenvolvimento
económico do país.
Ao saírem do IPE com o 12º ano de escolaridade, os alunos
ficam preparados para o mercado de trabalho e desafios do
mundo real em diversas áreas de atuação.
Quer queiramos, quer não, a escassez de mão de obra
especializada é uma realidade com que nos deparamos cada
vez mais.
Sendo professor no IPE e como não seria de esperar
outra coisa, levei este Know how para dentro da sala de aula
e também o partilho e faço com os meus alunos.
Mas falando nesta obra, nesta escultura, na escultura
que neste momento está exposta na Praça do Eixo Atlântico
em Viana do Castelo...
Construir esta escultura, além do prazer que deu, teve
para mim vários significados.
– Primeiro, por ter sido eu o escolhido, alguém “sem
nome” no mundo da arte e sem referências públicas
conhecidas.
Uma obra de arte é uma expressão criativa que
transcende sua forma física. Ela, procura transmitir emoções,
ideias ou conceitos através de elementos visuais, sonoros
ou táteis. Pode ser uma pintura, música, literatura, ou uma
escultura com esta que construi.
– Segundo, por fazê-la com peças carregadas de história,
peças que equipavam viaturas ao serviço do exército
aquando do 25 de Abril de 1974. Só por curiosidade, nela
está contida uma prensa de embraiagem de a UMM Cournil,
carretos da caixa de velocidades duma Chaimite V-600,
*Professor no Instituto dos Pupilos do Exército onde leciona várias
disciplinas de carater técnico e tecnológico.
Há 40 anos que trabalha com metais ferrosos no âmbito da serralharia
artística e industrial. Já expôs alguns trabalhos no Museu Militar, Museu
de Marinha e Claustros do Instituto dos Pupilos do Exército, no Campus da
Justiça em Lisboa e nos Nirvana Estúdios em Oeiras.
Possui Bacharelato em Engenharia Eletrotécnica, Licenciatura em Ensino
de Educação Tecnológica e Pós-Graduação em Ensino de Educação Visual
e Tecnológica – ESE Setúbal.
porcas dos taipais de uma Berliet Tramagal, entre outras….
– Terceiro, porque fazer um Coração de Viana para Viana
do Castelo, foi uma ousadia e um privilégio.
Considerando o contexto e as consequências, tive
um cuidado extremo em usar os meus conhecimentos de
maneira prudente, procurando soluções equilibradas e
éticas. Não queria de forma alguma melindrar ou afrontar os
excelentes escultores e artesãos da região que elaboram os
mais belos e variados corações que bem conhecemos.
– Quarto, porque no período compreendido entre o
convite e a inauguração da escultura, tive a oportunidade de
conhecer pessoas de excelência, quer humanamente, quer
a nível profissional e operacional. Podia referir aqui algumas
delas a título de agradecimento, mas não posso correr o risco
de esquecer alguma e como tal, não o vou fazer. No entanto,
aqui fica o meu profundo reconhecimento e agradecimento
a todas elas, na pessoa do Exmo. Sr. Chefe do Estado Maior
do Exército, General Mendes Ferrão.
Para terminar, não podia deixar de partilhar convosco o
sentimento de orgulho, alegria e gratidão que senti no dia
a seguir à inauguração da escultura, bem como agradecer
a todos os pedidos recebidos para fazer umas réplicas em
tamanho mais reduzido da mesma.
Passei diversas vezes na praça onde está perpetuada a
passagem do exército por Viana, e em todas elas, algumas
debaixo de chuva, vi que estavam pessoas a fotografar e a
ser fotografadas junto da escultura.
Terminadas as comemorações do Dia do Exército, há uma
coisa que nos ligará a todos, eu próprio, o Exército Português
e os Pupilos do Exército, para sempre a Viana do Castelo,
este Coração de Viana.
Nota de Editor:
Poderão ver mais obras do autor, acedendo ao
QR Code ou à pagina da APE www.ape.pt.
Fotos Pedro Charavilha Baldo
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